Dizem que não há nada, absolutamente nada, que funcione melhor no Brasil do que as escolas de samba do carnaval carioca, agora também seguidas pelas escolas de samba paulistas. Saem no horário marcado, ninguém tem preguiça, tudo evolui com harmonia, todos compartilham de elegância, beleza e riqueza, o rítmo não atravessa nem diminui, todo mundo trabalha duro, enfim, tudo é tão perfeito e acaba em apoteose.
Esse fenômeno, num país tropical como o Brasil, onde tudo convida a relaxar, é fruto principalmente de ações de liderança verdadeira e autêntica, que os dirigentes das escolas exercem.
Primeiro, há muito aprendizado, treinamento e desenvolvimento do grupo. Os ensaios começam muito antes do Carnaval e são levados a sério, até pelas crianças que estão começando no samba. Ninguém falta às aulas e de ano para ano há necessidade de aperfeiçoamento, sempre na busca de melhorias para superar as concorrentes. Nunca ninguém se dá por satisfeito ou realizado. Nem as velhas baianas.A disputa ferrenha está sempre reclamando por orignalidade e inovação.
Todo mundo recebe as instruções detalhadas e a letra completa do samba-enredo com antecedência. Não há improvisação, que desfile de escola de samba é coisa séria e a competição, acirrada.
Sempre se compara com o melhor. Os níveis de comparação da nossa escola são sempre com a escola campeã do ano anterior. O benchmark funciona ali como em nenhum outro lugar.
Depois, os líderes, indicados por eleição ou consenso, em todos os níveis da escola, atuam de forma a que todos compartilhem o conhecimento do enredo, a perfeição do samba, a harmonia das alas, a maior beleza da fantasia, sempre objeto de discussões, e até as curvas da destaque que vai sambar no alto do carro alegórico. Todo mundo está automotivado e cabe aos líderes, na hora do desfile, agirem apenas como facilitadores, conduzindo as alas, os carros alegóricos, os destaques, sambistas e mestres-salas e porta-bandeiras, que deslizam no asfalto como se não fizessem mais nada da vida a não ser sambar com maestria e harmonia.
Pequenas falhas de liderança levam ao fracasso. Foi um comandante de ala que falhou bem diante do jurado, foi um membro da bateria que bebeu um pouco a mais e atravessou o rítmo do “surdão”, foi o mestre-sala que deixou de envolver a porta-bandeira com um passo mais longo, porque...
Assim a nossa associação de bairro, nossa empresa, nosso empreendimento, nossos governos, enfim, todas as atividades humanas com as quais nos envolvemos deslizassem pelo sambódromo da vida, contando com lideranças democráticas, comprometidas, eficientes e eficazes, como as que conduzem as escolas de samba brasileiras no carnaval.
Estaríamos sempre ganhando todos os campeonatos dos quais participamos na movimentada arena do Século XXI, num mundo globalizado e tremendamente competitivo. Um carnaval prá valer, com concorrentes capazes, enfrentando-nos e exigindo o máximo de nós, em aprendizado, treinamento, conhecimento e harmonia interior.
Precisa-se de Líderes! Eles serão cada vez mais preciosos e importantes no Brasil e no mundo, principalmente no novo milênio que ora se inicia.
Mário Galvão é jornalista e profissional de RP
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