A SERVIÇO DA INDÚSTRIA DO ARMAMENTO
Fernando Zocca
No dia 23 de outubro haverá no Brasil, um referendum com o qual as autoridades desejam saber da população, se deverão proibir a indústria e o comércio das armas de fogo e munição no país.
No dia 3 de outubro, segunda-feira, 20 dias antes da consulta ao povo, a rede Globo de Televisão levará ao ar uma novela do sr. Mário Prata denominada Bang Bang.
Uma grande parcela da sociedade brasileira, já pôde perceber, pelas chamadas insistentes, que o tema do folhetim tem a ver com as armas, tiros, e violência, introduzidas de leve, com doses generosas e lubrificantes de muito bom humor.
É claro que a indústria de armamentos, disseminadora de objetos ligados diretamente à morte, violência e lesões gravíssimas tem um poderio econômico suficiente para defender, por tais artifícios, os seus interesses.
Quem gosta da leitura de jornais conhece o sr. Mário. Articulista famoso do jornal O Estado de S. Paulo, escreveu alguns livros e uma novela, transmitida pela rede Globo de Televisão, nos tempos de antanho.
Algumas jovens, conhecidas do autor, numa ocasião, embaladas pelas ondas do deslumbramento, construíram um site na internet denominado-o "Anjos de Prata". Era uma homenagem sincera das fãs, ao escritor famoso e venerado.
O sucesso do site levou as autoras ao lançamento de alguns livros compostos com as crônicas publicadas no "Anjos de Prata". Tomadas pelo entusiasmo, solicitaram ao nobilíssimo autor, que fizesse o prefácio da primeira obra do grupo denominada "Crônicas dos Anjos de Prata".
Mas ao ler a apresentação, qual não foi a surpresa e espanto de muita gente que comprou o tal livro? Mário Prata as chamava de putas.
Ora essa brincadeira só foi justificada, depois de se ter na consciência, que o nobre articulista, dentro da sobriedade que lhe é característica, gostava de tratar assim as pessoas. Elas, para ele, não eram os anjos de prata, mas as putas de prata.
As escritoras não se ofenderam. Tanto é que publicaram o livro com aquele prefácio.
O fato nos dá uma idéia do que foi a manifestação dos conceitos do sr. Mário Prata, sobre aquelas pessoas que se consideravam escritoras iguais a ele.
É com esse espírito de afeição que o jornalista escreve Bang Bang, momentos antes da sociedade brasileira escolher entre proibir ou não o fabrico e comércio das armas de fogo.
É do conhecimento geral que, no início da tomada do território dos índios na América, os norte-americanos tivessem a precisão de fazer uso das armas letais.
Quase ninguém desconhece, que para fazer sua independência da Inglaterra, os norte-americanos tivessem que usar as armas.
É do conhecimento também, da grande parcela do povo brasileiro que, durante as I e II grandes Guerras Mundiais, os norte-americanos tivessem a seu favor a indústria bélica eficientíssima.
As armas fazem parte da história, da tradição e do dia-a-dia do povo americano. Muita gente está empregada e vive graças aos lucros do comércio desses produtos.
Ora o mundo sabe que as indústrias de armas influenciam até intervenções militares nos países estrangeiros. Afinal, a quem interessaria tantas interferências americanas, em tantos lugares diversos do mundo?
Por ter o clima ameno, população mais religiosa, e demais características diferenciadoras da grande nação americana, o Brasil e os brasileiros prescindem das armas.
O sucesso dessa novela pode significar o sucesso da indústria de armamento no país. O mundo será um lugar melhor quando o êxito de uns, não depender da morte ou lesão de outros.
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