No Vale do Paraíba, uma das primeiras regiões do Brasil a serem colonizadas pelos portugueses, existe uma assertiva a respeito das jabuticabeiras, essas frondosas árvores que produzem uma das mais saborosas frutas do Brasil, tão boa que precisa ser apreciada fresca. Jabuticaba junto ao pé é uma delícia. Algumas horas depois, pronto, já perdeu quase todo o encanto, viço e sabor. Pois é. O caboclo do Vale do Paraíba sabe também que aquelas jabuticabeiras enormes, que têm seus galhos cobertos de frutas no mês de novembro, foram plantadas, na maioria das vezes, por gente que não chegou a saborear o doce mel branco e semi-gelatinoso que envolve as sementes. Acontece que as jabuticabeiras levam vinte, vinte e cinco, até trinta anos para produzirem. Assim, muita gente adulta que as plantou, acaba por não ter o privilégio de saborear as frutas porque mudou-se, ou até mesmo faleceu, antes da árvore crescer e produzir. Estou discorrendo a respeito das jabuticabeiras de verdade, daquelas antigas, não de algumas “sabarás” sem-vergonhas, dessas que já se compra no viveiro, miúdas e produzindo frutinhas pequeninas, sem graça, enxertos milagrosos que em três ou quatro anos já estão frutificando. Estou me referindo às autênticas, que valem a pena, daquelas que vêm de pés francos, sem enxerto e que produzem aquelas enormes jabuticabonas de antigamente, de casca grossa, que explodem na boca, enchendo-a com seu maravilhoso e raro néctar. As boas idéias, na maioria das vezes, são como as jabuticabas de verdade. Nem sempre quem as tem e as cultiva, vai colher os frutos. Ou então, às vezes, é preciso esperar muito tempo, com muita paciência e perseverança, para ver uma idéia, um ideal, frutificar. Quem não tiver o espírito e a vontade muito fortes, corre o risco de desistir. A árvore às vezes quase morre na seca, caem todas as folhas, a saúva dá em cima, arranca até as pontas dos galhos tenros. Mas, é preciso teimar. É preciso molhar todo dia com o regador da esperança e da fé e acreditar que, um dia, aquela idéia, aquele ideal, vai encontrar terreno fértil e chuvas no regime adequado para fazer germinar as frutas. E como acontece com a jabuticabeira, a espera vale a pena. Quando frutificam os ideais e as idéias acalentadas e cuidadas durante muito tempo, os frutos são muitos e doces.
O importante é ir cultivando as boas idéias sem abandonar nenhuma delas. Crie uma agenda de follow-up para elas. Sem que escrevamos, com detalhes, o que pretendemos, fica difícil lembrar de tudo, todos os dias, principalmente porque muita coisa e muitas pessoas, sem tanta importância para nossos objetivos, ficam nos assediando, o telefone toca sem cessar, os fax não nos deixam em paz, os e-mails idem e a televisão nos atrai para perder um tempo enorme com baboseiras. Se usarmos uma agenda para anotar os bons propósitos, nossas boas intenções e as ótimas idéias que tivermos, elas ficarão ali, crescendo devagarzinho, mas sempre, sem cessar. Basta mantê-las “úmidas”, com o nosso olhar e a nossa lembrança, folheando a agenda de follow-up pelo menos uma vez por semana, como se estivéssemos regando a nossa jabuticabeira. Um dia, elas estarão dando frutos, muitos, enormes, recompensando plenamente a paciência que tivemos em cultivar nosso follow-up.
Experiente. Pegue um caderno velho, uma agenda do ano passado e comece a montar sua agenda de follow-up com suas melhores idéias, soluções e decisões, seja na sua vida particular, profissional e empresarial.
Com certeza, haverá bons e proveitosos frutos. Jabuticabas enormes, saborosas, a recompensar sua paciência, perseverança, persistência e fé.
Mário Galvão é jornalista e profissional de RP |
