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Contos-->A casa -- 06/03/2002 - 12:37 (Marise Borges Melero de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A porta está aberta e eu entro, não há ninguém na sala de estar. O sofá antigo eu já conheço, não me lembrava mais das poltronas puídas e do vaso azul sobre a televisão, com duas rosas desbotadas de plástico. No corredor, uma cortina pesada esconde a estranha solução arquitetônica de uma janela interna, que iluminaria a escada. Esta acaba em uma sala interna que se usava como dormitório também, com duas camas e a estante de portas de vidro, sempre emperradas.
No outro quarto, a janela de venezianas vermelhas se abre num corredor apertado, então a única vista possível é a de uma imensa parede. Volto ao corredor e vejo a cozinha, grande, escura, de chão cimentado e encerado de vermelho. O armário azul de madeira, a mesa, o fogão muito velho, tudo estava exatamente como eu lembrava.
Procuro o último dormitório e estranho ao olhar, parece-me agora bem menor. Mas estão lá a cama de casal, a penteadeira e a banqueta, o armário. Ao seu lado, o banheiro minúsculo, úmido, de tábuas escurecidas e apodrecendo. E em volta de todo corredor as janelas, muitíssimas janelas de vidros lisos que eu antigamente limpava, limpava, sem conseguir tirar toda a poeira e manchas que se acumulavam.
Saio pela porta lateral, na verdade a que mais se usava, piso na calçada bruta, olho para trás e avalio o quão feia é a casa, que aspecto devastado ela tem.
Volto a entrar, afinal meu objetivo ali era ver o sótão. Chego na beira da escada e tento olhar a escuridão. Subo.
Este sótão, de apenas três cômodos baixos, sendo o do meio sem janelas, é assustador. Acumulam-se por todo o chão dezenas de caixas e embrulhos sem cor, cestos, fardos de papel e jornais velhos, além de objetos que sempre me maravilharam, como revisteiros e chapeleiras, foles e muitas, muitas máquinas fotográficas.
Olho tudo agora, o acúmulo dos anos pesando em minha reavaliação, mas tudo é realmente maravilhoso como eu lembrava. Os antigos moradores haviam-nos deixado como herança aquele sótão com os entulhos de suas vidas. Eram alemães que haviam fugido da guerra e tinham como trabalho a fotografia. Todas aquelas máquinas, os tripés, os filmes, amontoados de história. Quanta memória, quantos documentos, era um pequeno museu que pedia para ser visto, sentido.
Vou até a janela e olho para tudo lá embaixo, a rua, o portão barulhento de ferro, a cerca com a planta de flores cheirosas enroscada. Fecho os olhos para tentar lembrar o odor que tinham, e quando os abro, estou em minha cama, acordo e fico assim, com a impressão de que não era só um sonho.
Durante todo o dia reluto em tornar realidade o que sonhei. Parece tão fácil ir rever a nossa casa, não terá ninguém lá, igual ao sonho, sei que ela está abandonada. Não quero ir sozinha mas terá que ser assim.
Enquanto dirijo pela rodovia que a casa margeava, vou lembrando-me de detalhes daquela época, e procurando o portão tão conhecido. E é só o que eu encontro. Um imenso terreno vazio, a terra recentemente revolvida mostra que máquinas trabalharam no dia anterior ali. Forma-se um vazio em mim maior que o espaço que vejo. Sei que levaram relatos de vidas com o entulho, assim como um pedaço da minha.
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