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Cronicas-->Casamento -- 28/12/2001 - 00:29 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Aceito!

Há de se concordar que é um momento quase mágico. Homem apaixonado é uma coisa assim, no mínimo, emocionante. O olhar de sonso, o andar inseguro, uma volta à infància, um desejo de abraçar cada um dos convidados da igreja, uma sensação de que, dali em diante, a vida não será a mesma. Mudará radicalmente - pra melhor, o sujeito supõe. Nada de pagar para vagabundas saciarem aquele apetite sexual que aflora às sextas-feiras. Apetite este comprovado por pesquisas de cientistas ingleses (ou seriam irlandeses? Sei lá! Li em algum canto da internet que os cientistas bateram o martelo que os machos - no àmbito animal - são mesmos tendenciosos a bajular as fêmeas com o objetivo puramente sexual). Chegar em casa sem ter que ouvir os sermões da montanha, da serra, de todo o relevo da face da Terra. A liberdade de esquecer uma lata de cerveja dentro do congelador. O direito de ir e vir, assegurado pela Constituição e referendado pela obrigatoriedade do vale-transporte. Sim, ele diz sim. Um amigo qualquer insinua que a alegria durará pouco.

- Você é mal amado!... - gargalha.

Dois meses são suficientes. As vezes menos, as vezes mais. Na média, dois meses. O primeiro futsal combinado com os amigos. Nada de avisar a mulher. "Que nada, ela nunca ligou pra essas coisas..." Tudo acertado. Jogo no sábado de manhã, dez horas. Divulga-se que será às nove, para o pessoal do time não se atrasar. Dez paus de cada um. Pro churrasco. Pra cerveja. Pros pagodeiros que darão uma canja depois da pelada. Quem sabe, depois da diversão, ele não passa na floricultura e leva um ramalhete de rosas vermelhas. Rosas da paixão, que é pra mostrar o quanto está sedento em reencontrar a esposinha subserviente, cheirosa, ainda com os seios eretos em formato de pêra-macho, pele lisa, cabelos cuidados e sorriso aberto, espontàneo. Uma macarronada ao sugo, vinho tinto - mas não qualquer vinho. Chileno, encorpado, doze reais a garrafa. Ela sempre está disposta a oferecer surpresas. Duas ou três semanas atrás fez festa de aniversário surpresa. Chamou os rapazes do futebol, o chefe, o pessoal do escritório, a vizinha da sogra, 1,75m, morena, cintura fina, pernas de passista da Portela. Até aquela cunhada que torcia contra o casamento. Tudo seria perfeito naquele sábado. Faria um gol de placa.

- Querido?

- Sim, amor.

- Me leva na minha mãe amanhã?

Ok. Levá-la à casa da mãe significaria atravessar a cidade. Sair da Zona Norte e ir à Sapopemba. Não seria assim um sacrifício - pelo menos com dois meses de matrimónio. Mas em dezembro, antes do Natal? Nem que saísse às quatro da manhã daria tempo de voltar para o futsal. Ele argumenta que marcara um salãozinho para as nove. Quem sabe se ela ligasse para a irmã não conseguisse uma carona... Ela faz o primeiro bico. "Mas justo amanhã, por que não me avisou?" Ele sente vontade de fazer a mesma pergunta. "Ir à casa da sua mãe em Sapopemba amanhã, por que não me avisou?" Ficam mudos. Ela insinua que ele tem mais é que se divertir mesmo, que não tem problema, que ela espera o futebol, mesmo não entendendo a graça que existe em jogar futebol.

- Que bom que entendeu, mó! Assim que acabar o jogo, prometo que te levo.

- Também, pudera!... Sua mãe mora aqui no mesmo quarteirão... É compreensível que não sinta saudades.

Até que provem o contrário, a semana tem sete dias. E ela sempre dava um jeito de ir à Sapopemba pelo menos três vezes por semana. Ele se incomodava, mas nem tanto. Contudo, depois daquele episódio, achou (ou comprovou) que estava passando por otário. "Pó! Martha não sai da casa da mãe..." E justamente no dia em que combinara uma bolinha, ela vinha com aquele bico e aquela cara de quem comeu e não gostou. O pior da história é que Ritinha - a secretária do patrão - viera trabalhar naquele dezembro com uma saia curta vermelha maravilhosa. Quer dizer, curta com ela ereta, porque quando ela sentava... além disso, o decote de sua blusa exibia três quartos de seus imensos seios. Uma Pamela Anderson perdida sob os trópicos. A visão de Ritinha lhe inspirara para a noite com a recém-esposa. "É hoje..." Ele se aproximou da mulher. Aquele aproximar maliciosamente ingênuo, despretensioso. Ela se afastou. Ele tentou mais uma vez. Pensava na saia vermelha e no chute de esquerda que daria na manhã seguinte - que culminaria numa bola no àngulo.

- Estou cansada.

Esta frase decreta o início do declínio do casamento.



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