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Contos-->Retrato Sem Reflexo -- 10/03/2002 - 08:02 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Capitulo 01

Retrato Sem Reflexo


Ao chegar na nova moradia, Maurício não parecia estar muito animado com a expectativa de recomeçar a vida numa cidade nova e assustadoramente grande, depois de viver todos os seus 20 anos numa cidade de 20.000,00 habitantes. A mudança foi a única maneira encontrada para que seus pais pudessem realizar um progresso na vida, já que a dificuldade jamais poderia ser vencida naquela cidade muito longe de tudo e seus pais se dispuseram a última tentativa.
A casa, um dúplex quase novo e ainda decorado, pôr exigência dos antigos moradores, nem mesmo os móveis foram retirados. Mas, tudo estava perfeitamente em ordem e novo, o que fez com que os Figueiras chegassem ao novo lar apenas com as malas. Maurício não estava muito a vontade para ficar vendo os cômodos da casa e foi direto ao quarto que dava de frente a escada de madeira e ao entrar no quarto, um retrato em cima da penteadeira lhe chamou a atenção, um retrato de uma bela jovem, em seus 22 anos, morena clara de olhos cor de mel e um sorriso que fez com que Maurício começasse a sentir-se em casa. E aos poucos foi completamente dominado pela presença daquela imagem, que lhe chamava a atenção e o olhar entrava direto em seu coração.
Quem teria sido aquela jovem bela e cheia de encantos que sorria imóvel naquele quadro tão intimo e pessoal e pôr que teria deixado até o retrato naquela casa? Respostas que não chegava e apenas ficava rondando a cabeça dele, que não conseguia desviar ao olhos daquela foto. Impressionado com a beleza da jovem, Maurício passou a inspecionar o quarto e foi achando peças de um quebra-cabeça que aos poucos foi sendo montado pôr ele. E ao achar um diário escondido no fundo da gaveta da cômoda, ele descobriu que se tratava de uma jovem que se chamava Isabel.
Agora, o seu retrato ganhou rosto e nome aumentando o encanto e deixando claro que ele já tinha condições de elevar a sua imaginação e conviver com as memórias daquela outra vida que lhe surgia, como um presente. O quarto ganhou vida e aquela cor clara, de um amarelo quase imperceptível, tornou-se uma luz própria e deu animação aos moveis e a cortina branca que só agora era notada. Deitado na cama onde provavelmente Isabel também deitará, ele começou a consumir as páginas do diário que começou a ser escrito há exatos dois meses atrás.

“ Começo hoje, dia 12 de Janeiro de 1990 a escrever minhas anotações e espero que com isso possa me ajudar a passar pôr esses momentos difíceis que terei que enfrentar. Meus amigos Elisa e Tato me dão apoio e isso me conforta bastante, sem dizer que a minha família também está comigo vinte e quatro horas pôr dia. Mas, vamos ao que interessa: Ontem depois de tanto confinamento as provas chegaram ao final e agora é só apanhar o resultado e terei vencido a primeira batalha da minha vida”




Um cheiro de rosas invadia o quarto a cada segundo que o diário ficava aberto, um perfume e um vento frio voava pelos cantos do quarto, embriagando-o ainda mais e talvez sem perceber fazendo-o ficar penetrado naquele pequeno livro, como se fora descobrir todos os segredos de Isabel de uma só vez.

“ Amanheci hoje bem melhor do ontem e sem nenhuma preocupação, foi como se eu tivesse vencido a mim mesma e descobrindo que tenho força para enfrentar o que ainda está pôr vir e o farei de cabeça erguida e darei orgulho a todos que me querem bem.”

A cada leitura, a cabeça de Maurício dava voltas e lhe enchia de coragem de continuar ali, lendo e sabendo mais e mais daquela jovem, que parecia querer buscar afirmação e força. Algo que ele também sempre buscou e talvez essa identificação lhe trazia afinidades com a bela jovem.

“ Hoje saí de casa após meses e fui ao cinema e assisti ao filme: “Sociedade Dos Poetas Mortos” e devo confessar que assisti ao melhor filme já feito, uma obra prima, acho que como psicóloga, esse filme me serviu mais do que três anos de faculdade. A mente humana está exposta ali e é emocionante as atuações de Robbin Willians e Edward Norton. Ver aquele professor fazendo com que aqueles garotos comecem a ver o mundo com os seus próprios olhos, é o mesmo que acontece com muitas pessoas no mundo todo.”

Após dois dias seguidos dentro do quarto, Maurício resolveu sair e buscar informações que o levasse até Isabel e foi tentar encontrar Tato ou Elisa, os amigos mencionados pôr Isabel. E nem foi muito difícil encontrar Tato, já que a casa era a do lado esquerdo da sua, e só lhe bastou tocar a campanhia e esperar alguns segundos.

__ “Pôr favor, eu sou o novo, morador aqui do lado e gostaria de conversar com você,” disse em tom convidativo.
__ “Claro! Dê-me alguns segundos e pronto... vamos, entre antes que o meu cachorro perceba que o portão está aberto.”
__ “E ele não morde?,” quis saber.
__ “Apenas quando come!”, brincou Tato. “Meu nome é Alberto, mas meus amigos me chamam de Tato e você é?”
__ “Maurício... ainda não tenho apelido, mas se quiser pode inventar um!”
__ “Não sou bom nisso, mas eu tinha uma amiga que era expert nesses assuntos...”
__ “Pôr falar em amiga!” Maurício interrompeu-o pôr achar que ali existia uma deixa para saber sobre Isabel. “Achei um retrato num dos quartos da casa, de uma garota morena clara e...”
__ “Isabel!” disparou. “O quarto de frente a escada?”
__ “Isso mesmo!”
__ “Era o quarto de Isabel! Maurício, você mudou para cá apenas um dia após eles terem se mudado.”
__ “Estranho, essa casa nos foi oferecida há seis meses atrás...”
__ “Talvez, eles já estivessem com vontade de ir embora”. concluiu Tato.
__ “Muito! Mas, essa saída da família dela, pareceu uma fuga, algo que não sei explicar.”
__ “Ela não se despediu de você? “ perguntou.
__ “Não! Eu acordei e como sempre fazia lhe telefonei, e ninguém atendeu, fui lá e ninguém, até que descobri que não moravam mais ali. Isabel, estava bem comigo e apenas estava estudando muito e apenas isso.”
__ “Tato, eu encontrei um diário dela e pôr isso quis saber sobre ela...”
__ “Um diário? Isabel não era de escrever diários! Espere um momento! Eu ia fazer um lanche, quer me acompanhar?”
__ “Não, obrigado!”
__ “O que dizia nesse diário?”
__ “Estou no inicio, mas apenas coisas simples e sobre ter ido ao cinema, para ver...”
__ “Sociedade Dos Poetas Mortos?” disse rápido.
__ “Isso mesmo!” assustou-se com a exatidão.
__ “Nós fomos ao cinema há dois dias atrás...então ela começou a escrever esse diário na semana passada!”
__ “Como era a Isabel?”
__ “Determinada; alegre; doce; sensata e amiga. Aquele tipo de pessoa que faz com que quem esteja do seu lado se sinta bem.” classificou.
__ “Você a amava?”
__ “No começo cheguei a confundir, mas depois com o tempo senti que era algo mais poderoso que isso, não que o amor seja um sentimento menos importante, mas a nossa ligação não tinha espaço para o amor. Mas, você parece que se apaixonou pelo retrato!”
__ “Sei lá, é estranho e tenho certeza que isso nunca tinha me acontecido antes. Eu sempre fui muito contido e nunca dei importância para coisas que não posso tocar, e sempre achei besteira, essa estória de amar e que só existia em novelas e livros.”
__ “Mas, o que fazer agora? Não há nenhum familiar dela aqui, e não há endereço para onde ela possa ter ido. O que pensa em fazer?”
__ “Não sei!” falou desolado.
__ “A Elisa também sabe o mesmo que eu e não seria de muita ajuda.”
__ “Elisa também é mencionada no diário dela. Vamos procura-la, talvez possa haver uma pista, sei lá!”
__ “Elisa mora do lado direito da sua casa, vamos lá que ela ainda está em casa.”

Ao chegar e ser apresentado a Elisa, Maurício novamente se espantou com a reação de mais um amigo ao saber sobre o diário de Isabel.

__ “Tem certeza de que é de Isabel?” perguntou intrigada.
__ “Sim, eu tenho! Porque ela menciona você e Tato. E ele confirmou algumas coisas que ele sabia sobre ela.”
__ “Meu Deus! Ela não tinha a menor paciência para isso e achava besteira ficar escrevendo sobre o que fez. Podemos dar uma olhada?”
__ “Claro! Vou lá em casa apanha-lo! Espere que volto em seguida. Meus pais estavam descansando quando eu sai e eles nem sabem que sai, mas fiquei dois dias em casa lendo o diário e nem os vi, eles se acostumaram a saber que gosto de passar dias no quarto.”





Maurício entrou e saiu e logo estava na casa de Elisa com o diário em sua mão, e como em sua casa ninguém presente, os pais de Elisa no trabalho e eles poderiam ficar à vontade.

__ “Aqui está!”, exibiu o diário
__ “Tato! É mesmo a letra de Isabel.”
__ “Você tinha alguma duvida?”
__ “Cheguei a pensar que pudesse ser a Erica, a irmã dela, que sempre gostou de pregar essas peças.”
__ “Mas, não há como negar que Isabel começou a escrever!”, disse Tato.
__ “Resta saber o motivo!”, disparou Elisa.
__ “Como vamos saber se não ler!”, indagou Maurício
__ “Então, Maurício como você o achou, cabe a você lê-lo e nos contar.”
__ “Obrigado Tato!”
__ “Não o agradeça ainda, porque você terá que nos deixar a parte de tudo.”
__ “Elisa, vou certamente precisar de vocês, porque eu não a conheço.”
__ “Acho que conhece sim!”
__ “O que quer dizer com isso, Tato?”
__ “Bem, você se apaixonou e isso é o suficiente!”
__ “Como você se apaixonou? Pelo o que ela escreveu no diário?”, quis saber Elisa.
__ “Não Elisa, antes do diário, ele encontrou uma foto de Isabel, aquela da cômoda do quarto que era dela.”
__ “Não diga!”
__ “Digo sim!”
__ “Que lindo e romântico! Mas, como você sabe ela mudou-se e ninguém sabe para onde e nem o pôr que dessa mudança. Como vai acha-la nesse mundo enorme?”
__ “Não sei, mas vou tentar....”
__ “Lhe ajudaremos no que for preciso!”
__ “Obrigado mais uma vez Tato!”
__ “Seremos detetives novamente, já que no inicio, eu e Tato tentamos, mas desistimos, não havia pistas que nos levasse a lugar nenhum.”
__ “Mas, Elisa com esse diário pode haver novas pistas.”
__ “Espero... assim espero Maurício.”
__ “Vamos encontra-la dessa vez! Sinto muita falta da minha amiga e quero as respostas que me perseguem”, desabafou Tato.
__ “E se não encontra-la Maurício?”, perguntou Elisa.
__ ‘Ficarei frustrado como vocês e terei que me contentar com o retrato dela.”
__ “Talvez ela tenha escrito pôr saber que o que aconteceria ou o que estava pôr vir e quis deixar isso para nós pudéssemos encontrar e saber o que de verdade aconteceu.”
__ “Tomara!”, desabafou Maurício.
__ “Mãos à obra cara!”, encorajou ao que seria quase que impossível para o seu novo amigo e Tato não acreditava que teriam progresso nessa busca.





Quando anoiteceu, lá estava o vento frio e o cheiro leve de rosas e Maurício entretido na leitura e sabendo mais um pouco sobre Isabel e seus sonhos, medos e gostos. Algo, entretanto havia acontecido a ele, e esse amor vindo do retrato poderia ser transformado em alguma coisa real e o guiaria até Isabel.

De repente veio o som de batidas em sua janela, que fica na parte de trás da casa e ele ouviu a voz de Elisa do outro lado, implorando para entrar.

__ “Elisa, você é louca?” “Está querendo machucar-te?”
__ “Não se preocupe, porque eu e Tato sempre entramos pôr aqui, mas Isabel nunca deixava essa janela fechada.”, acusou “É um modo de entrar e sair sem incomodar ninguém”.
__”Vocês são loucos!”
__ “Vai se acostumando! Quis vir da uma olhada no quarto e vejo que tudo está como era antes. Até o relógio parado às quatro e meia continua na parede...”
__ “Não quis mudar nada, nem mesmo nas roupas de cama...”
__ “Eles mudaram e não levaram nada com eles...como está frio aqui!”, disse apertando os braços contra o peito. “O que descobriu?”
__ “Pôr enquanto nenhuma pista que nos leve até o seu novo endereço.”
__ “Isabel sempre disse que não gostava de despedidas e que ela nunca iria se despedir, se tivesse que faze-lo”, um tom triste saia de sua boca.
__ “Também penso assim, não que eu seja do tipo, mas eu não sou nada assim de ficar lamentando o que tenho que fazer e garanto que ela teve o seu motivo para não se despedir de vocês”, disse Maurício tentando conforta-la.
__ “Posso me deitar aqui e ler um pouco com você? Ou se os seus pais entrarem aqui vão achar errado você deitado na cama com uma jovenzinha, que mal conhece?”
__ “Bem, meus pais não vão entrar aqui, e se entrarem vão bater antes e dará tempo para você sair pela janela, apesar de achar que esse vestido é bem curto para você ficar escalando pôr ai”, deu uma risada amarela e ficou lhe fitando as coxas.
__ “Então venha e deite de uma vez, assim você não ficará babando em mim”, reconfortou-se na cama como se estivesse se aninhando e com um semblante enraivecido.

Os cabelos longos e loiro de Elisa cobria-lhe as costas e escorriam pelos ombros e seus traços finos quase lhe fazia parecer uma menina de quatorze anos, seu jeito falador e agitado lhe tirava cinco anos de vida, fazendo com que a sua jovialidade assumisse um papel em sua vida que ela não gostava, porque todos os rapazes que ela conhecia a tratava como uma criança e ela estava sempre fazendo piada de tudo e sobre todos.

__ “Que charme, você veio aqui para me consolar e agora pensa que meus pais vão nos achar imorais e ainda fica furiosa pôr eu ter dito sobre o seu curto vestido, e age como se fosse um menininha, mas você já é uma mulher Elisa”, disse encarando-a fixamente.
__ “Sinto muito pelo vestido, mas eu não estou agindo como uma garota vulgar, apenas não vi mal em vir assim e não estou com raiva de nada”, justificou. “Até gostei que você tenha reparado em mim.”



__ “Como não reparar? Você está linda nesse vestido, mas vem pulando de uma sacada a outra e não quer ser notada?”
__ “Ninguém me nota como mulher, apenas como você falou, uma menininha”, falou abaixando a cabeça e apontando para o seu corpo. “Se você quiser realmente me consolar, não esqueça o que disse sobre eu já ser uma mulher”.
__ “Então esqueçamos toda essa conversa e chegue para o lado que vou me deitar para ler-mos um pouco e prometo que vou olhar para o seu traseiro de meia em meia hora”, nem acabou de falar e levou uma travesseirada no rosto.

Novamente batidas vindo da janela, fazendo um ruído ecoar pelo quarto, desta vez era Tato que tentava entrar.

__ “Bem-vindo ao quarto dos loucos”, disse Maurício sorrindo.
__ “Vamos Tato entre logo!”, murmurou Elisa.
__ “Não tente me impedir, a noite está linda, mas que frio é esse aqui dentro? O ar está ligado?”.
__ “Não, Tato!”, respondeu Maurício. “Acho que esse frio vem da noite fresca”.
__ “Estou atrapalhando alguma coisa?”, perguntou olhando-os friamente.
__ “Claro que não!”, respondeu Elisa. “hoje você está impossível...”
__ “O que você quer que eu pense, vendo você assim, nesse vestido e com os cabelos soltos, acho que lá se vão meses que não a vejo assim”, lembrou Tato.
__ “Estávamos apenas lendo o diário”, justificou ajeitando os cabelos para trás.
__ “Viu Elisa às vezes o amor pode entrar pela janela”, disse Maurício apontando para Tato.
__ “Do que vocês estão falando?”
__ “Do amor, sobre o amor, Tato”, gaguejou um pouco Elisa antes de abrir um belo sorriso.
__ “Acho que preciso me informar mais um pouco sobre isso, para poder participar dessa conversa”, esquivou-se da tentativa de faze-lo se abrir.

Tato não ficou mais do que cinco minutos no quarto e disse precisar ir embora, já que teria que ir até a faculdade se matricular em Agronomia.

__ “Elisa, Tato vai fazer Agronomia?”, perguntou.
__ “Sim, mas ele queria fazer jornalismo. Parece que o seu pai é que quer que ele faça esse curso, e disse para ele que jornalismo não tem futuro”.
__ “Mas, a vida é dele! E ele não reagiu?”
__ “Você não conhece o Tato!”, disse olhando para o lado. “o pai dele é quem diz o que ele tem que fazer”.
__ “Isso é um absurdo!”
__ “Tato sempre foi um garoto calado e medroso, o pai dele o tornou muito inseguro. Na escola, ele ficava sempre isolado de todos e quase nunca se sentia bem, em lugares onde havia outras pessoas. Ele só sorria se eu ou Isabel estivéssemos pôr perto”, disse olhando intensamente para o teto. “Seus aniversários eram como se fossem funerais, recebia presentes que não podia usar, como bicicletas, patins e bolas. Seu pai sempre lhe dava objetos de laboratório, microscópio e provetas, coisas do tipo. Você pode imaginar, como um garoto de 16 anos reagia a isso?”
__ “Não!”, disse balançando a cabeça negativamente.
__ “Sempre, eu e Isabel, sempre tentávamos ajuda-lo a sair desse casulo, mas ele se acostumou a viver sem sentir emoções e fugir da vida”, fez uma pausa e continuou, “Eu disse ao Tato, que agora eu já estava me acostumando com o que tenho de belo e feio, e posso lhe dizer que sou assim e assim é que sou pôr dentro. Antes me sentia um lixo e achava que tudo que importava vinha de fora, mas a força que temos pôr dentro, é impressionante e interminável. Ontem, eu disse a ele que às vezes o que nos derruba é o que em seguida nos faz levantar, e acho ele não entendeu porque disse aquilo, mas tive apenas a intenção de dar-lhe um conselho, já que o meu amigo fica sempre tão recolhido e cheio de disfarces”.
__ “Fique aqui! Eu vou falar com Tato, já que ele não fugiu de mim, talvez ele me ouça”, disse saindo pela janela.

Maurício entrou pela janela do quarto de Tato, e teve tempo de pega-lo em casa.
__ “O que faz aqui, Maurício?”
__ “Parece que somos mais amigos do que antes e como um amigo vim lhe impedir de fazer uma besteira...”
__ “Que besteira, cara?” “Do que está falando?”
__ “De fazer o que não tem vontade e acabar sendo um profissional de merda!”
__ “Vejo que Elisa lhe contou sobre o meu pai e o meu desejo de me tornar jornalista”.
__ “Sim”, apenas afirmou positivamente.
__ “Mas, meu pai pode estar com a razão, ele já viveu mais do que eu e pode saber melhor...”
__ “Não se justifique pelas palavras dele”, disse o agarrando pelo braço e pondo a mão em seu peito, “É aqui, exatamente aqui que fica a tua vida, e ninguém pode toca-la. Você precisa decidir o que é melhor para você e se quer fazer jornalismo, faça e é assim que deves assumir a sua vida e se der errado, pôr falha ou falta de oportunidades, será você que deverá consertar as coisas”.
__ “Você acha que meu pai entenderá?”
__ “Desça e converse com ele, se abra e fale de sua vontade e mostre que sabes o que fazes ou desista da sua vida para sempre”.
__ “Vou fazer isso, agora mesmo”. “ Não sei explicar mas confio em você!”
__ “Logo mais lhe procuro para conversarmos...”, despediu-se saindo pela janela.
__ “Deixa que vou até o seu quarto, a faculdade é logo ali, não vou demorar”

Maurício voltou ao quarto e sentou calado e esperou com Elisa que Tato voltasse da faculdade com a matricula feita.

__ “Você age igualzinho a Isabel, ela sempre incentivava tato nesse sentido, e como você respeitava o modo de vida que ele levava. E é engraçado que Tato nunca confiou em falar com outras pessoas e com você que veio para aqui apenas há uma semana, ele já confia em você”.
__ “Você é muito observadora, Elisa. Acho que tanto Isabel quanto eu estamos de acordo que Tato tem que se livrar desse medo”.

Tato chegou trazendo nas mãos os documentos que lhe davam o ingresso a faculdade de jornalismo e uma imensa felicidade no rosto, quase incansavelmente perturbadora.

__ “Consegui, gente!”
__ “Falou com seu pai e ele lhe liberou da agronomia?”, perguntou curioso Maurício.
__ “Não!”, respondeu apenas, “depois ele terá que aceitar e ouvir você foi tudo que eu precisava e hoje é o dia que me sinto mais feliz”.

De repente um chamado aos berros, chamava pôr Tato, era o seu pai que gritava no portão da frente.

__ “Vou até lá e falarei tudo para ele e os vejo amanha de manha, ok?”
__ “Boa sorte, meu amigo!”
__ “Obrigado, Elisa!”
__ “Lembre-se de abrir o seu coração!”
__ “Vou lembrar, pode deixar! Acho que terei que enfrentar o leão!”

Tato desceu pela sacada e foi direto ao encontro de seu pai, e não tinha mais como planejar ou arrumar as palavras, tudo tinha que ser naquele momento.

__ “Pai, eu fiz a matricula!”, tentou argumentar.
__ “ Isso eu já soube! Eu quero vê-la!”, ordenou esticando a mão em direção ao Tato.
__ “Pai, antes quero conversar com o senhor...”
__ “Conversar o quê?”
__ “É que eu queria muito fazer jornalismo...”, gaguejou.
__ “Nós já conversamos sobre isso e já decidimos o que vamos fazer...”, deu uma pausa, “não me diga que você não fez a matricula no curso de agronomia?”
__ “Não, eu não fiz pai!”, disse olhando para o outro lado, “Pai, é a minha vida...”
__ “Você está me desafiando?”
__ “Não”, disse Tato assustado.
__ “Vamos até a universidade e vamos mudar isso e não quero ouvir a sua voz pelo caminho”, disse raivosamente encarando intensamente o pobre rapaz.
__ “Pai, eu não farei isso!”, disse levantando a cabeça, “ o senhor não pode me obrigar a ser o que não quero”, enfrentou.
__ “Era só o que me faltava, um fedelho pensando que já é gente e o pior me enfrentando, vou lhe ensinar a me respeitar”, disse retirando o cinto que lhe prendia as calças.
__ “Pode me bater, mas não vai mudar o que penso, pai! Pôr favor entenda”, suplicou.
__ “Você aprenderá a lição e não adianta chamar a mamãe para defende-lo desta vez, se já se acha um homem para tomar decisões, então já é um homem para assumir os seus erros”, nem terminou de falar e iniciou a surra, dando-lhe várias cintadas nos rosto e nas costas.




Tato não reagia e impassível ia recebendo aquilo como chibatadas que atingia-lhe a alma, e os maus tratos não feriam seu corpo, mas sim, a sua verdade é que era atingida em cheio. A tirania que ele sempre respeitou lhe impunha uma dor mais do que física e isso o tempo não leva. É mas marca do que cicatriz e ainda vai habitar na alma de Tato pôr mais de um bilhão de anos.

__ “Agora, vamos até aquela droga de faculdade ou não?”, perguntou bufando depois de quase trinta minutos espancando o filho.
__ “Pode levar o meu defunto com o senhor e exibi-lo com orgulho e mostrar que todas essas feridas foram feitas pelo senhor, que a sua ignorância conseguiu ser mais forte do que o seu orgulho e o amor que sentes pôr mim”
__ “Você fala como um viado!”
__ “É disso que tens medo? Que eu seja um viado! Pôr isso manipula o que eu sinto, quer me moldar a sua imagem, não se preocupe eu serei homem, mas não baterei na esposa e nem no filho, acho que não é isso que o faz ser homem, pai”, um tapa entrou em seu rosto.
__ “Como ousa? Enquanto eu pagar as contas dessa casa e você estiver sob o meu teto, fará exatamente o que eu mandar, queira ou não”.
__ “Então me expulse da sua casa, pai”, intimidou.
__ “É o que eu farei se insistir em me enfrentar”
__ “Não estou enfrentando o senhor e sim a mim mesmo. Sempre fiquei calado diante das coisas e não o farei mais. O senhor sabe o que é ficar sendo espancado no colégio pelos garotos e ser chamado de esquisito, pôr ter medo das pessoas?”, perguntou, “todos se divertiam enquanto eu me isolava num mundo onde pessoas como o senhor não podia entrar. A verdade é como um polvo, pai, ela nos abraça e mesmo não querendo ela nos aperta mais e mais. Vê esse meu sangue que escorre em meu rosto? Não vai mudar a minha vida, e não é a verdade que quero para mim, esse sangue só tem cheiro e mais nada”, tentava fazer com que o sangue parasse de escorrer de seu nariz, com as mãos.
__ “Quer que eu tire as minhas coisas e vá para a rua ou prefere ser meu pai e ficar do meu lado como nunca esteve antes. Algumas pessoas diziam que eu devia tentar me encontrar, mas eu sempre quis encontrar o meu pai”.
__ “Você pode ficar, mas não dirija a palavra a mim, pelo menos enquanto eu estiver tentando engolir essa estória de jornalismo”.
__ “Vou fazer com que tenha orgulho de mim”, disse sorrindo e abrindo os braços para dar um abraço em seu pai, que virou-lhe às costas e saiu sem dizer uma palavra.

Foi a única vez que Tato disse o que pensava ao pai e a satisfação ficou estampada em seu rosto, assim como as marcas do cinto. Mas, a alegria ficou espalhada pôr todos os cantos e não havia dor que lhe tirasse o prazer de ter vencido o maior de seus pesadelos, seu pai.
Logo, Maurício e Elisa entraram pela janela e o abraçou com muito carinho e cuidado.

__ “Vocês estavam aí fora?”
__ “O tempo todo”, respondeu Elisa.
__ “E quase que essa doida entrou para interferir”, disse abraçando Elisa com força.
__ “Já passou! Agora vamos cuidar desses ferimentos”.
__ “Maurício, eu consegui e devo isso à você...”, disse emocionado.
__ “Você não me deve nada e tudo foi você que fez acontecer”
__ “Foi a primeira vez que eu senti coragem e força, e disse o que pensava...”, disse passando as mãos no cabelo, “Me sinto forte e livre de centenas de anos, que insistiam em ficar nos meus ombros”.
__ “Deixe-me passar mertiolate antes que tudo fique infeccionado”.
__ “Será bom que fique as cicatrizes, pois, será como um troféu para mim”.
__ “E como você vai fazer com o seu pai, Tato?”, quis saber Maurício.
__ “Terei que a partir de agora conquistar a confiança dele, será uma tarefa difícil”, a voz embaraçada mostrava sinais de emoção.
__ “você vai conseguir”, também com a voz embargada, falou Maurício.

Sem perceber eles passaram a noite ali festejando a conquista de um homem, que conseguiu vencer seus medos e frustrações. E antes do dia amanhecer Maurício pegou Elisa pelo braço e a puxou em direção a janela e se despediu de Tato com um abraço bem carinhoso.

P.S: O Segundo capitulo estará aqui,na próxima semana, mas se quiser entrar em contato comigo, meu e-mail é: w.taylor.j@ig.com.br e o meu tel.: 21- 3760-8057
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