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Artigos-->A BUSCA -- 21/09/2005 - 18:27 (Pedro de Souza Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pedro de Souza Silva













A BUSCA











Dedicado às minhas filhas,

ANDRÉA

ROSANA

ROSÂNGELA













AO LEITOR



Caro leitor(a), esta é uma estória ficcional(?) onde o(a) leitor(a) terá dois caminhos a seguir; ou jogá-la no lixo, de imediato, por considerá-la um non-sense ou uma blasfêmia, ou, movido pela curiosidade ou pelo real desejo de conhecê-la, ir até o final. O resultado poderá ser inócuo ou negativo no sentido comum da palavra, se você julgar que foi um tempo perdido em lê-la, ou extremamente útil, se você procurou refleti-la com seriedade e em profundidade.

No início, quando terminei esta estória e passei a relê-la, e comecei a enriquecê-la com alguns outros detalhes, senti que ela poderia tornar-se longa, o que não era a minha intenção para com este livro; mas ao contrário, desejaria que a mesma fosse apenas a centelha de um pensamento, e que deveria estar contida em poucas páginas, para não cansar o leitor. Desta forma, o que está aqui, acredito que seja o suficiente para embarcarmos nesta realidade que é toda nossa, e assim passaríamos a discutir tal assunto em profundidade e com seriedade junto aos nossos semelhantes, sem nenhum receio, mas com toda a naturalidade que o assunto requer.

Quero lembrá-lo(a), antes de tudo, que o assunto na verdade não é um pensamento exclusivo do autor, pois se refletida em profundidade e com o desejo sincero, certamente você irá chegar às mesmas conclusões.

Seja como for, receba as minhas boas vindas a esta Busca interminável.





O Autor













PREFÁCIO





O autor de mais esta obra, Pedro de Souza Silva, meu amigo Pedro desde os anos 70 quando desempenhava suas atividades no Lloyd’s Register of Shipping, sempre envolvido com os navios que ao mesmo tempo em que lhe davam o sustento eram sua paixão. Apesar de homem da área tecnológica, por sua sensibilidade e inteligência dedicou parte de seu tempo livre ao conhecimento das ciências humanas.

Para quem teve a oportunidade de ler “Caminhos uma Viagem ao Passado” como eu, fez uma grande excursão no tempo, pela vida deste homem. Para mim que já conhecia algumas das passagens ali colocadas, foi um grande prazer ver a maneira clara e rica em detalhes com que este autor narrou os fatos. Com sua habilidade no trato com as palavras e preciso encadeamento de idéias, passou para o leitor entre outras coisas, toda aquela tensão e suspense que viveram ele e sua tripulação, quando comandante do navio Lucio Meira, nos momentos críticos sob uma fortíssima e prolongada tempestade no litoral norte do Brasil.

Em sua trajetória de vida escreveu uma segunda obra “O Homem Só”, outra deliciosa leitura onde mostrou entre outras coisas a problemática de vida das pessoas do interior do Brasil. Pedro, homem de origem humilde, que nasceu em cidade de poucos recursos no Nordeste do Brasil, na época viveu e viu pessoas atravessando momentos de muito sofrimento. Tudo isto ao invés de acabrunhá-lo, foi para ele como se abastecesse de energia para cumprir sua existência na terra, levando-o sim a se preocupar com o lado humanitário e fraternal da vida, isto apesar das lidas e aquisições de conhecimentos profissionais que o mundo técnico lhe cobrou durante os anos.

Nesta sua nova obra que tive prazer de ler em primeira mão, Pedro nos presenteia com suas vivências adquiridas em seu mundo de estudos e experiências ligadas aos seres existentes no universo e suas trajetórias, nós humanos principalmente com nossas angustias e dúvidas durante este curto espaço de tempo que é a nossa existência. O que muito acertadamente conferiu à obra o titulo de “A Busca”. Através da apresentação de fatos o autor nos dá uma grande explanação sobre o existencialismo que gera tantas perguntas para nós humanos. É esclarecedora na medida em que fala da relação do ser com a natureza. Esclarece também quando encara de maneira direta a questão do dogmatismo colocado nas religiões e sua relação com o desenvolvimento dos indivíduos.

Desta obra em seus seis capítulos, além do que foi dito no parágrafo anterior eu saliento que ela mostra o traço característico do escritor Pedro, isto é, a clareza e a riqueza de detalhes sem tornar a leitura cansativa. Destaco os episódios da observação por parte do personagem Amrel da caça a uma mosca selvagem por uma aranha e, de um cão solitário pranteando a morte de seu dono com uivos que se perdiam no espaço infinito. Estes fatos que são aparentemente simples estão perfeitamente encadeados com o contexto da obra que ao mesmo tempo em que é séria, conduz o leitor aos momentos ora de suspense ora agradavelmente relaxantes. O exemplo disto é a fantástica passagem do personagem Amrel da terra de Ankar (de sofrimento) para a terra de Grom (de luz).

Em seu fechamento com sabedoria, através do diálogo entre os personagens atinge o seu objetivo, que é mostrar o porque de “A busca”. O que os seres humanos buscam, porque buscam, em que caminhos buscam, para onde levam estes caminhos. Finalmente indica um caminho seguro que leva à paz, à felicidade e realização plena do ser Humano.





Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 2004.

Jorge Augusto Salles Pereira

























CAPÍTULO I





O Incompreensível



A morte do irmão mais velho em um acidente aéreo há algum tempo atrás, alteraria por completo o estilo de vida e o bom humor de Amrel.

Era uma manhã de sábado, quando o irmão voltava da salina, em Iupací, a bordo do pequeno Cessna, com o piloto Amiz, já próximo ao pouso em Nurabe, quando, não se soube por qual motivo, a pequena aeronave se chocara de encontro aos cabos de alta tensão da rede elétrica que alimenta a cidade. Amrel soubera da notícia logo, e partira às pressas com o motorista da firma, para ainda ver os bombeiros tentando resfriar com jatos de água o que restara do material carbonizado do pequeno avião.

Amrel, com um olhar perplexo, fitava aquele resto de fogueira, onde mesmo sem acreditar no que via, levado pelo brutal choque emocional, buscava vagamente alguma forma humana por entre as cinzas, que ali já se encontravam numa mistura de corpos humanos, metal e parte dos galhos de uma grande árvore que ainda ardia. A alguns metros de distância dali, salva das chamas, uma parte de uma das asas da aeronave, onde se podia facilmente ler o seu prefixo e, por conseguinte, a identificação da mesma, achava-se ainda com a ponta levemente sulcada na areia fofa da praia, de onde curiosos já iriam retirá-la para levá-la como souvenir, se não fossem impedidos pelos bombeiros ali presentes.



Os negócios estavam indo bem naquela época e os planos para o futuro dos dois irmãos iam de vento em popa, levando-os a se deslocarem constantemente, para contatos pessoais e fechamento de novos negócios. Além da produção de sal, a exportação de cauda de lagosta já ia muito bem, apesar da proibição legal na época da desova e de desenvolvimento do crustáceo, mas isto já era calculado e não os afetaria em nada, diante de um bom gerenciamento do serviço que eles possuíam.

Tantos projetos ambiciosos em sua cabeça pareciam agora se esvaírem com o desaparecimento do seu irmão Almir, que, além do relacionamento fraterno entre os dois, Amrel via naquele irmão mais velho a figura do seu próprio pai, o qual perdera quando ainda era criança, em circunstância trágica.

Diante de uma realidade que não havia como contornar ou fazê-la desaparecer de sua vida, Amrel, sem o notar, se veria aproximar-se de pessoas que tentavam através de suas próprias tendências religiosas, lhe explicarem o inexplicável, como se pudessem com isso amenizar a infinita dor pela perda do seu querido irmão. Espíritas, protestantes, católicos ou umbandistas, todos tinham a sua própria explicação, para abrandar-lhe a dor e levá-lo para os seus cultos.

As noites quase insones o levavam, em alguns instantes de cochilo, a sonhos que o transportavam muitas vezes para o convívio do seu querido irmão, como se quisessem turvar a realidade que se apresentava. Ali ele via ao seu lado, o seu melhor amigo, a ajudá-lo, ainda adolescente, a resolver os problemas de física ou matemática que os professores lhe passavam para fazer em casa; com aquelas exigências e um certo rigor nas cobranças que o irmão fazia, para que ele estudasse e tivesse um grande sucesso, e fosse muito respeitado na comunidade. A figura de Almir, naqueles momentos, se tornava mais real para Amrel que a realidade antes vivida, fazendo-o acreditar que o breve sonho era o que seria o real, e o verdadeiro pesadelo, seria a sua morte.

A não aceitação da cruel realidade levaria o homem a muitas indagações que, sem encontrar respostas, o levariam a um estado de morbidez por um longo tempo, o que afetaria muitos em volta, mesmo aqueles mais próximos de sua convivência de trabalho ou amizade.





O passar do tempo não lhe abrandaria a dor da perda, mas como se um lenitivo fosse para este fato, Amrel passaria a ter aqueles sonhos continuados com a presença do irmão morto, onde conversavam e viviam fatos tão reais, que o deixariam por vezes atônito durante a vigília que sucedia.



Os anos se passaram, e a descrença em seu coração tomara o lugar da cultura religiosa em que havia nascido, daquilo que seus pais e avós haviam lhe ensinado. A luta pela sobrevivência e pelo progresso material criaria em sua mente uma visão prática e bem objetiva para a solução dos problemas do dia a dia, diante dos seus negócios e, com uma vida sentimental sem maiores envolvimentos.























CAPÍTULO II



A Trilha para o Mar



A aconchegante casa de madeira que ele e o irmão haviam construído no sítio lá da praia do Curi, há muito que não a visitava. Ali, quando o irmão ainda era vivo, os fins de semana eram bem movimentados, onde então se reuniam com amigos para animadas festas com muita comida e bebida nos fins de semana, que não tinham hora para terminar. Agora os tempos mudaram, o que o levara a pensar em vender a propriedade pela melhor oferta que encontrasse.

Azmar, um velho morador dali daquelas bandas, era o que mantinha a limpeza da residência e dos arredores, não deixando o mato tomar conta do caminho por onde se passava para chegar até a casa.

Certo dia, antes de tomar a decisão de vender a propriedade, Amrel decidira ir para lá, a fim de passar uns dois ou três dias, longe do seu dia a dia de empresário e da agitação da cidade, para repensar melhor os fatos.

A primeira noite, sozinho naquela casa, chegaria lenta, com as sombras aos poucos vindo da espessa mata que a circundava. Dali da rede na varanda, ao apreciar o esvanecer do dia, reluta em sair para ligar o pequeno gerador a diesel que mantinha a residência com o conforto da cidade. Assim, mais algum tempo se permite ali ficar, apreciando algo que já esquecera há muito que existia – a luz prateada e piscante dos vaga-lumes que esvoaçavam a sua volta na varanda, vindos da floresta próxima.

Os odores da mata permeiam todo aquele espaço e o desejo de continuar naquela rede, envolvido pela escuridão da noite, apreciando o céu noturno pontilhado de estrelas, lhe atiça a mente. Como se levantar daquela rede, que parecia agradavelmente grudada ao seu corpo – se auto questionava.

Ali, naquela semi-escuridão, lhe parecia que os sentidos se aguçavam; sons nunca antes ouvidos e odores nunca antes percebidos, vindos da floresta próxima criavam, ao seu redor, uma atmosfera de expectativa e emoção. Poucas vezes em toda a sua vida tivera momentos em que pudesse sentir-se livre da presença de outros, no agitado da vida de um homem de negócios, como era o seu caso. Nenhuma solicitação, nenhuma cobrança de quem quer que fosse, nenhuma ordem para ser dada a alguém, pois ali não haveria alguém à sua disposição para lhe ouvir e atendê-lo.

Um pequeno universo dentro de outro universo, onde, apesar da inexistência de outro ser humano para dialogar, não deixaria de altercar consigo mesmo pontos de vista conflitantes que continuavam a existir, como se duas pessoas fossem, mas sem a aspereza e o desconforto de um diálogo real.

A brisa noturna, agora mais acentuada, trazia um frescor com odores vários, quer da floresta, quer do mar ali próximo, dando uma sensação de conforto e relaxamento total, como se um pouco anestesiado estivesse ali naquela rede; pois lhe parecia que forças não teria para dali levantar-se.

Caindo num profundo sono, aquela noite passaria como um breve hiato em sua memória, entre o anoitecer e o próximo alvorecer, quando tomado por um susto, desperta com o seu rosto banhado pelo clarão dos primeiros raios de sol que atravessavam por entre as folhagens das frondosas árvores que rodeavam a casa.

O velho Azmar não demoraria a aparecer lá pelo caminho que o leva de sua humilde casa até o antigo poço de água, a fim de se abastecer para as primeiras necessidades do dia.

Amrel agora se daria conta de que dormira ali fora, na varanda da casa, e que até alguns apetrechos que trouxera no utilitário, teria esquecido de retirá-los para guardá-los dentro da casa.

Após um breve desjejum que ele mesmo preparara, toma o caminho por entre os bambuzais em direção à casa do seu vizinho, a fim de cumprimentá-lo.

_ Bom dia Azmar !, - cumprimenta Amrel o velho lavrador ali em frente à casa, se dirigindo até ele para apertar-lhe a mão. – Bom dia Seu Amrel, - responde o homem com um estampado sorriso de satisfação pela presença do seu velho amigo que há muito não o via. Discreto e educado, o lavrador procura falar sempre amenidades, evitando tocar no assunto da venda da casa que Amrel estaria com a intenção de fazê-la, pois sabia que tal decisão por parte dele teria sido por um motivo muito pessoal, e que certamente estaria ligado à morte do irmão há algum tempo atrás.

Em seguida, Azmar o convida para tomar um copo de café que ele havia há pouco preparado em seu fogão a lenha, o que o homem aceita, como se quisesse assim acompanhá-lo, agradecendo no entanto o aipim cozido que o lavrador lhe ofereceria em seguida para acompanhar o líquido.

Amrel encosta-se por algum tempo ao tronco da enorme jaqueira ali ao lado da rústica casa, enquanto toma o café e ouve o lavrador falar de suas colheitas, despedindo-se algum tempo depois para tomar o rumo da praia através uma acidentada trilha pela floresta à frente.



CAPÍTULO III



O Portal



Na volta da praia, o cansaço lhe chegara após tantas subidas e descidas íngremes do caminho. O barulho da arrebentação das ondas nas rochas lá para trás chegava até aos seus ouvidos como um rumor constante, numa mistura de sons que jamais havia percebido. Os seus pés, por vezes, durante a caminhada, tropeçavam em pedregulhos que lhe atrapalhavam os passos que, descadenciados, continuavam em frente.

O olhar disperso para as árvores em volta, fita alguma forma curiosa que lhe lembrava algo, mas sem uma lógica, apenas ao acaso criado em sua mente. À sua frente, uma forma estranha surge de uma árvore esguia, que se assemelhava a uma enorme figura humana com os braços estendidos para o alto, como se estivesse a suplicar aos céus em uma permanente prece. O tronco para baixo lhe parecera o corpo da imaginária criatura, com a cabeça formada por uma reduzida copa, por entre os braços em preces a menear de um lado para ao outro. A forma, por alguns instantes, lhe pareceria viva e assim começara a julgar que aquilo fosse agora o efeito da exaustiva caminhada por entre as estreitas e acidentadas trilhas do caminho. Após algum tempo, resolveria sentar-se ao pé de uma enorme mangueira, por cima de sua folhagem caída há tempo, bastante fofa e confortável, e recostar-se ao seu tronco, à guisa de descansar as pernas, para depois continuar o seu caminho de volta para a casa.



Ali ao seu lado, no chão, próximo ao tronco, num galho já caído e ressecado, uma pequena aranha construíra a sua teia. O olhar de Amrel se deteria por algum tempo para apreciar aquela simples e bela obra do aracnídeo que, sem nenhum instrumento de medição, produzira aquela armadilha perfeita. Notaria que além da beleza estética da teia, a mesma era funcional, pois para os insetos voadores que por ali transitassem a chance era enorme de ficarem grudados naquelas pegajosas e transparentes linhas da teia. O homem se detém agora a observar que a proprietária daquela construção se prostrara bem no centro desta, em atitude totalmente imóvel, como se morta estivesse, para não despertar suspeita de algum inseto que dali se aproximasse. De repente, uma mosca do mato durante o seu vôo se choca na pegajosa malha a uma certa distância do centro de onde se encontrava a aranha. Ao sentir a vibração da teia, a atenta aranha se desloca célere para o local onde se debatia a mosca, na tentativa infrutífera de soltar-se da armadilha. O golpe é rápido e, em poucos segundos, a infeliz mosca já estaria envolvida por dezenas de voltas de fios sedosos que a aranha vomitava do seu interior, ajudada por suas habilíssimas pernas, para o empacotamento da presa. Neste ínterim, a aranha , após uma pequena pausa ali abraçada ao casulo que continha a mosca ainda viva e se mexendo, perfura com a sua língua estilete o corpo empacotado da vítima. Suga-lhe então tudo que possa fluir para o seu corpo, restando no final de alguns minutos, uma casca oca no interior do casulo, que logo após, a própria aranha lançaria para fora da teia, deixando-a limpa para a próxima presa.

O homem, ali observando tudo aquilo, quase pasmo, procura entender este particular universo tão distante e tão próximo dele ao mesmo tempo. Tentava imaginar, naquele momento, como poderia tão pequenino cérebro tomar tantas decisões relativamente complexas e realizar um trabalho absolutamente perfeito de captura, utilizando aquela armadilha que ela própria construíra. E, aliado à uma paciente espera, alcançar o seu objetivo final, que seria o de alimentar-se de outro ser para manter-se viva. Esta observação levava-o no entanto um pouco mais à frente, ao analisar a imparcialidade das leis da natureza ao prover a aranha de tal comportamento. Pois sendo mosca e aranha, ambos elementos vivos, esta cessava a vida da outra para manter-se viva. Isto então seria a essência das leis naturais, as quais parecem abranger todo o universo.



Um certo tempo se passara e, absorto e contemplativo, o seu corpo suavemente desfalece em sono, com a cabeça e costas recostadas ao enorme tronco. A sua mente no entanto, alheia ao fato físico que lhe levara ao sono, mas alerta e consciente, passa a vislumbrar uma paisagem estranha; onde no início uma névoa a brotar do solo, lhe lembrava os fumígenos que eram colocados nas formigas que atacavam as roças, os quais eram injetados por um tosco fole nos buracos dos formigueiros na terra. Esta visão aos poucos se transformara em uma grande névoa, agora, levemente azulada que também lhe envolvia, por entre a qual começara a aparecer um caminho que em nada se assemelhava à estreita trilha por onde se dirigia de volta para a casa. Uma sensação estranha de leveza física lhe tomava o corpo, que o faria sentir-se flutuando acima da folhagem fofa. As árvores em volta, agora lhe pareciam vivas, mas num sentido amplo do que significava um indivíduo, do que significava a vida. Como entender aquilo que por alguns instantes lhe parecia estranho, mas ao mesmo tempo real e natural, onde a vida parecia pulsar em toda a sua volta?.

O tempo não flui mais como antes, e a certeza de estar em sua perfeita consciência lhe trazia uma sensação de tranqüilidade.



Não, as coisas eram reais, e na verdade isto agora seria o despertar de um breve sonho, – assim pensava.



Algo, no entanto, inesperado surgiria à sua frente, era a visão do seu próprio rosto como se um espelho ali estivesse.

No início, apenas o rosto lhe parecia visível mas, aos poucos, todo o seu corpo se mostrava. Um temor lhe enche o coração, as palavras se prendem em sua garganta. Um outro ser ali à sua frente com a sua aparência, era inexplicável para Amrel.

Por instantes pensaria que o seu corpo físico poderia estar sendo refletido em algo à sua frente e, como se quisesse disto tirar a prova, levanta levemente o braço esquerdo a fim de constatar que a figura que julgava ser o seu reflexo, tal movimento também o fizesse. Amrel agora ainda mais atento à visão, é tomado por um total espanto ao notar que a imagem que admitira ser sua, não se movera da postura anterior. A garganta seca lhe dificulta a fala, mas mesmo assim, com um maior esforço, pergunta àquele Ser o que ele seria e o que desejava dele. O silêncio seria a sua resposta e os únicos sons que ouviria seriam os da sua própria voz embargada pela emoção.

Estático, ficara por algum tempo tentando julgar de forma racional o fato, sem no entanto conseguir encontrar algo para uma razoável explicação.



O caminho em frente se alargara, e aquela projeção física agora lhe voltara as costas, movendo-se suavemente do lugar como se deslizasse acima do chão, mostrando com um gesto de sua mão direita que Amrel deveria seguir em frente pelo caminho que ali se estendia.

Assim, tomado por um pouco de coragem, prossegue em frente, mantendo no entanto alguma distância da figura silenciosa. Agora já não estaria sentindo tanto receio como antes, pois algo no fundo do seu coração lhe dizia que não haveria perigo em segui-lo, mesmo sem entender o que estaria acontecendo naquele momento.

As plantas às margens do caminho agora se tornariam mais nítidas à sua vista, notando que a espessa neblina azul que as envolvia estaria aos poucos se dissipando, mas como se integrasse à floresta em volta. Por algum tempo a visão se manteria à sua frente num lento caminhar que, por vezes, lhe parecia mais distante mas, em seguida, o percebia ainda mais próximo. Por algum tempo Amrel segue aquele Ser sem nenhuma contestação, quase que levado por uma força que ele mesmo não desejava resistir.

Algum tempo se passara nessa estranha caminhada, onde nenhuma palavra seria ouvida como resposta ou forma de comunicação vinda daquela criatura; quando aos poucos Amrel perceberia que as suas formas, contorno físico, aos poucos iria se transformando em névoa e se dissipando ao longo do caminho.

Sons passam a serem ouvidos, vindos da mata, como se fossem de pássaros tagarelando nos galhos das copas das árvores que ladeavam o caminho. Aquela visão física do Ser agora desaparecera por completo, ficando no entanto uma sensação estranha da presença de algo à sua volta. Por vezes pára de caminhar, para tentar perceber melhor algum movimento ao redor, como se quisesse descobrir aquela presença que agora parecia existir apenas na sua imaginação. A presença de algo próximo se tornava cada vez mais forte e quase que sentia como se pudesse tocá-lo ou ser tocado por ele em qualquer pequeno gesto que fizesse, pois a sua vibração em volta era real.

Voltara agora aquela sensação estranha que as plantas à sua volta eram seres vivos, não como ele conceituava essas coisas no passado, mas que agregavam uma vida mais complexa do que admitira antes. O seu andar pelo caminho lhe parecia suave, sem cansaço em suas pernas, nem mesmo a sensação de peso ao pisar no chão seria a mesma. Agora era suave e delicado como se todo o caminho fosse feito de um extenso tapete de veludo prata.

Amrel agora tinha certeza de que não estava só a trilhar por este caminho e por que não questionar esta presença que os seus olhos não conseguiam perceber, mas a sua mente tinha plena consciência desta existência&
61503; Mas como perguntar algo a alguém que não posso ver &
61503; – questionava Amrel. Parecia loucura um homem fazer qualquer pergunta a uma imaginação, a um vazio de forma e densidade.

Os sons da floresta em volta por vezes diminuíam e até desapareciam por instantes, o que criava um imenso vazio à sua volta, como se não pudesse o homem conceber o mundo sem aqueles sons. A presença, no entanto, do invisível, continuava bem ao seu lado ou por todos os lados, pois como aquilo se comportava Amrel não conseguia ter a sua direção.

Amrel, por um instante, diminui o passo e percebe a pouca distância à sua frente, um velho tronco de árvore caído à beira do caminho. Instintivamente chega até o tronco e ali se senta como se fosse descansar por algum tempo, apesar de não sentir nenhum cansaço em seu corpo.

- Agora, assim parado, poderei observar melhor o que me segue ou o que estou seguindo – mentalmente cogitava.

Os sons da floresta mais uma vez se acalmam e por um momento sente algumas passadas à sua volta e teme ao perceber a presença do invisível ao seu lado, como se sentado também estivesse naquele mesmo tronco.

- Uma alucinação talvez esteja ocorrendo comigo - assim pensou. Antes era aquela figura com o meu rosto a quem acompanhei por algum tempo, mas que me parecia real, mas depois se evaporou; agora esta sensação de algo invisível ao meu lado. Não consigo vê-lo nem tocá-lo. O que está acontecendo? – questiona o homem, já com a alma angustiada pelo mistério.

- Jovem andarilho, poderás considerar-me como o teu guia nesta dimensão em que nos encontramos; para que não andes a esmo, estou aqui para ajudá-lo. Sou o mesmo que há pouco moldado no teu corpo físico, lhe indiquei os primeiros passos. A minha energia nesta dimensão tem a liberdade de tomar um grande número de formas e a tua forma foi a escolhida por mim no início.

Amrel, perplexo, agora ao lado da criatura invisível, ouve com atenção cada palavra, tentando compreender o incompreensível naquele momento, sem saber a que dimensão ele se referia.

No entanto não se daria por vencido pelo medo e, num grande esforço, tenta responder à voz e questioná-la.

- Homem invisível, agora estou certo de que você está próximo, mas não acredito no que declara ser. Pode estar escondido entre os arbustos por aqui por perto e, por intermédio de algum truque ou mágica que não posso descobrir, está tentando iludir-me com esta estória. Porque não sai do seu esconderijo para conversarmos? – responde Amrel, ainda com a voz um tanto embargada pela emoção.

- Andarilho, na dimensão em que nos encontramos não existem truques nem mágicas para iludir aos outros. Aqui vivemos em uma dimensão em que nos mostramos como realmente somos. Ou seja, mostramos a nossa verdadeira personalidade e por isso os sentimentos, sejam positivos ou negativos que façam parte de nós, serão refletidos com fidelidade para o nosso exterior. O ódio ou o amor, a dúvida ou a certeza e tantas outras qualidades da nossa personalidade serão espelhadas para os outros com os quais contatamos ou nos sintonizamos. Podemos contatar um grande número de seres semelhantes, no entanto, somente com alguns poderemos nos sintonizar.

Amrel, diante do discurso da criatura invisível e, após ouvi-lo atentamente, toma mais cuidado para fazer-lhe algumas perguntas.

- Senhor invisível, não sei se posso chamá-lo assim, de qualquer forma desejo que me explique porque não consigo vê-lo, mas apenas ouvi-lo; e qual é o seu nome.

- Andarilho, nomes para identificar uma personalidade nesta dimensão são de pouca importância, mas se quiseres me identificar por um nome, poderás chamar-me de Amron, ou o guia de Amrel, o andarilho. Perguntas porque não consegues ver-me se tão próximo estamos um do outro. Já havia lhe dito há pouco que podemos contatar muitas personalidades mas com poucos poderemos nos sintonizar. Isto não é uma declaração tão simples em princípio, mas são fatos que já ocorrem na dimensão de onde vens. O contato entre personalidades as mais diversas deste universo poderá existir, mas nem sempre a sintonização. Pois esta ocorre quando alguns níveis de sensibilidade e desenvolvimento em uma delas se harmonizam com as da outra através um mesmo nível ou canal de vibração. Entre o simples contato e um determinado nível de harmonização entre seres existe uma gradação quase infinita para se considerar a existência de uma completa harmonização. Entre nós, por exemplo, já existe um razoável nível entre o contato e a harmonização, o suficiente para que entendas com uma certa clareza o meu pensamento ou sentimento, traduzido em um certo nível de compreensão para a sua mente.

Amrel, apesar de sentir-se menos receoso, teria ainda alguma dificuldade em entender por completo o sentido das palavras de Amron.

Amrel, ali sentado no tronco à beira do caminho, continua o diálogo com Amron, entrecortado às vezes por observações que aquele fazia sobre o ambiente em volta, que estranhamente mudava visualmente de um momento para outro.

Flores cresciam ao longo do caminho e ali junto ao tronco em que sentara. Por vezes, podia perceber no leito do caminho as marcas dos pés de Amron, junto ao tronco ao seu lado, mas por instantes desapareciam. Plantas vicejavam ao redor com mais ou menos flores, que mudavam as cores com sua emoção. O homem tentava entender porque sutis mudanças ocorriam em um breve tempo no aspecto físico e tons dos objetos.

A névoa azul não desaparecera por completo do entorno, envolvendo mais ou menos alguns locais da paisagem em volta, com mais ou menos densidade. Amrel, ao observar tais variações, não se conteria e voltaria a inquirir Amron sobre estes fenômenos.

- Amron, ainda me ouve? – pergunta, diante de um longo silêncio feito por seu guia invisível ali ao lado.

- Estou sempre pronto para ouvi-lo - responde Amron. E continua – Sempre estarei, quando nascer este desejo em seu coração .

- Bem, estive aqui observando por algum tempo que as coisas em minha volta mudam de aspecto de quando em vez, não é sempre, mas mudam por vezes de um instante para outro e sinto-me como se isso causasse alguma depressão ou alívio em minha mente. Não posso compreender porque tais mudanças me afetam. Isto é real ou apenas algo da minha imaginação? – pergunta Amrel, com certa angústia e expectativa ao mesmo tempo, por uma resposta convincente.

- Bem, Amrel, me perguntas o que existe de real e imaginário dentro de si mesmo, em sua mente. A mente é uma fonte de criação permanente de idéias e sentimentos no indivíduo; os estados a que te referiste, na verdade podem ser um único dentro do contexto de uma análise geral. A realidade de cada um é aquilo que ele cria em seu universo pessoal, em sua mente, e as sensações e visões neste universo próprio mudam em função dos seus sentimentos e convicções. Mudam assim em função do seu estado e visão pessoal. Aquilo que você percebia como mudança na paisagem em volta é na verdade um produto das transformações dos seus sentimentos e idéias.

Cada um de nós vivemos a nossa própria realidade em função das nossas ações e pensamentos conscientes.

A depressão ou alívio que sentes não são produzidos por aquelas mudanças no ambiente em volta, mas as mudanças que percebes neste ambiente seriam o resultado do teu estado mental. Ou seja, o inverso daquilo que pensavas.

Assim, o nosso real e imaginário se confundem, pois criamos em torno de nós o próprio universo, em função da nossa visão e concepção dos fatos.

Amrel ouve Amron e tenta entender cada uma de suas palavras e como aquilo poderia ser verdadeiro.







































CAPÍTULO IV





A Contestação



Amron, o guia, após uma longa conversa com Amrel, o convidaria para segui-lo pelo caminho de Maat até o portal de entrada da região de Ankar.

Explicaria então que a passagem por este portal lhe colocaria numa região reflexo da sua dimensão anterior, onde fatos da vida se desenrolariam entre as criaturas em toda a sua plenitude, não sendo possível, no entanto, qualquer interferência de quem quer que fosse de outra dimensão. Amrel, sem entender bem no início, ficara por um instante reticente quanto a ter que continuar a sua trajetória com o seu guia.

- Amrel, nada tens a temer - afirma Amron, a fim de tranqüilizar o homem.

- Nada poderá lhe afetar, pois a outra dimensão não poderá afetar a nossa. A região de Ankar, no entanto, é longa e por vezes penosa a sua travessia, mas é fundamental a sua passagem, pois através dela as contestações serão geradas; onde muitas crenças poderão ser minadas, postas em dúvida ou destruídas; e onde verdades que supomos possuir, serão reavaliadas, aperfeiçoadas ou substituídas. Exigirá de si muita coragem e determinação para atravessá-la até o seu portal de saída. Durante este trajeto, no entanto, estarei ao seu lado, continuarei como seu guia, mas nenhuma resposta lhe darei para os seus questionamentos sobre fatos que irás presenciar como expectador.

As palavras de Amron calaram fundo em Amrel, mas, apesar do temor que possuía em ter que atravessá-la, desejava muito ter a visão da sua dimensão anterior, mesmo sem o poder de mudar os fatos que poderiam ser desagradáveis ou trágicos.

Luzes e fortes vibrações marcariam a sua passagem pelo portal, onde percebera que Amron se transformara de invisível em um corpo etéreo, quase translúcido de luz azul. A sua intensa aura passaria a ser notada por Amrel, percebendo assim que a mesma era capaz de envolver até os objetos à sua volta.

Ao lado do caminho, figuras humanas e de animais surgiam e desapareciam como se estivessem mergulhados em uma densa neblina de cor indefinida. Após algum tempo, tal neblina se dissiparia e Amrel se encontraria agora caminhando por um árido caminho, ladeado por pequenas árvores retorcidas que brotavam de um solo calcinado pelo sol.

Uma longa fila de esquálidas criaturas lentamente começaria a vir em sua direção, notando-se que, pelos andrajos e pequenos fardos que transportavam em suas cabeças, eram elas retirantes de alguma região da Terra onde a sobrevivência alcançara o seu limite. As criaturas pareciam vagar para lugar nenhum, sem destino em mente, apenas levadas pela poderosa força da sobrevivência. Assim, a longa fila passava ao seu lado, mas somente ele poderia percebê-la, mas sem, no entanto, poder tocar em alguém. As criaturas que ali passavam não se apercebiam de nada em volta que não fosse a imensidão vazia da ravina calcinada pelo calor abrasador.

De quando em vez, algumas pessoas da longa fila, estropiadas pela fome e sede que poderia ser percebida em seus miseráveis rostos, iam ficando para trás, caídas, exaustas, entregando-se mais cedo à sua morte física. Os que seguiam em frente, como que hipnotizados pelo medo, não conseguiam parar para socorrer os que se prostravam ao solo, ali aos seus pés. E assim, a fila continuava em passos lentos andando em frente, diminuída a cada passo pelo número de indivíduos que caíam e ficavam para trás.

Amrel, movido pela determinação de atravessar a região de Ankar, continuava em frente, tendo ao seu lado Amron, o guia invisível, em total silêncio.

A caminhada continuaria, e de repente, surgem à frente montes de escombros de casas destruídas pelo fogo e explosões. Entre os corpos de humanos e animais espalhados por ali, existiam alguns em que parecia restar ainda um fio de vida, notado por leves movimentos que ainda faziam, talvez os últimos, antes de exalarem o último suspiro. Gemidos eram ouvidos vindos das fendas daqueles amontoados de paredes e tetos das construções desabadas, dando a impressão de que ainda existiam naquele local algumas vidas que poderiam ser salvas, se houvesse alguém para socorrê-las.

Amrel estancaria os seus passos para observar aquele cenário tétrico por algum tempo, notando à sua volta rostos deformados pelo terror enfrentado por aqueles seres nos últimos instantes de suas vidas. Mais de perto, olhando agora alguns rostos, veria ali os olhos da morte que pareciam fitar o vazio, o invisível à sua frente, numa expressão gélida, não humana, que a morte mostra para os que ainda estão vivos. Aquela visão lhe trouxera uma sensação angustiosa ao refletir que aqueles seres ainda há pouco, vivos, se transformaram de repente em objetos, produzidos pela cruel mágica da morte.

Mais adiante, notaria próximo a um monte de escombros, um cão de pelagem negra, sentado em suas patas traseiras, ao lado de um corpo humano inerte, parcialmente coberto pela poeira e destroços de uma construção. Dali, varando a imensidão do espaço em volta, se ouviria o seu longo e penetrante uivo de clamor, como se fosse o único ser vivo que restara para prantear a morte em sua volta. E, naquele lugar, ao lado de quem poderia ter sido seu dono e amigo, em sua inocência e lealdade, teimava em permanecer, como se acreditasse no seu ressurgimento.

Amron, diante dessa visão, pensara por algum tempo sobre o valor da vida, de qualquer forma de vida, ali tão subestimada pela fúria do terror humano que teria realizado aquela dantesca obra de destruição.

Diante de tal fato, o seu coração se enche de profunda dor, revolta e de uma terrível sensação de impotência por presenciar aquilo e nada poder fazer .

_ Que valor terá a vida para os que foram o instrumento de destruição desses seres&
61503; – questionava.

- Onde estaria Deus naquele instante de destruição, que não segurou a espada e as balas dos assassinos dos seus semelhantes? Ele teria então permitido isso ?

_ Quem foi o crédulo que afirmou existir um Deus, sempre presente a tudo, de bondade infinita, justo e misericordioso? Quem afirmou tais coisas para os outros acreditarem deveria estar com a mente inebriada pelo poder da palavra e louca. Como se pode afirmar a existência de um Ser ao qual se atribui um poder infinito, onisciente, não estar atento para evitar tal tragédia&
61503; Pobre imaginação humana que acredita em tais mentiras milenares, passadas de geração a geração – questionaria Amrel, como se dirigisse ao seu guia invisível.

Amrel, em estado de profunda consternação, se prostra em seu caminho por algum tempo, como se estivesse enfraquecido para prosseguir a travessia pela terra de Ankar quando de súbito, a mão de Amron toca-lhe o braço para soerguê-lo, a fim de que continuasse a sua jornada.

Ao seu lado, Amron mantinha-se em silêncio, como havia dito que o faria, antes de entrar pelo portal de Ankar. Amrel, mesmo assim não se contém e agora passa de um sussurro a um clamor gritante, perguntando a Amron – Onde está Deus ?!!, onde está Deus?!!; pois se ele existe deveria aparecer e destruir o mal. Responda-me homem invisível, com o seu saber, a tão simples pergunta que faço!. Sei que você está ao meu lado, por sua forte vibração, e por isso pode me ouvir.

Amron, o guia, continuaria em total silêncio durante todo o tempo de sua travessia pela terra de Ankar, onde muitas visões se sucediam e desapareciam diante do olhar extasiado de Amrel.

Em certo instante, o caminho de Maat se alarga e a paisagem muda de uma árida terra ardente, para um verde e majestoso vale cercado de montanhas escarpadas, de onde surgiam de suas entranhas, cascatas de água em formato de véu, que se desfaziam ao ar antes de tocarem o solo para formarem os rios. Flores, luz e vida em todas as suas formas surgiam ao seu redor. O odor fétido e pesado da atmosfera de Ankar dera lugar a uma paisagem de deslumbrante beleza, de um ar puro, qual um paraíso, onde as várias formas de vida em toda a sua plenitude vibravam em harmonia.

Amrel, num misto de perplexidade e emoção não diz sequer uma palavra que possa ser ouvida mas, antes que isso possa acontecer, percebe ao seu lado a energia luminosa de Amron, que por longo tempo permanecera em silêncio.

O homem sentira então que acabara de transpor o portal de saída da terra de Ankar pelo caminho de Maat para a terra de Grom, ou terra da luz.











































CAPÍTULO V





As Respostas



Amrel notara que a figura do seu guia se tornara agora mais nítida, envolta por uma aura azulada em torno do seu corpo, que parecia definir-lhe a forma.

Os seus movimentos no entanto eram suaves, dando a impressão que flutuava um pouco acima do solo do caminho, como se não possuísse uma densidade material. De repente o guia pára e sugere a Amrel, com um sinal de sua mão direita, para que ele se sente junto ao tronco de uma frondosa árvore ali à beira do caminho, em um tapete de folhas que parecia preparado por mãos humanas para ser um assento. Amrel atende ao pedido e, por alguns momentos, fica sem ouvir som algum, num total silêncio como jamais houvera percebido. Aos poucos, no entanto, começa a ouvir chilreios de pássaros que não conseguia defini-los ou localizá-los, mas que eram sons muito agradáveis aos seus ouvidos, que o fariam sentir-se agora mais confortável, após as tétricas visões que tivera na terra de Ankar.

O seu corpo, no entanto, se encontrava como se tivesse perdido muita energia, mas que começara a se recuperar rapidamente após o contato com o tapete de folhas em que sentara recostado à árvore. Os sons da natureza continuam a serem ouvidos, vindos de várias direções, criando agora uma bela sinfonia, como se regida fosse por um maestro invisível.



Amrel, pela primeira vez tendo Amron ali ao seu lado em estado de luz visível, emitindo um brilho sem ofuscar seus olhos, sente que aquela presença lhe transmite segurança e paz ao mesmo tempo. Notara também que muitas de suas questões certamente ali seriam esclarecidas, desde que ele o desejasse. E assim, Amron fala...

- Andarilho, todos temos que enfrentar os nossos próprios receios e, através do questionamento gerado, certamente encontraremos o caminho para muitas das respostas que necessitamos – inicia Amron o seu diálogo com Amrel.

- A sua passagem por Ankar poderá ser muito proveitosa para o seu entendimento, se deixares de lado o preconcebido e começares a dar ouvido à sua consciência mais profunda. Isto porque este estado de consciência interior é a porta ou o elo de ligação da sua personalidade com a dimensão superior do conhecimento universal, que transcende o físico, ao qual ainda estás ligado. Este conhecimento, pela sua própria essência não pertence ao indivíduo, mas a todos.

Nos seus momentos de angústia procuravas a atenção de algo imaginário, fora de si, ao qual chamaria de Deus. Não encontrando-o, questionava. Este ser imaginário e todas as qualidades que lhe são atribuídas, são todos elementos de um universo relativo; na verdade, parte do desejo humano na busca permanente da satisfação das suas próprias necessidades. Este ser, se porventura existisse, teria sido talhado com o objetivo apenas de proteção individual, ou de um grupo de indivíduos. E sempre em qualquer ato de proteção, estaria se protegendo algo de alguma outra coisa, que poderia ser outro grupo que não fosse simpático a esse Deus particular. Isto iria de encontro às leis naturais e absolutas do universo, que não criam nenhuma distinção entre os grupos considerados.

Assim, passamos também a entender que a justiça e a bondade divina, como habitualmente concebidas pelo indivíduo humano, são mitificações convenientemente alimentadas pela mente, para evitar adentrar-se pela fronteira do desespero em suas aflições existenciais.

Isso cria de uma certa forma no ser, a esperança de uma realização que nunca será atingida, a qual o manterá na ignorância durante toda a sua curta existência.

Em decorrência do mesmo fato acima, a criação dessa divindade bondosa e de poder infinito, é uma outra abstração, originada pelo medo que toda criatura sente diante da sua finitude como elemento físico. Assim, a criatura, criando o seu próprio criador, o que é de certa forma paradoxal, sente-se como se estivesse protegida pela eternidade, o que seria outra concepção (a eternidade) que a maioria dos indivíduos é incapaz de assimilar, devido às limitações que possuem, decorrentes do seu atual estágio de desenvolvimento mental.

Diante dessas coisas, temos que descobrir uma maneira de nos realizarmos (sermos felizes), mesmo conhecendo essa realidade. Assim, o único caminho que nos restará pela frente será trabalhar a mente, através da observação e da meditação, o que nos levará a não aquilatarmos maiores valores aos parâmetros que inexoravelmente comandam a finitude e todas as suas implicações durante a nossa curta existência física.



Desta forma podemos entender que aquele ser imaginário dentro daquela concepção, seria por si só inviável a sua existência no Universo Absoluto, pois qualquer ação de sua parte para atender a uma contingência particular, poderia ir de encontro à realização das leis naturais sobre aquele acontecimento, as quais permeiam por todo o universo. Ou seja, Deus, nesta concepção, seria uma impossibilidade à sua existência no Universo Absoluto.

Por outro lado, a angústia que lhe causara a visão da morte nos rostos deformados e de olhar gélido e, transformados agora em objetos, certamente não seria uma angústia causada pela dor do outro, mas pelo temor extremo que tens da própria finitude, ao constatar a semelhança com os que ali jaziam, e por conseguinte também sentir-se extremamente frágil, dependente e impermanente como elemento vivo. No entanto, enquanto a vida flui naturalmente, longe de tais acontecimentos, muitos indivíduos, devido ao nível de desconhecimento das leis naturais, passam quase toda a existência alimentando a prepotência, arrogância e o egoísmo em seus corações, que sempre os levam para um mundo isolado e traiçoeiro. Por isso o impacto da visão do fim, leva-os ao desespero total.



Amrel, diante destas palavras, que lhe soavam profundas, procura entender melhor o seu guia, argumentando no entanto.

- Então, Amron, necessito que me explique com mais clareza, o porque daquela criação humana em que se colocou tanto poder.

- Amrel, para responder a tal questão, teremos que voltar no tempo do Universo Relativo, para que possas entender melhor.

- A mente humana, na busca permanente para compreender a sua própria existência e o Universo que o cerca, desde os primórdios do seu desenvolvimento, tem procurado atribuir as suas próprias características de sentimento a entes que criariam em sua imaginação.

Os seres primitivos, assim como o homem atual, proveniente da evolução daqueles, no início, devido ao seu pouco desenvolvimento mental, veria nas forças da natureza, um ente aterrorizante às vezes, e em outras vezes, benéfico e protetor. Assim, diante da constatação de sua extrema fragilidade como elemento físico, sem nenhum poder para dominar aquelas forças antagônicas, se criaria inicialmente na mente deste homem, a idéia da existência de um poderoso ente, possuidor de momentos de força destruidora e ira ameaçadora à sua integridade física, o que lhe encheria de temor e, em outros momentos, se apresentando extremamente benéfica para com ele. Diante desta duplicidade, os homens primitivos em evolução, tenderiam a dividir a poderosa energia criadora de todos os efeitos que os envolviam, em dois entes, um bom e outro mau, em função, respectivamente, daquilo que lhes era agradável ou daquilo que lhes era adverso. Com a evolução desta visão primitiva do seu universo consciente, chegariam por fim a criar uma multiplicidade de entes, que expressassem os seus sentimentos, em função da diversidade de efeitos produzidos pela poderosa energia natural.

Assim, em distintas partes do planeta, esta idéia ou visão subjetiva teria evoluído de forma mais ou menos semelhante e independente, em função do desenvolvimento destas civilizações; sendo que em algumas regiões, muitos mantiveram e alimentaram a existência de vários entes poderosos, ou deuses e em outras regiões, tais povos resumiriam com a existência de dois poderosos entes, o do bem, ao qual chamariam Deus, e o do mal, ao qual chamariam Demônio.

Assim, teria neste estágio, o homo sapiens atual, criado o seu próprio criador, e atribuído a este os sentimentos mais nobres e construtivos .

Esta evolução mental levaria, no entanto, o homem em particular, após a criação deste sentimento do bem, ao qual chamaria Deus, a revesti-lo de um caráter ideal, baseando-se em sua própria concepção pessoal do que seria o ser ideal. Agora estaria criado então o seu modelo, de onde seria refletido para todos o último estágio de refinamento dos sentimentos mais nobres, que o próprio criador daquela divindade, o homem, supunha existir.

Deus então, em última análise, meu caro Amrel, poderia ser na verdade um sentimento, e não um ente, e por conseguinte, algo em permanente evolução em cada indivíduo. Desta forma, por ser um sentimento pessoal ou coletivo, cada indivíduo ou coletividade possuirá a sua visão particular sobre isto.

Sabemos, por outro lado, que um sentimento, como todo sentimento, é uma vibração da energia mental, que se irradia por toda a volta e pelo Universo, o que em uníssono com outros nesta sintonia, gerará um grande poder transformador

Assim, nós seres de todo este Universo, tão mais evoluamos, pelo nosso próprio esforço, nos aproximaremos mais no nosso modelo ideal e imaginário que criamos.

Desta forma percebemos que somente as nossas mentes em evolução, têm a capacidade extraordinária de conceber tal modelo, tendo este como meta a ser atingida, mas que na verdade é inatingível, pois esse modelo estará sempre evoluindo em relação às suas características originais.



Conclui-se desta forma, que este sentimento seria inexistente, caso não houvesse a mente dos seres evoluído do seu estágio primitivo.

Um modelo em aperfeiçoamento, no entanto, o que não poderemos deixar de constatar, se ousarmos analisá-lo do ponto de vista universal das coisas, uma vez que todos tendem a evoluir pela eternidade.

Fragmentos do estágio primitivo no entanto, ainda subsistirá por longo tempo, dentro do ser humano como o conhecemos neste planeta, em decorrência do seu atual nível de evolução mental, que o leva a produzir também o mal para si próprio, para os seus semelhantes e para os seus irmãos menores, muitas vezes sem ter a visão deste fato, como tem ocorrido em toda a história da humanidade e como ocorreu na destruição que presenciaste.

Assim, cada um de nós, nos deparamos com um grande desafio, que será o nosso aprimoramento pessoal, o qual passará muitas vezes por grandes provas, até atingir o limiar da verdadeira razão, o que nos levará à felicidade, que é o objetivo de todos.



Amrel, agora, mesmo com a sua mente mais aberta para tentar compreender tais coisas, não conseguiria ainda assimilar muitos outros conceitos advindos desta constatação e, diante disto, volta para o seu guia.



- Pelo que posso entender, a inexistência deste ente como teríamos imaginado, permitirá então que todo o tipo de mal possa ser feito por qualquer um, contra qualquer forma de vida, sem que nenhuma força possa intervir para conter a sua trajetória destrutiva, como a chacina que presenciei antes. Entendo desta forma que estamos num universo absurdamente injusto e, por conseqüência, sem proteção contra qualquer força destrutiva vinda de nossos próprios semelhantes, de outros seres ou de ações da natureza.





- Caro Amrel, em parte a sua conclusão é correta, mas diria em parte apenas, pois, a consciência de cada forma de vida em sua permanente evolução, irá descobrir um dia o seu verdadeiro destino, que é integrar-se ao Todo, perdendo assim o seu sentimento de individualidade, quando então tais fatos que presenciaste deixarão de existir. Para a Energia Criadora Universal, se assim podemos chamar a que gera e transforma todas as coisas, conceitos morais e éticos estabelecidos por cada forma de vida, por cada sociedade ou indivíduo em particular, são próprios do seu nível de evolução e por isso tais conceitos pertencem ao Universo Relativo de cada um e a solução dos problemas gerados ocorrerá dentro deste mesmo Universo. Para a Energia Criadora Universal, no entanto, a aplicação das leis naturais em todo o universo é feita de forma absoluta para toda a matéria animada ou inanimada, independente daqueles conceitos. No Universo Relativo, que está também submetido àquelas mesmas leis naturais, o que produz o bem ou mal são os próprios indivíduos deste micro universo e, por conseguinte, os resultados decorrente de tais ações, positivas ou negativas que ali foram geradas, ali mesmo aparecerão. Assim, como vemos, não haverá meios de se escapar dos efeitos gerados por aquelas ações dentro deste sistema interdependente.

Uma grande angústia e decepção toma conta de Amrel, que apesar de um tanto descrente, ainda em sua mente lembrava os ensinamentos que havia recebido, que seria, se o bem fosse feito a alguém ou a alguma coisa, bem equivalente receberia de volta, o que o estimularia a produzir o bem devido ao seu retorno. E por esta mesma visão, quem jamais tivesse feito o mal, nunca seria alvo dele. Mas o que acabara de ouvir não teria dado esta resposta, e sim ao contrário, passaria a entender que se praticasse ou não o bem junto ao seu semelhante, estaria nas mesmas condições de quem havia feito o oposto. Este sentimento no momento seria reforçado pelo que acabara de presenciar.

- Pois, que culpa teriam aquelas pessoas vítimas da guerra, para serem submetidas a tais sofrimentos? Diriam então que estariam sofrendo as conseqüências de faltas cometidas no passado? E mesmo se tais faltas tivessem sido cometidas, que justiça haveria para estes seres estarem passando agora por tal adversidade, sem no entanto terem a menor noção por que tais fatos estariam acontecendo em suas vidas? Que lição poderia advir para essas vidas, penalizadas na total ignorância? Tudo isto me parece um grande absurdo! E os animais, inocentes e frágeis diante de todo aquele sofrimento; teriam cometido também algum mal, apesar de não possuírem em suas mentes este conceito? - questionaria Amrel.



Amron percebe então o questionamento angustiante daquele homem.



- Caro Amrel, compreendo que a visão, dita espiritual, de se doar algo a alguém ou a alguma coisa, para se ter de volta alguma forma de benefício equivalente ou maior, tem sido a base dos ensinamentos da maioria das crenças da humanidade. Diante desta base de ensinamentos, tais crenças, ou os que as lideram, criaram um verdadeiro banco de negociação, primitivo e imediato, que benefícios apenas materiais lhes trazem; pois através do medo ou do terror infundido nos seus semelhantes, conseguem adquirir aqueles benefícios. Na verdade esta é uma visão bastante primitiva da vida como um todo, pois só se preocupam não no ato de doar em si, mas nos benefícios do retorno. Na verdade, a prática do bem, em pensamento ou ação, deveria ser entendida e realizada como ato solitário de cada indivíduo, sem nenhuma cobrança ou expectativa de retorno, uma vez que seria uma atitude para com o Universo, do qual ele é parte.

Quanto ao sofrimento, seja o do físico ou da alma, é algo que temos que compreender que ele é parte inerente a toda forma de vida. Isto significa então que seja o indivíduo o mais ambicioso, insensível ou sem compaixão para com os outros seres, ou ao contrário, seja um iluminado e altamente compassivo para com todas as formas de vida, nenhuma postura evitará que o sofrimento aconteça. No entanto, para este último, os sofrimentos ou agruras da existência, além de se apresentarem amenizados, por maiores que estes sejam, este indivíduo sempre retirará daquilo muitas lições importantes e enriquecedoras para a sua evolução.



Tudo isto, por outro lado, não significa que o sofrimento deva ocorrer para que o indivíduo possa evoluir.

Amrel, atento às palavras do seu guia, em princípio, passaria a entender que na verdade todos estaríamos ligados a um destino infalível desde o nascimento, e não haveria nada que pudesse fazer para mudá-lo. Isto o angustiaria profundamente, por não encontrar saída que pudesse mudar os fatos em sua volta. Tal pensamento, no entanto, se transformaria em um questionamento que Amron não deixaria sem resposta, para uma profunda reflexão mental naquele homem.



- Caro Amrel, devemos procurar entender que as leis naturais do universo jamais determinaram um destino infalível, um determinismo absoluto para os seres que o compõem. Assim, em princípio, a convergência, a divergência e a intensidade das forças que agem ou agiram no universo, em todos os instantes, é que determinam o acontecimento presente.

Na verdade, uma observação atenta de todos os fenômenos e acontecimentos anteriores que deram origem àquelas forças, se fosse possível fazê-la, nos levaria a uma clara constatação de que o acontecimento presente, é a resultante de uma multiplicidade de acontecimentos anteriores. Se quisermos, poderemos chamar a isso determinismo ou acaso. Diante disto tudo, no entanto, podemos dizer que o presente de cada indivíduo, não estaria em absoluto ligado ao sentido de destino, que habitualmente damos ao acontecimento, pois aquele só existe, em decorrência dos parâmetros daquelas forças anteriormente mencionadas, que ao interagirem ao longo do tempo, criaram o fato presente.

Questionaríamos então, que para o indivíduo não restaria opção, senão aceitar os acontecimentos que advirão, não restando para o mesmo nenhuma alternativa para mudar aquilo?. Isto na verdade não é um fato, uma vez que parte daquelas forças são decorrentes da própria vontade individual, de determinação clara da sua mente, que assim quis e realizou. A vontade do indivíduo e do meio, irá sempre se juntar para trazer um resultado final, o qual poderá estar mais próximo ou distanciado do querer individual, dependendo da sua força mental, do seu querer.

Assim, a cada instante, poderemos mudar a trajetória das nossas vidas e muitas vezes de outras, dependendo do nosso querer individual, uma vez que isto é uma das componentes da resultante final de um acontecimento. Assim, o presente estado das coisas é o resultado das influências das ações ditadas por seres e fatos naturais desde um passado remoto, os quais, associados numa extensa malha de acontecimentos que se sucederam ao longo do tempo, produziram o presente, o agora. Desta forma, também constatamos que o nosso AGORA, é o momento apropriado para mudarmos acontecimentos presentes e futuros.

Um fato presente, por mais singular que possa parecer-nos, é na verdade um acontecimento único no espaço e no tempo em todo o universo e jamais se repetirá com absoluta identidade. Em decorrência disto, nenhum fato acontecido poderá ser apagado por uma correção futura, pois aquele continuará sendo único e uma componente passada que irá interferir e pesar, para acontecimentos presentes e futuros.



Amrel passaria a entender que o destino, dentro da conceituação que acabara de aprender, na verdade não existia, mas sim que o seu próprio querer individual, que também associado ao de outros indivíduos, poderia gerar efeitos benéficos ou maléficos para todos, dependendo apenas da intenção dos mesmos.



Amrel, sentado ao pé da frondosa árvore, ao lado de Amron, cercado pelos jardins de Grom, podia agora apreciar ali à sua frente, o correr manso de um pequeno riacho de águas cristalinas, cercado de plantas ciliares que pendiam seus galhos floridos para o seu leito. O homem detivera o seu olhar para observar como a fluidez da água que contornava graciosamente os grandes e pequenos seixos que afloravam no seu caminho, criava múltiplos reflexos com o seu movimento, seguido de um manso ruído produzido pelo seu impacto com aqueles obstáculos. Amrel notara também que, trazidas pela água, surgiam de vez em quando algumas folhas ou fragmentos de pequenos galhos de árvore que suavemente desciam a corrente, e que se desviavam por vezes para as margens, onde ficavam presos por algum tempo às raízes que ali afloravam. Em um certo momento, junto com a folhagem, viera um pequeno besouro de asas escuras e dorso vermelho, que tentava desesperadamente escapar do meio líquido, agitando suas minúsculas patas, num nadar frenético, tentando prender-se a qualquer objeto que lhe tocava em volta. Aquela observação para Amrel era ao mesmo tempo calmante e inquiridora. Calmante, pela paz que aquele micro universo trazia para a sua mente, levando-o ao desligamento desta, dos problemas irreais criados. Inquiridora e inquietante, por razões mais profundas, decorrentes de fatos já vividos ou visualizados naquele agora.

Assim, presenciara ali, uma forma de vida, aparentemente tão simples, como a do besouro, tentando escapar da correnteza para as margens, à procura de um lugar seco, tendo como objetivo único, naquele momento, preservar a sua própria vida.

- Que tanto valor teria a vida para aquela criatura, que naquele esforço se assemelhava a qualquer humano, com o mesmo objetivo? – questionaria.



Amron, em sintonia com os pensamentos de Amrel, podia entender perfeitamente aquele questionamento, que de certa forma considerava natural. No entanto, uma resposta simples para aquele homem jamais poderia ser dada naquele momento, a fim de que ele pudesse compreender o que seria a vida, em sua essência, e não apenas porque o pequeno besouro lutava para livrar-se da correnteza.



Amron, diante do riacho, chamaria agora a atenção de Amrel para que ele atentasse naquele momento, não somente para o espaço próximo, mas também levantasse a sua vista para a paisagem em volta e, mais distante, até o limite do horizonte.

_ O que tens agora diante dos teus olhos, Amrel ? – Inquiriria o seu guia.

Amrel, ainda contemplando a belíssima paisagem à sua frente, diria:

– Bem, estou vendo o que certamente também está vendo; uma terra repleta de árvores, riachos, animais terrestres, montanhas ao fundo e muitos pássaros cruzando um céu profundamente azul, salpicado por algumas nuvens, que lembram flocos de algodão lançados ao ar. Vejo, na verdade, um número imenso de formas de vida que compõem esta belíssima terra – concluiria o homem.

Amron, atento àquela resposta, silencia por algum tempo, como se quisesse organizar o seu pensamento para uma longa e profunda explicação para aquele homem.



- Caro Amrel, para que possas entender por que o pequeno besouro tanto lutava para deixar a água, como qualquer humano consciente o faria, seria necessário voltarmos a pergunta para uma primeira fase – o que seria a vida? Como podes observar e também sentir, todo ser vivo possui um instinto primário de preservação da própria existência; desde o reino vegetal ou animal, como o besouro por exemplo, até as manifestações de vida mais evoluídas e complexas do universo.

Este instinto primário de preservação e o processo de adaptação e evolução de todas as manifestações de vida no universo é parte da inteligência absoluta da Energia Criadora Universal, ou seja, é parte intrínseca da manifestação do ser.

A Essência da Vida é única, indivisível e absoluta. Não existem vidas separadas, não existe mais de uma vida. O que percebemos é um número infinito de manifestações dela.

Assim, para o caso da manifestação física, devemos entender que dentro do processo de transformação contínua do Universo, o átomo mais simples que hoje pertence a uma célula de um corpo físico, poderá ter sido parte integrante da matéria que compunha uma determinada estrela, planeta ou nebulosa no passado distante, e que este mesmo átomo poderá pertencer à matéria de uma outra galáxia ou ao corpo de uma outra forma de vida no futuro, em qualquer parte do Universo. A sua essência anímica, como todas as outras, no entanto, continuará sendo como sempre foi, parte inseparável da imensurável Força Criadora Universal, que a tudo penetra e que gera todas as transformações.

O Universo é único e infinito, como a força que o mantém e o transforma continuamente. Como tudo pertence à mesma unidade, podemos sentir que esta energia infinita parece confundir-se com a própria substância gerada, abrangendo assim toda a sua gama de manifestações, desde o bruto, palpável, por nós detectado através dos sentidos rudimentares, até as manifestações da sua energia superior, as quais não podem ser percebidas por aqueles sentidos.

Assim todos (os seres) somos unos naquela natureza e assim parte integrante do Todo e daquela energia.

Vendo desta forma, passamos a entender que a história do Universo como um todo, não estaria completa sem a nossa própria história ou a do verme mais insignificante para nós, pois todos são manifestações da única vida que existe. E o grau de importância de todos os seres é absoluto, pois, sem as suas existências e as suas ações como parte do Todo, junto com as existências e as ações de todos os outros componentes do Universo, este não existiria.

Você(como todos) é importante como parte do Todo e inexistente sem isto, assim como o Todo não existiria sem Você. Diante disto, podemos sentir que todas as transformações ou manifestações no Universo operam comandadas pela força resultante e gerada a partir da Energia Universal da qual fazemos parte; e por conseguinte eu e você também participamos do destino do Universo.





Amrel concentrava toda a sua atenção nas palavras do seu guia, a fim de não perder o sentido daquelas mensagens. Mas ainda muitas coisas pareciam absurdamente ilógicas para a sua mente. Como poderia supor que um simples verme ou um rato teria a mesma importância que ele, um ser inteligente, questionador, e tão evoluído em relação a estas outras espécies? – assim pensaria.

Amron, atento ao seu aluno e às suas indagações, sempre buscava a forma que julgava mais apropriada para uma resposta, a fim de que este pudesse ter uma compreensão maior do aparentemente intrigante fenômeno da vida. Mesmo para um guia iluminado como ele, as respostas e a decorrente compreensão delas não poderiam ser totais.

- Um homem _ diria Amron _ é na verdade o produto da sua origem física(genética), de sua herança mental, do ambiente e cultura em que vive e provavelmente de muitos outros fatores que desconhecemos. Durante uma vida, o ambiente e sua cultura pesam de maneira muito forte na sua formação. Por isso, para o encontro com o verdadeiro conhecimento que o fará evoluir, este homem terá que romper alguns desses laços, libertar-se de todo dogmatismo e dos conceitos de fé que lhe induziram.

Diante disso, Amron dirige o seu olhar para Amrel, continuando a sua explicação sobre os vários níveis de manifestação e a relação entre eles.

- Caro Amrel, é importante entender que toda forma de manifestação de vida(ser) possui um centro de controle que, entre outras coisas, gerencia as necessidades básicas de manutenção de sua existência e adaptação física. No entanto, o seu nível de desenvolvimento mental anterior é que ditará, de uma certa forma, a sua capacidade físico-cerebral, onde essa essência anímica irá instalar-se durante o seu tempo de manifestação física. Este desenvolvimento, no entanto, é algo extremamente complexo e difícil, para se fazer dele uma avaliação e defini-lo quantitativamente, como habitualmente gostamos de definir as coisas. Ou seja, do ponto de vista dito científico. Mesmo uma avaliação qualitativa, ainda seria difícil fazê-la, diante da infinidade de enfoques que poderíamos dar para basearmos tal avaliação, mesmo considerando espécies diferentes para compararmos. Um fato, no entanto, podemos avaliar, é que cada manifestação de vida em particular, se encontra em um determinado estágio de desenvolvimento no Universo, não importando em que forma física ela habite no momento e a sua visão ou sensação deste Universo definirá, certamente, aquela posição. Assim, podemos dizer que como elemento físico, o homem, o rato, o besouro, ou qualquer outra forma de manifestação, possui o mesmo valor diante das leis naturais; - uma grande pedra que rolar do alto da montanha para o desfiladeiro, em sua trajetória, esmagará o homem ou o rato que ali estiver, mantendo assim o estabelecido por estas leis. No plano do desenvolvimento mental, no entanto, ao homem, como no caso do exemplo acima, caberá uma responsabilidade infinitamente maior, pelas ações que de modo consciente ele venha tomar perante a Consciência Universal, da qual ele e o rato fazem parte.

Em decorrência disto, Amrel, ao nos encontrarmos diante de qualquer um daqueles seres, na verdade estamos diante de um irmão menor; irmão pela origem comum, pela natureza, que é a mãe de todos os seres. Podemos ainda, em decorrência deste fato, ver nestes irmãos menores, o nosso estágio anterior de manifestação de vida, o que nos inspirará a termos um grande respeito e profunda compaixão por eles.

Como podes perceber, não precisarás de nenhum dogma ou base de fé em um poder fictício para compreender estas palavras. Pois elas fluem para a sua mente de modo natural, o que de certa forma serão facilmente entendidas.



A partir deste momento o ser se tornará um buscador da verdade, onde neste processo, as constatações substituirão os dogmas e a fé.



Amron pede então ao seu guia que esclareça melhor o que seria um buscador da verdade.



_ Bem, Amrel, a busca pela verdade é uma ação interminável, empreendida pela alma humana; ela, a verdade, jamais será alcançada em sua plenitude, tendo em vista a sua própria estrutura infinita, onde a mente que a busca, neste processo encontrará mais conhecimento, que por sua vez a aperfeiçoará, tornando-a cada vez mais clara, ou desfazendo a sua visão anterior que dela possuía, o que fará a mente tomar novas direções. Assim, o aprimoramento do nosso conhecimento, e por conseguinte, da nossa visão interior, nos levará cada vez mais à frente. Diante disso, poderemos sentir quão inatingível é a verdade absoluta, pois somente o Absoluto a possui. E assim, quanto mais a buscarmos, tão mais a teremos enriquecida, o que para isso teremos a eternidade. Diante disso, qualquer um que venha declarar possuir a verdade total, estará, ipso facto, se aprisionando dentro de um círculo menor, dentro de um micro universo pessoal, que o levará à cegueira real, por falta de visão das coisas que estariam além deste círculo, longe do conhecimento externo e dos seus semelhantes. Por isso, possuir uma mente aberta, seria o primeiro passo para entender aquele processo e enriquecer o seu conhecimento.

- Assim - prossegue Amron – um buscador da verdade passará a descobrir em seu caminho uma realidade mais ampla sobre si mesmo e sobre o seu universo em volta e, por conseguinte, mudará a maneira de valorizar as coisas. Isto, porque passará imediatamente a ter uma real consciência sobre a sua transitoriedade como elemento físico, assim como em todas as outras coisas no universo; desta forma, todos os valores de poder e glória que julgava agregados à sua vida material perdem o brilho, se tornam irrelevantes. A constatação desta realidade no início poderá produzir um enorme impacto em sua mente, pois passara muito tempo acreditando que tais valores eram muito importantes e permanentes. Mas a seguir, o buscador, continuando a sua jornada, descobrirá novos valores, antes escondidos, mas desta vez, não valores pessoais, egoísticos, mas valores reais e permanentes que o mostram como partícula integrante do Todo. E então, naturalmente passará a florescer em sua mente aquele respeito e compaixão por todos os outros seres aos quais me referi anteriormente. Tais sentimentos fluirão naturalmente, não existirá nenhuma obrigatoriedade em nada, nem mesmo um preceito ou um mestre a ser seguido, pois a mente de um buscador encontrará facilmente o caminho a trilhar.



Amrel, agora compreendendo as palavras do seu guia e revolvendo em sua mente alguns fatos do passado, passa a sentir-se culpado por erros que cometera e que somente agora os reconheceria, diante desta nova visão que estava tendo. Assim, pergunta a Amron:

- Amron, diante do que acabei de ouvir, agora sinto-me culpado por alguns atos e pensamentos errôneos que cometi no passado. Como eu poderia ser julgado por isso ?.

- Caro Amrel, nada externo poderia julgá-lo, pois julgar verdadeiramente uma ação qualquer de outro indivíduo, torna-se uma empreitada impossível, mesmo para a mente mais sábia, uma vez que a avaliação de cada fato ou ação cometida pelo outro, implicaria em que esse juiz tivesse a mesma visão do fato em julgamento, de dentro do mesmo universo e condições do autor da ação que pretende julgar. O que implica que somente o próprio indivíduo, comitente da ação, poderá ser o seu juiz.

Diante disto, nenhuma ação ou pensamento poderá ser qualificado como negativo ou positivo, maléfico ou benéfico do ponto de vista ético ou moral, não importando qual tenha sido ou poderá ser o seu efeito, se a mente que o produziu assim não o considera e, em decorrência disto, não pesar em sua consciência individual.

Assim, em todo o Universo, cada mente irá ditar o seu comportamento em pensamento e ação, em função do seu nível de evolução, o que, em muitos casos, estará em dissonância com o pensamento ético e moral coletivo.

Assim, em decorrência da visão particular de cada um, o peso de um acontecimento, por mais impacto que possua, pesará de forma diferente para cada indivíduo do grupo envolvido no dito acontecimento.











CAPÍTULO VI



A Energia



Agora, para Amrel, um mundo diferente estaria despontando para a sua mente; em um universo sem a existência de um deus todo poderoso para guardá-lo ou protegê-lo, ou vingativo, para puni-lo por suas falhas; mas também, sem um demônio igualmente poderoso para tentá-lo ou atormentá-lo. Sem um céu de recompensa só para humanos após o desenlace físico, mas também sem a imagem macabra de algumas crenças humanas com o terror de um purgatório ou de um inferno calcinante e eterno para as almas que não seguiram o estabelecido pelos dogmas, durante o seu tempo de vida material. Vivendo em um universo onde não existirão milagres, mas tão somente acontecimentos regidos pelas leis naturais, muitas delas ainda desconhecidas, mas que serão comprovadas mais cedo ou mais tarde pela ciência humana quando ela tornar-se holística em sua essência; e assim, tal crença em milagres só poderá ser creditada à total ignorância daquelas leis que promoveram tais acontecimentos. Mas também, em um universo onde o seu sofrimento ou o seu júbilo, a sua glória ou o seu poder na verdade, tudo se mostraria efêmero. Passaria a ter uma consciência de que estaria existindo em um lugar onde o seu valor diante das leis da natureza como elemento físico, seria o mesmo de um rato ou de um inseto, não importando o que ele próprio represente para os seus semelhantes; mas por outro lado, como mente inteligente neste nível de evolução, sentia que lhe caberia uma grande responsabilidade pelos pensamentos e ações conscientemente praticados perante este mesmo universo. Sentia-se agora em um universo real, regido por leis imparciais e absolutas, provenientes de uma natureza ainda incompreensível em certos aspectos; num universo aparentemente caótico mas, na verdade, absolutamente organizado, se observado com inteligência e imparcialidade, ou seja, com uma mente livre de dogmas pré-estabelecidos. Sentiria também que, sendo uma manifestação de vida inteligente e sequiosa de saber, através do seu querer individual poderia traçar o seu próprio caminho durante esta maravilhosa experiência de manifestação de vida e transformar a sua brevidade em quase eternidade. Assim, o seu comportamento seria regido mais por sua intuição do que por uma lógica padronizada, onde a sua transparência em pensamento e ação, na sua relação com os seus semelhantes, poderia ser uma constante, e não uma eventualidade, procurando em cada dia ser cada vez melhor.

Agora, diante desta nova visão de si mesmo e do universo, Amrel cogitaria sobre o que poderia ser todo aquele poder criador e sua energia infinita e qual o seu propósito.

Amron, atento ao seu aluno, continuaria a guiá-lo em seu caminho, e assim tenta respondê-lo.

- Caro Amrel, a Energia Criadora Universal é a única força criadora do Universo e a sua liberação é que origina as transformações de qualquer espécie. Ela é a energia-inteligência, absoluta e, assim, todo acontecimento é possível, dependendo apenas do nível de energia liberado. Desta forma, tudo que existe, detectado ou não pelos nossos sentidos, é parte da infinita gama de vibrações desta energia inteligente em ação.

Vendo de uma forma global, percebemos que jamais poderíamos qualificar de boa ou má a Energia Criadora Universal, visto que é a única coisa realmente absoluta que existe, e para tal, adjetivos se tornariam impróprios.

Por ser absoluta, não poderíamos imaginar forças antagônicas e de igual poder, como o Bem e o Mal, ou Deus e o Diabo, coexistindo no Universo. Tais qualificações, no entanto, possuem valores relativos e são criadas por nossas mentes individuais, por conveniência e para satisfação de nossas necessidades ou interesses pessoais. O Bem e o Mal, no entanto, existirão sempre na avaliação mental dentro do micro universo humano(universo relativo), enquanto o individualismo exacerbado existir.

Quanto à avaliação da sua grandiosidade ou poder, torna-se uma impossibilidade evidente, pois como já foi dito, não podemos lidar com o Absoluto ou com o Infinito. Nenhuma mente de qualquer nível de manifestação no universo, por mais evoluída que seja, poderá fazer qualquer avaliação. Mesmo porque surgiria uma outra impossibilidade: - se somos (como manifestação de vida) partícula de um universo infinito e de sua energia infinita, como poderíamos estar fora dele para apreciá-lo e avaliá-lo?. O Infinito conterá sempre todos os espaços e dimensões os quais transcendem à nossa imaginação e, tentar concebê-lo seria pura divagação.

Quanto ao propósito de tudo isto, a resposta nos levaria à mesma impossibilidade, pois tentaríamos lidar com o Infinito e Absoluto.

Como estás vendo, meu caro Amrel, para muitas questões jamais teremos a resposta. Tentar dar qualquer outra explicação, nos levaria a uma divagação filosófica inconsistente, ou seja, nos levaria ao dogmatismo da maioria das crenças humanas atuais, as quais só atrasam o desenvolvimento mental. Mas, para chegarmos a todas essas conclusões, necessitamos cada vez mais expandirmos a nossa mente com o conhecimento advindo da observação continuada do fenômeno da vida e através de uma meditação profunda sobre tal fato. Por isso, o mais importante no momento, neste estágio de manifestação de vida, é termos em mente que o mais importante é procurarmos compreender aqueles fatos e aproveitarmos cada AGORA, pois este é um instante único em nossas vidas, para realizarmos o melhor que possamos. Buscando através o nosso lado subjetivo o verdadeiro conhecimento e deixando de lado a permanente preocupação de que se iremos manter ou não esta individualidade(que também evolui) após a cessação desta manifestação atual. Isto porque, se fazemos parte de um número infinito de manifestações da única vida que existe, e por conseqüência eterna, não faria nenhum sentido tal preocupação.

Amrel, ao ouvir e meditar sobre todos aqueles ensinamentos do seu guia, passaria então a entender muitos fatos que lhe pareciam inexplicáveis no passado.

Dali, sentado em seu tapete natural junto ao tronco da frondosa árvore, apreciando a bela paisagem do jardins de Grom, sentia-se, agora, não mais como um indivíduo isolado dos outros seres em volta, mas como parte integrante de um Todo, de uma natureza viva.



De repente, uma leve chuva começaria a cair, trazendo aos seus ouvidos o som dos pingos da água chocando-se contra a folhagem acima. Amrel, neste momento, percebe então que a aura azul do seu guia, ali ao seu lado, aos poucos aproxima-se mais dele, envolvendo-lhe o corpo como se parte deste fizesse, o que lhe transmite uma sensação de leveza e paz como jamais sentira em toda a sua vida. Agora, com os pingos da chuva mais fortes caindo em seu rosto, Amrel por fim despertaria, voltando para a sua dimensão anterior, no local em que se encontrava quando adormecera, sentado junto ao tronco da velha mangueira.







FIM













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