Ele era amigo da Bim Latem*, compadre do Val*, e tinha muito poder. Era uma espécie de demiurgo. Conhecia gerentes, proprietários, e exercia o seu mando com o uso do dinheiro.
Não tinha escrúpulos e não hesitava em, para confirmar sua superioridade, mandar humilhar os adversários colocando-os em situações ridículas exdrúxulas e desacreditados.
Tinha um senso todo especial de fazer sentir o que considerava a justiça. Assim, quando contrariado, contraditado, ou magoado, não defrontava nunca o dissidente. Pelo contrário, procurava enreda-lo intrigando o maior número de pessoas possível que de preferência conhecia o desafeto.
Era conhecedor, praticante e mestre do "Role Playing Game". O RPG é aquele jogo em que os participantes se tornam personagens dos contos e crõnicas fantasiosas daqueles a quem se opõem. O objetivo é fazer com que aconteçam, pela sugestão, os fatos narrados nas histórias.
Mas era hábil também nos truques potencialmente danosos aos seus antagonistas. Algumas pessoas chegavam a duvidar da sua sanidade mental quando o ouviam dizer "bom dia" depois das quatro da tarde, ou quando afirmava, com toda a convicção, que polia seus carros usando lixas.
E nos grupos que se formavam para ouvi-lo, muitos se informavam sobre as técnicas especiais que usava para internar os rivais em clínicas psiquiátricas espíritas, donde adquiriam estigmas eternos, facilmente evocáveis e que viabilizavam manipulações constringentes.
Em uma certa ocasião, para um grupo de ouvintes extasiados, contou como explodiu o automóvel de um sujeito estranho que apareceu no bairro e que não gostava de jeito nenhum da música sertaneja.
Ele dizia:
- Eu percebí que lá na minha fazenda, quando o sol estava a pino, os cãezinhos gostavam de dormitar debaixo do trator ou dos caminhões. Então aproveitei a tendência e passei a colocar a água e a comida também naquele local. Os cães se habituaram tanto com aquela situação que era muito difícil vê-los descansando em áreas diversas. Daí, quando surgiu aquele maçante no bairro, e o pessoal já não sabia mais o que fazer para que ele se mudasse, tive a idéia feliz de fazer o seu carro voar pelos ares numa explosão sem precedentes. Fiz com que um dos cachorros andasse por mais de duas horas numa rodovia e quando ele já estava exausto, coloquei-o no meu carro e levando-o para defronte a casa do desclassificado, o soltei. O cachorro, acostumado, correu para debaixo do primeiro veículo estacionado que viu. E esse carro não era de outro senão o daquele crente amolador. Acontece que nas costas o cão carregava uma espécie de mochila que continha cinco bananas de dinamite. Em sendo o detonador do tipo que funciona pelo controle remoto, não vislumbrei dificuldade alguma para de longe, acionar o dispositivo que iniciou a deflagração. O estrondo foi forte e destroçou o carro novo do bandido que ficou aturdido e sem saber o que estava acontecendo. Não se passaram mais sete dias e o mau vizinho abandonou o local.
Considerado o nó cego da comunidade, Kol mantinha diversas amantes em bairros distantes uns dos outros. Gostava de morenas e louras e diziam alguns que ele fora processado por algumas mulheres que lutavam a fim de conseguir ajuda financeira para a manutenção dos filhos.
(*Bim Latem e Val são personagens dos contos "OS SEGREDOS DA VOVÓ BIM LATEM" e "A SEITA MALIGNA DO DOUTOR VAL", que podem ser lidos neste site e no www.anjosdeprata.com.br.
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