Um perfume especial

 

 

Eu gosto desses sabonetes de glicerina, que não fazem muita espuma, mas costumam ter o perfume suave e duradouro. Em geral eles são da marca Phebo e ao comprá-los já vou pegando pela embalagem amarela, rosa ou azul. Perfume de rosas, frescor da manhã e sei lá mais o quê. Outro dia, porém, me distraí e abri um que é escuro, o original, de odor intenso. É gostoso, não resta dúvida, mas recende de longe. Não é o meu preferido, em todo caso serve também para perfumar o banheiro. E isto me trouxe a lembrança de muitos anos atrás, quando esta marca fazia sucesso estrondoso. Minhas amigas e eu adoramos a novidade, mas o sabonete custava bem mais caro que os outros e nossos pais nem queriam ouvir falar dele. Descobrimos, então, que lá na rua 25 de março podíamos comprá-los às dúzias, saía até barato. E lá fomos nós...

 

De posse da ‘minha’ caixa, arranjei um lugar no meu quarto para guardá-la, ou melhor, escondê-la dos meus irmãos. E ela foi parar no fundo de um gavetão, debaixo do sofá-cama onde dormia o irmãozinho caçula. Só que ele era xereta pra caramba e vivia remexendo nas minhas coisas. Uma tarde, ao chegar do colégio, já na porta da rua senti um perfume intenso pairando no ar... Subi correndo e o que vi no meu quarto ninguém pode imaginar. Tinha sabonete pra todo lado. Em cima da cama, na escrivaninha, na gaveta do criado-mudo, embaixo do travesseiro... E o chão forrado de embalagens... Sentado no meio do quarto, ele ria jogando os papeizinhos para o alto!

 

Tive o trabalho de embrulhar tudo novamente e coloquei a caixa num lugar onde ele não podia alcançar. Mas nem assim deu certo. O quarto ficou de tal modo empesteado que durante muitas noites precisei dormir com a janela aberta. Acabei dando todos os sabonetes às amigas e durante décadas nem podia olhar para um Phebo onde quer que o encontrasse.  Só de uns anos para cá, quando apareceram essas variações mais suaves do seu perfume é que voltei a gostar dele.

 

 

BEATRIZ CRUZ