...uma amiga desabafava comigo descrevendo a frieza da afirmação de um tio dela : «minha filha, o amor não existe». A crueza pretensamente sábia desta premissa que não admitia contestação tinha um pano de fundo: o pano de uma peça de teatro vivida por essa minha amiga.
...essa minha amiga do coração estava a tentar conseguir um sítio para o namorado ficar... ele tinha vindo do Brasil para Portugal para estar com ela. Obviamente (ou não) a família achou tudo uma ilusão estúpida e perigosa. Agora vivem juntos já há quase dois anos e parte da família acabou por «aceitar» o facto consumado que «a coisa é séria».
o que me deixa preocupado é que mesmo grande parte dos casais têm uma visão ultra-pragmática da vida; empacotam o romantismo em refeições de clichés prontas a digerir e voltam a fazer contas à vida, contas ao tempo que passam juntos, contas aos orgasmos, quantificam mesmo o que está por definição fora do tempo e do espaço e deixam-se cair numa alienação que chamam Realismo.
claro que é um absurdo alguém ser mais importante para nós do que a nossa própria vida, sim, é absurdo, mas não será uma característica fundamental de tudo o que é transcendente e verdadeiramente importante exactamente o facto e escapar à s leis da lógica?
não acho que o caminho deva ser o do sentimentalismo mole e nostálgico, mas nos braços de quem nos ajuda a dar sentido à vida e a colorir os dias vale a pena ter momentos de abandono, sentirmos a segurança extrema de estarmos à mercê de quem nos ama, sermos por um instante matéria potável que se dá a beber ao Outro, derrotarmos o ego para descobrirmos um Eu maior, fruto da união (que preserva as individualidades) ou fusão, ou abraço, ou o que lhe quisermos chamar: essa entrega mútua que trouxe a humanidade até aqui e que agora queremos domar e considerar mais um item da nossa agenda, um recado que colocamos no frigorífico (geladeira), meia hora que nos permitimos de vez em quando gozar. há que dar tempo ao que é essência e não mera maquilhagem gostosa da vida!!!