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Textos_Religiosos-->IDEOLOGIA MACHISTA NA IGREJA -- 03/03/2012 - 17:46 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Contra a marginalização das mulheres,
Por Leonardo Boff, Teólogo Católico.

O catolicismo romano é uma das instituições mundiais mais refratárias à libertação da mulher. Exclui-as de todos os órgãos de direção. Para elas não existem 7 sacramentos, apenas 6, pois são impedidas de aceder ao sacramento do sacerdócio. Argumenta-se que Jesus escolheu somente homens e que exclusivamente homens devem deter a palavra de decisão na Igreja até o fim do mundo. Não é sem razão que no catolicismo romano vigore centralismo, patriarcalismo e machismo. A Igreja romano-católica separa o que Deus no ato da criação uniu (Gn 1,27).

Esta situação é discriminatória e injusta e por isso não tem razão de ser. Deus seguramente não está do seu lado. Ao contrário, o cristianismo teria três argumentos de ordem estritamente teológica e interna à própria fé que poderiam fazê-lo o grande promotor da dignidade e da excelência da mulher. É a cegueira do androcentrismo e do patricalismo que impede compreender o óbvio cristão. Não é por razões de fé e de teologia como se alega mas de pura ideologia.

O primeiro argumento é este: somente juntos, homem e mulher, são revelação de Deus no mundo. Na primeira página da Bíblia Deus diz: "façamos a humanidade à nossa imagem e semelhança; façamo-la homem e mulher" (Gn 1,27). Portanto, em Deus há algo de feminino e masculino que se reflete no homem e na mulher.

Somente temos uma experiência global de Deus caso incluirmos sempre os dois, o homem e mulher, na nossa trajetória para esta Suprema Realidade. Se excluirmos a mulher, teremos apenas uma imagem parcial e distorcida de Deus. Sem a mulher não há conhecimento adequado de Deus. Excluindo a mulher, o catolicismo romano prejudica as pessoas em sua busca de Deus e acaba ocultando dimensões de Deus que só pelo feminino podem ser conhecidas.

O segundo argumento diz: ao revelar-se pessoalmente no mundo, Deus começou pela mulher. Vamos explicar esta afirmação. O cristianismo anuncia que Deus não somente comunicou luz e verdade às pessoas humanas. Ele mesmo se entregou pessoalmente e veio morar no meio de nós. Comumente os cristãos pensam logo na encarnação do Filho de Deus no homem Jesus de Nazaré. Entretanto, a encarnação do Filho não é a primeira auto-entrega de Deus à humanidade. A primeira entrega foi a do Espírito Santo à mulher Maria de Nazaré. O texto do evangelho de São Lucas é claro: "O Espírito virá sobre ti e a virtude do Altíssimo armará sua tenda sobre ti e é por isso que o Santo gerado será chamado Filho de Deus"(1,35). Diz-se que o Espírito vem a Maria. Outro nome para Espírito é "virtude do Altíssimo". Ele armará a tenda sobre a mulher Maria. O termo grego aí usado é "episkiásei", semelhante àquele que São João usa para expressar a encarnação do Filho: "eskénosen"(armou a tenda). As duas expressões tem a palavra "skené" como base que significa em grego bíblico tenda e morada.

Então o sentido é este: O Espírito vem sobre ti, Maria, e morará permanentemente em ti. Esse estar do Espírito é tão íntimo que eleva a mulher Maria à sua altura, à altura do Divino. Por isso, consequentemente, o texto diz: "por isso, o que é gerado em ti é Filho de Deus". Somente alguém que é Deus ou que foi elevado à altura de Deus pode gerar um Filho de Deus. Significa então: ao entregar-se ao mundo, Deus escolheu, em primeiro lugar, a mulher para morar de forma permanente e definitiva. Dela irradiará para toda a humanidade.

Consoante ainda a convicção comum de todas as igrejas cristãs, o filho que está nascendo e crescendo em Maria é o próprio Filho do Pai, agora encarnado. Isto significa reconhecer: num momento da história, o centro de tudo é ocupado por uma mulher. Ela é a portadora do Espírito e simultaneamente do Filho eterno que se encarna no filho temporal Jesus que ela está gerando em seu seio.

Ela e somente ela é o Templo onde mora a plenitude da divindade: o Espírito e Filho, enviados pelo Pai. Eles se encontram no seio desta simples mulher do povo judeu que é Maria-Miriam de Nazaré. Sem essa mulher não se sustenta o edifício cristão.

O terceiro argumento reza: o fato decisivo do cristianismo, quiçá de toda a história humana quando interpretada à luz da fé cristã, a vitória definitiva da vida sobre a morte, é testemunha pela primeira vez por uma mulher, Maria Madalena. Para os cristãos a vida não termina com a morte, mas com a ressurreição.

A ressurreição é muito mais que a reanimação de um cadáver como o de Lázaro. É a plena realização de todas as potencialidades do ser humano. É o ser humano transportado ao termo e à culminância do processo evolutivo. Trata-se de uma revolução na evolução. Ora, é o que ocorreu com a ressurreição de Jesus. Esse evento bem-aventurado é testemunhado por uma mulher, Maria Madalena. Ela foi apóstola para os apóstolos, no dizer de São Bernardo, pois foi ela que comunicou aos seguidores de Jesus a ressurreição do Mestre.

Sempre se ensinou que o Cristianismo e a Igreja se assentam sobre a fé na ressurreição. Sem ela, não haveria Cristianismo nem Igreja. Ora, se assim é por que não conferir centralidade às mulheres que nunca abandonaram Jesus, ao contrário dos homens, estavam ao pé da cruz, ficaram chorando junto ao sepulcro, prepararam o cadáver, o sepultaram e testemunharam a ressurreição?

Há todas as razões, do bom senso, da equidade entre os sexos, da justiça nas relações entre as pessoas e da própria teologia para valorizar sumamente a mulher. Junto com o homem a mulher guarda o Sagrado como numa lamparina sempre acesa. Somente um cristianismo que se esqueceu de sua originária grandeza e que caiu vítima do patriarcalismo cultural do Ocidente pode marginalizar as mulheres e privar a todos da inestimável contribuição com a qual elas podem enriquecer toda a humanidade.

O Fórum das mulheres em Pequim, organizado pela ONU foi um cenário onde cristãs iluminadas por estas intuições puderam protestar, pela primeira vez, num nível mundial, contra as discriminações delas produzidas pelas Igrejas. E ao mesmo tempo encontraram em suas tradições mais autênticas motivos para resgatar a dignidade da mulher junto com aquela dos homens aos olhos de toda a humanidade.

Leia este e outros textos diretamente na página de Leonardo Boff, Clicando Aqui


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