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cronicas-->Na rua Luz -- 27/12/2001 - 02:29 (Leonardo Alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na rua luz

À rua em que eu moro, num prédio frio, foi reservado, não sei por que, o singelo nome de Luz. E é engraçado, pois há um tempo atrás, padecia a coitada de uma verdadeira crise de identidade, pois um grupo compacto de árvores colossais a ciceroneavam, transformando seus dias em um exemplo de penumbra de bosque. E à noite, eram parcos postes amarelados que teimavam, mas concediam-lhe um débil lumiar de interior. Apesar disso, tinha eu por ela e, sobretudo por seu nome, um certo orgulho velado. Muito me envaidecia dizer a um estranho que resido na transcendente rua Luz, que suscitavam quiçá imaginações sem fim, não em uma rua JK ou Getúlio Vargas ou em um mais obscuro Estevão Pinto. Hoje, por um medo até razoável dos meus vizinhos, as árvores já se conservam mais despidas e os poste borbulham de làmpadas brilhantes. A rua, enfim, se encontrou.
E é pra essa rua que olho, noite alta, e vejo encostar um carro. Prateado e novo, de um modelo para bolsos bem servidos, penso eu, mas isso pouco importa. Importa é que do passivo banco do carona desce uma mulher. A reconheço de longe, é a jovem dona da casa em frente. Procurei o marido, não estava. Segue a passos que me despertam um interesse incomum e logo sei porque. Vinha ela de que jantar de negócios, que happy hour, que esticada com o pessoal do trabalho. Podia ser qualquer uma das opções, e seus passos eram de quem supunha uma espreita em sua própria casa. Não eram decididos, como quem assume um pecado ou tem um vislumbre. Tampouco foi pé ante pé escondendo o estampido dos saltos na calçada, anunciou serenamente sua presença avexada. Parecia saber apenas da verdade de sua vida, seus atos e consequências. Não se espantou, como eu, que cheguei a achar que era obra de alguma artimanha tecnológica, quando a luz da saleta se acendeu, ao toque da chave no portão. Entrou conformada, o carro partiu e parecia não deixar um mero vestígio, ela não olhou para trás. Sumiu porta adentro, a luz se apagou minutos depois, não ouvi um pio.
E fiquei aqui a imaginar coisas. Com a imagem daquela mulher cabisbaixa, que ingressava na sua masmorra, talvez por ter traído, talvez por que não conseguira. De qualquer forma, ia triste, ressabiada de si mesma, de como seguia sua vida. Encontrar sabe lá que homem naquele com que se casou, ali na saleta. Explicar sem vontade um paradeiro pouco importante. Encarar um olhar severo e, talvez desanimar, mais uma vez, de querer enxergar nele uma faísca antiga. Perceber que não lhe devia nada e, diabos, tampouco era cobrada devidamente. Escovar os dentes no meio de um acordo mudo de não agressão e dormir, servindo-lhe os últimos resmungos como música de ninar.
Provavelmente eles se amam, provavelmente esse casal se amou. Uma época julgaram não existir possibilidade alguma de vida a mais que um metro um do outro. E foi então que construíram sua pequena igreja na rua iluminada.
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