O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu atrasar o início das obras de transposição do rio São Francisco a fim de negociar com o bispo de Barra (BA), Luiz Flávio Cappio, o término da sua greve de fome, que completou nove dias.
A decisão foi tomada na reunião de ontem entre Lula e seus principais ministros. Segundo o site www.folhaonline.com.br, Cappio e a cúpula da Igreja Católica foram criticados, inclusive por Lula. Irresponsável e autoritário teriam sido os adjetivos usados por ministros na reunião sobre a conduta do bispo.
A idéia é dizer a Cappio que, apesar da iminente concessão da licença ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para começar a obra, o governo gostaria de discutir o projeto com ele, tanto que a suspenderia temporariamente.
O bispo diz que não se opõe à transposição, mas ao projeto específico na gestão Lula. O governo tem a esperança de convencê-lo sob o argumento de que a obra beneficiará a população mais carente e não a prejudicará.
O cronograma
Por ser promessa da campanha eleitoral de 2002 que ainda não saiu do papel, e que dificilmente terá avanço significativo até a conclusão do mandato de Lula, o cronograma da transposição está atrasado.
Apesar do possível potencial de desgaste internacional, o presidente ficou contrariado com a declaração do bispo de que "Lula seria o responsável por sua eventual morte".
O presidente disse que não mandou o bispo fazer greve de fome e que, quem a faz, deve arcar com as conseqüências.
A saída do impasse
O coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner, afirmou que é "prioridade zero" do governo fazer com que o bispo desista da greve, mas sublinhou que a saída para o impasse não se dará pela "imposição de um ponto de vista".
Segundo o ministro, a transposição das águas do São Francisco não é fruto da vontade do presidente, mas da convicção que se formou, por meio de projetos estudados, e debatido por mais de dois anos.
"Vou começar a negociar, estou aberto. Quero registrar com clareza que todos aqueles que se dispõem ao diálogo não podem imaginar que a única saída seja o reconhecimento da sua posição original. Assim como respeitamos as convicções do bispo, também respeitamos as nossas. Esse foi um projeto estudado, debatido. Não é um ato de vontade do presidente da República, é uma construção que foi feita", disse o ministro.
Wagner afirmou que poderia ir a Cabrobó (PE), onde o bispo realiza a greve de fome, mas que discutiria a possibilidade antes com o presidente Lula.
O ministro declarou ainda que o governo federal vai apoiar e se empenhar na aprovação de uma emenda à Constituição que destina recursos para a revitalização do rio São Francisco.
O ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), ligado à Igreja Católica, ficou encarregado de tratar com a cúpula da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) uma forma de negociar com o bispo Luiz Flávio. Auxiliares do presidente lembraram que há padres e bispos da região Nordeste que são favoráveis à transposição, mas que não se manifestaram.