O HOMEM ESTÁ NU
Francisco Miguel de Moura*
Dizem os deístas que os ateus estão nus. Dizem os ateus, como os filósofos Michel Onfray hoje e Frirdrich Nietzsche ontem, que “Deus está nu.” Trocando em miúdos, o homem é quem está nu e foi sua ciência que o colocou assim. Agora sabe que é, no máximo, um grão de areia voando no infinito, e o seu giro vai dar, como todas as coisas, em pó, em nada. É por isto que o filósofo francês mencionado diz que as religiões (refere-se especificamente às monoteístas: judaísmo, islamismo, catolicismo) são contra a mulher, o prazer , a liberdade, embora proclamem ser responsáveis pela bondade e felicidade do homem.
Não vamos entrar na boba polêmica de que “Deus existe X Deus não existe”, porque o próprio filósofo que me infuenciou a fazer estas ponderações aduz, em seus argumentos, que “é possível acreditar em Deus e viver sem religião.” Até onde chega o nosso conhecimento, existem Deus e deuses. O Deus pessoal que manda e desmanda, perdoa, julga e castiga é o Deus das religiões. Já os agnósticos, ateus, cientistas e intelectuais possuem sua forma de acreditar em Deus, um ente (não um ser à semelhança do homem) superior, que no entanto é indiferente à sorte dos homens.
Neste ponto, exemplificando, é bom citar um diálogo entre os escritores Paulo Coelho e Umberto Eco, entrevistados por um jornalista, que faz a pergunta ao primeiro: – Você acredita em Deus? Ele responde: – “Sim.” O jornalista pergunta a mesma coisa ao segundo e ele responde: – “Eu não acredito em Deus mas creio que ele acredita em mim.”
Porque estamos a girar, perdidos no infinito, não somos nada, tudo o que temos é mente, razão, que outros chamam de alma ou espírito. E por acaso o infinito saberá disto? Não sabe nem nunca vai saber. O contido não sabe do continente e vice-versa; a forma não sabe do conteúdo, tal como este não conhece aquela. O homem não sabe do infinitamente grande nem do infinitamente pequeno. A lei da relatividade e outras que os cientistas nos mostram servem apenas, quando muito, para vivermos bem na nossa própria casa (a Terra).
Conforma-te, homem. Estás nu, mas não te desesperes, não percas a paciência nem a cabeça, como diria o filósofo Baruch Spinosa, ou seja, “mantém sangue frio.” Para não esquentá-lo, cuida do que sabes e do que podes.
A religião é, sobretudo, “uma forma de o homem esconjurar a angústia da morte.” Ninguém nasce com religião, tal como com ciência, arte, filosofia, etc. São aquisições simplesmente humanas. Os filósofos vão a procurar uma bonita filosofia; os religiosos, uma vida virtuosa; os poetas e escritores, versos que encantem e discursos grandiosos, musicais, que convençam. Tudo mais é perfumaria.
Assim, devemos ir cuidando das coisas pequenas e próximas, pois, na verdade, os gênios também são limitados, assim como os medíocres – e eles não alcançam mais do que sonhar “o que sonha a nossa vã filosofia”. Portanto, não temos outra salvação a não ser a de apelar para o sonho – seu sonho é seu céu. Sonhe e viva feliz. Com filosofia ou sem ela, com arte ou sem ela, com religião ou sem ela.
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*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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