A Secretaria da Saúde de Piracicaba confirmou ontem que as mortes de cinco moradores da casa da rua Rafael Marques Cantinho, 530, no Jaraguá,(veja matéria em Artigos) foram causadas por febre maculosa. O laudo médico do Instituto Adolfo Lutz foi divulgado na noite de ontem. Todas as vítimas morreram em um período de 22 dias, após apresentarem sintomas como dores-de-cabeça, dores pelo corpo, manchas vermelhas na pele e vômitos.
Com a confirmação, subiu para sete o número de casos de mortes por febre maculosa na cidade. A primeira morte foi de um menino de 6 anos, filho de um professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), registrada em 2002. A segunda foi de um homem de 54 anos, morador do Monte Alegre, em 2003.
Responsabilidade
O secretário da Saúde Fernando Cárdenas disse que não há motivos para a população da cidade entrar em pânico. Segundo ele, uma panfletagem de orientação sobre a doença será feita e os médicos da rede também foram orientados para a diagnosticar os sintomas nas unidades de saúde.
O foco do problema
Os carrapatos vivem como hospedeiras das capivaras, existentes em grande número no campus da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz).
No início da próxima semana, técnicos da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) virão a Piracicaba para analisar o caso.
O exame feito no Adolfo Lutz analisou as vísceras de Maria das Graças Cardoso, 34, última vítima da doença, que morreu no dia 29 de agosto. Segundo Cárdenas, a pasta cruzou o resultado com os dados dos outros membros da família e concluiu sobre a causa das mortes. "Eles apresentavam sintomas parecidos. Isso é lamentável. É uma crônica anunciada."
Antes da confirmação da causa no Jaraguá, outras possibilidades cogitadas eram leptospirose, hantavírus e meningite.
Cárdenas disse que é possível que eles tenham sido picados por uma infestação de ninfas (primeira fase do carrapato-estrela). A Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) analisou a casa no dia 2 de setembro e só foram encontrados carrapatos no terreno ao lado.
A Sucen também analisou o córrego do Enxofre, onde a família costumava pescar. No local foram encontrados 20 carrapatos. "As pessoas da família circulam por toda a cidade e pescam nas margens dos rio Piracicaba, onde há capivaras (hospedeira do carrapato-estrela). Podem ter sido picados em qualquer local", disse Cárdenas.
Ele declarou que hoje vai encaminhar o laudo das mortes para a polícia, Ministério da Saúde e Esalq. A secretaria também vai encaminhar um dossiê da sequência das mortes para o ministérios da Saúde e Meio Ambiente. Segundo o secretário, isso é necessário para que os demais órgãos, em conjunto com a prefeitura, solucionem o problema das cerca de 800 capivaras que habitam o campus da Esalq.
Para o professor do Departamento de Zootecnia da Esalq, e membro do plano de manejo para o controle da superpopulação das capivaras no campus, Wilson Mattos, os piracicabanos estão "sentados em uma bomba-relógio."
"É um exemplo fatal e infeliz para pressionar o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis) a tomar atitudes que já deveriam ter sido tomadas. Isso é apenas o começo. A situação é mais grave do que a gente pensa", disse Mattos.
