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cronicas-->DONA MARIA JULIA -- 19/12/2001 - 15:39 (Ingrid Valiengo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estou lendo muitas cronicas sobre mãe, ultimamente. Mãe comove, já disse alguém, mas nesse fim de ano, parece que gera mais emoções do que o final da Casa dos Artistas.
Seria difícil descrever minha mãe. Primeiramente porque sei que ela vai ler essa crónica. Segundo porque ela escreve bem melhor do que eu.
Dona Maria Julia sempre escreveu e leu muito. Sempre gostou disso. Por essa razão, há mais de um ano, eu e meu pai, tentamos convence-la a entrar em um curso de computação. Eu nunca tive moral para manda-la fazer o tal curso, pois não tinha completado o meu. Ela nunca aceitou e a vida ficou por aí. Só que ela gosta de ler minhas cronicas e eu teimo em manda-la ler pela Internet. Dia desses, ela encontrou, entre inúmeros papéis que circulam minha vida, algumas cronicas minhas e de outros companheiros do Usina. Com a ànsia de ler, pediu para que eu retirasse textos para ela. Então, a confusão se formou. Tive que fazer uma pasta para ela, meu pai dizia que era fácil pegar tudo aquilo na Internet. Ela escreveu para Mauricio Cintrão dizendo que está muito velha para aprender a mexer com informática. Conclusão: depois de tanto reboliço, minha mãe se matriculou em um curso de computação. Chegou em casa e disse que iria começar no ano que vem. E soltou o verbo: _ Olha, primeiro eu tenho que ganhar óculos novos, depois um computador para meu quatro e por fim, um bom dinheiro para pagar a conta de telefone, pelo uso da Internet. Meu pai ficou rindo por dois dias. Disse que nunca viu alguém colocar tanto empecilho nas coisas.
Assim é minha mãe. Adora as palavras e sabe usa-las. Ontem mesmo, estava lendo algumas cronicas minhas e dizendo o que gostou ou não. No meio da conversa eu disse que ela deveria escrever também. E então, num gesto de absoluto cinismo, Maria Julia me disse: _ Não posso, minha querida. Você sugou toda minha inspiração!!! Caímos na gargalhada.

Minha mãe não faz distinção entre idades. Para ela, todos os seus filhos pararam de crescer depois dos cinco anos. Quando estamos em sua casa, ela arruma a cama, faz a comida que cada um gosta e compra mil presentes. Se comento com meu irmão que preciso comprar um sapato, posso esperar, no outro dia, o sapato de presente. Gosta de cuidar das coisas do meu pai e ainda implica, dizendo que meu pai só fica bonito quando ela o arruma.

A última festa que ela deu foi de matar. Arrumou um jeito de fazer uma festa a fantasia na cidade onde mora. Santo António de Pádua fica no interior do Rio de Janeiro. Uma cidade com 50 mil habitantes. Eu juro que achava difícil fazer uma festa a fantasia numa cidade como Pádua, que todo mundo tem vergonha de tudo. Mas não é que ela conseguiu? Minha família foi a mais arrumada, claro. Minha mãe ficou quase um mês programando as roupas, bordando fantasias e a festa foi um sucesso.

Aliás, por falar em festas, Maria Julia sempre foi protetora do dia seguinte. O dia da ressaca é com ela mesmo. Liga para meu avó e pede um chá de boldo. Compra sorvete e muita água com gás. E faz a comida mais leve possível para os ressacados. Lembro que em Pádua tem a famosa Noite no Havaí. Uma semana antes do carnaval, o clube da cidade, oferece uma festa de arromba, em volta da piscina. Minha mãe, todos os anos, vai a festa. No final recolhe os bêbados, maioria amigos dos filhos, e leva para casa. Faz um café da manhã bem forte e manda todo mundo fazer sauna para curar o porre. No ano passado, mais de trinta pessoas estavam lá em casa. Alguns ficaram na piscina outros na sauna. Tinha gente dormindo em tudo quanto é lugar da minha casa. Fui dormir, depois do café, e acordei ao meio dia. Me deparei, em colchão arrumado no chão do meu quarto, com Gilson, um amigo de infància. Ele estava dormindo com uma camisola minha. Não acreditei. Pulei da casa e fui na cozinha. Perguntei para minha mãe o que tinha acontecido com ele. Ela disse: _ Minha filha, ele foi o último a dormir. Encheu o meu saco até às 10 horas da manhã. Eu tinha que me vingar. Por isso, coloquei essa roupinha nele.A foto do episódio está lá em casa até hoje.

Mãe igual a minha, é difícil arrumar. Falo sério! Todos seus defeitos são cobertos de qualidades invejáveis. Quando eu era mais jovem não dava muita atenção a essas qualidades, mas hoje, sou a primeira a reparar. Confesso que, por causa disso, ela abusa um pouco da minha atenção, mas não ligo.
Por falar nisso, tenho que ir para Pádua. Dona Maria Julia ligou e quer que eu ajeite a almofada em suas costas. Ela diz que só eu consigo arrumar direito. Fazer, o que? É mãe, e essa sabe o que é uma chantagem melhor do que ninguém.



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