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Artigos-->Metafísica - filosofia -- 24/10/2005 - 11:49 (Magno Matheus da Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Metafísica





O estudo da metafísica (o que está além da física) não é tão recente, bastando lembrar que Aristóteles nela se fundou para intitular a sua principal obra: "Metafísica". Platão, considerado como o criador da metafísica, preferiu, no entanto, a expressão supra-sensível para designar o que está além da física, do sensível. Mas, sejam quais fossem essas preferências, o que ele queria dizer é que há separação entre o corpo e a alma, dando ao homem uma dualidade que os filósofos (ou os cientistas) modernos tendem a descartar.

De princípio, podemos notar que a metafísica sempre esteve ligada ao sentimento místico em que se procura mostrar que o cosmo é obra de um Ser (divino, onipotente), chamado de Deus ou outras denominações dadas por outras correntes de pensamento, por povos diversos e em diversos tempos. Portanto, a metafísica surgiu, claramente, das idéias místicas que dominavam (e ainda dominam) a mente humana.

A questão (uma delas pelo menos) é saber o que os filósofos entendiam como importante na metafísica; se o que estaria além da matéria (espírito, por exemplo) seria o responsável pela conduta humana, pelos seus sentidos, por sua própria existência, enfim.

À primeira questão só posso responder negativamente, conforme as razões acima expostas. À segunda poderei responder, oferecendo os seguintes subsídios, que deverão ser levados (ou não) em consideração pelo leitor.

Se a vida do Ser fosse um fato dualista (metafísica e física), como afirmara Platão, entre outros, o nosso próprio poder racional nem teria sentido, pois que o mundo metafísico ocuparia seu espaço, norteando nossa conduta. Além do mais, não podemos nunca esquecer (e isso tem sido propósito dos místicos, incluídos aí os religiosos de todas as escolas e crenças), que os animais tidos como irracionais são também uma obra da natureza, tanto como o homem, e, portanto, deveriam ter seu mundo ultra-sensível ou metafísico que os conduzisse, além da envoltura corporal. Mas quase todos eles têm afirmado que os animais irracionais não possuem alma, dando-me razão em perguntar: o que lhes move, então?

Ora, se caçam, comem, bebem, praticam sexo, ouvem, vêem, e tudo mais, e não possuem alma, então, para que serviria a alma nos seres humanos, que têm como diferença justamente o poder de raciocinar e falar? Seria a alma, então, a responsável por estas faculdades? Claro que não.

O sentido aristotélico de metafísica era o estudo do Ser enquanto Ser, valendo dizer, o estudo da própria natureza do Ser. Mas a metafísica já vinha de Platão com a notação clássica de aquilo que transcende à matéria (meta = além; física = físico, matéria).

Conforme Ana Maria Prandato (2001), a descoberta, ou concepção da metafísica, é atribuída a Platão (428/427-347 a. C.):

“Quando Platão estava com uns vinte e nove anos, Sócrates foi condenado, por motivos políticos, a beber o veneno cicuta, que o levaria à morte.

Entretanto, tujdo aquilo que aprendera e que vivenciara com Sócrates estava fortemente gravado dentro de si, e Platão prosseguiu em busca de respostas, desenvolvendo uma filosofia que não se limitava a explicar e a compreender a vida por meio de causas físicas ou mecânicas, mas ia além, afirmando que aquilo que vemos como causa, na verdade é conseqüência de um poder maior - ainda que invisível - facilmente percebido e compreendido pela nossa inteligência e pela nossa intuição, chegando, por esse modo, à filosofia espiritualista - e à Metafísica.

Nas palavras de Carlos Antonio Fragoso Guimarães, Platão foi o responsável pela formulação de uma nova ciência, ou, para ser mais exato, de uma nova maneira de pensar e perceber o mundo .

Apesar de as idéias filosóficas e políticas de Platão terem exercido profunda influência no pensamento ocidental, o passar dos séculos, para esta Humanidade deslumbrada pelos avanços materiais, dividida em lutas ideológicas, condicionada aos mandos e desmandos dos detentores do poder, ocupada com as agruras da sobrevivência e com a satisfação imediata das necessidades físicas, foi confinando esses conhecimentos - como tantos outros - aos limites da cultura escolar mais avançada, distanciando-os, dessa forma, da grande maioria das pessoas. ("A Metafísica")”.

Separando a metafísica clássica (por assim dizer) da atual, a autora deste trecho observa em sua esclarecedora "A Metafísica":

“Alguns metafísicos respeitados falam da possibilidade, ou da necessidade, de se encontrar um outro nome que transmita melhor o significado dessa Metafísica de hoje, desvinculando-a da filosofia clássica. De qualquer forma, o termo que prevalece até agora é esse, e é assim que uma outra maneira de pensar e de sentir a vida está se popularizando. Do nosso ponto de vista pessoal, ela bem pode ter sua raiz na Metafísica Clássica, tendo incorporado, contudo, a contribuição valiosa e enriquecedora de conhecimentos posteriores, entre os quais os estudos da Psicologia e as constatações acerca da espiritualidade, que fizeram com que passássemos a considerar fenômenos antes tachados de místicos ou sobrenaturais como sendo expressões de uma natureza ainda pouco estudada e pouco levada em conta pelas chamadas ciências acadêmicas. Por esse ângulo, tratá-la como "Metafísica atual", para nós, está satisfatório”.

Concordo plenamente com o pensamento de Ana Maria Prandato, pois ele expressa a nova realidade do conceito de metafísica. Mas a "metafísica atual" vai mais além do espiritualismo, passando a estudar fenômenos incorporados à natureza humana, como, por exemplos, a vontade, a energia, a força. E só dessa maneira eu aceito a metafísica, longe de tudo aquilo que vai ao encontro de entidades espirituais. Mas, prossegue a Autora:

“Sem nenhuma conotação religiosa ou doutrinária, as idéias metafísicas independem de qualquer opção de religiosidade. Entretanto, aqueles que as abraçam caracterizam-se, em especial, pelo cultivo de uma espiritualidade cada vez mais livre e mais independente.

A Metafísica atual não apresenta mestres ou líderes. Ainda assim, alguns nomes se destacam pelo valor da contribuição que vêm prestando ao desenvolvimento e ao aprofundamento dessa nova visão. Entre eles, um dos mais expressivos e atuantes é Luiz Antonio Gasparetto, autor de grande número de livros publicados em sucessivas edições, conhecido internacionalmente por seu trabalho mediúnico e um dos principais comunicadores metafísicos da atualidade.

Ainda segundo o que sabemos, foi Gasparetto quem iniciou a popularização desses conceitos entre nós, aqui no Brasil, depois de ter entrado em contato com eles e de ter sentido seus efeitos durante o tempo em que viveu na Califórnia, buscando complementar estudos na área da Psicologia.

Desde então, ele vem ampliando e aprofundando essa visão metafísica por meio dos próprios conhecimentos científicos e também da sua apurada sensibilidade espiritual e mediúnica.

Aliás, a Metafísica atual apresenta essas duas características importantes: aqueles que se dedicam a estudá-la e a praticá-la profunda e verdadeiramente, somam a ela a contribuição dos seus próprios conhecimentos e experiências pessoais, conforme sua área de pesquisa e atuação; o outro fato importante que a caracteriza é a fácil assimilação popular. Em linguagem simples, ela toca o coração das pessoas e movimenta a sua inteligência, levando ao seu conhecimento essa "outra maneira de pensar e de sentir a vida", ou levando, em outras palavras, a proposta do desenvolvimento contínuo e gradual da consciência. Estimulando o nosso poder de discernimento e a nossa responsabilidade diante da vida, independentemente de "classes" sociais (culturais ou econômicas), possibilita a efetiva transformação individual e social que, sabemos, só pode ocorrer de dentro pra fora de cada um de nós, em benefício do bem coletivo”.

Do conceito de metafísica, de Platão, resta pouco. A cada dia o homem conhece mais um pouco de si mesmo e descobre que, além de seu corpo, existe um emaranhado de sentidos, que poderiam ser chamados de metafísicos.

Os filósofos gregos, no entanto, embora os primeiros grandes pesquisadores da natureza (Cosmo, Ser), não tinham conhecimentos suficientes para saber não só o que era matéria, como tudo aquilo que estaria ou poderia estar além dela. No entanto, a natureza humana sempre foi mística, e a alma ou espírito (pois que muitas vezes os confundiam) representava aquele algo além da física. E é nesse sentido que eu discordo da metafísica.

A metafísica, no sentido singelo e filosófico (o que está além da física), não foi amplamente aceita, nem mesmo por alguns filósofos do passado e muitos do presente. E a razão é simples: faltava-lhe respaldo racional, entregue, que estava, à crença (fé) ou ao sentimento místico onde, inevitavelmente, tem o espírito como exemplar.

Não me parece coerente, por exemplo, considerar a existência de espíritos vagando, ao léu, após a morte de um ser humano, multiplicando-se com o multiplicar dos homens. Assim como não me parece lógico a existências de espíritos divinos.

A metafísica, no sentido clássico, vamos dizer, não explicava como os espíritos se multiplicariam indefinidamente, com o nascer e morrer dos seres, a não ser se pudesse demonstrar que o espírito nasceria com o corpo, o que, no meu entender, aprofundaria a incoerência. Ou ele – o espírito – faria parte integrante do corpo (não metafísico), ou seria separado deste (metafísico), como crêm os espiritualistas.

O estudo da metafísica recebeu novas contribuições que lhe garantiram uma aceitação racional, e talvez possamos dizer que ela comporta divisão; duas pelo menos: a da conotação filosófica grega - que a via como o que estaria além da matéria, mas referindo-se sempre à alma, e a do conceito atual, que a vê como tudo o que está além de nossos principais sentidos. Os exemplos, então, são muitos: o pensamento, a força, a vaidade, o poder, a vontade, o amor, o ódio, o ciúme, e tudo o mais que não fosse matéria. Mas tudo vem, direta ou indiretamente, da matéria, pois é o cérebro que comanda não só a nossa natureza, mas todos os nossos sentidos e ações.

Existem, pois, duas metafísicas: a filosófica que, para mim, não passa de imaginação ou idéia não-intelectiva ou irracional, embora amplamente aceita, sobretudo, pelos que professam alguma fé ou sejam espiritualistas. Pois é nesta que ela encontra guarida e explicaria os fenômenos sobrenaturais. Digo, sobretudo, mas não somente, porque os filósofos gregos, a partir de Platão, criadores da própria filosofia, tiveram na metafísica a base de suas Idéias.

Mas, a metafísica (o que está além das coisas físicas), como observamos antes, tem sentidos filosóficos diversos.

Tomás de Aquino faz a seguinte construção filosófico-religiosa:



“a) o ente lógico. Ente é qualquer coisa que exista. Pode ser lógico ou conceitual, como real ou extra-mental (metafísico). A importância dessa distinção reside no fato de que nem tudo que é pensado existe realmente. O ente lógico e o ente real são duas vertentes que devem ser mantidas distintas. O primeiro se expressa pelo verbo ser, conjugado em todas as formas, tendo como função reunir vários conceitos que não existem efetivamente na realidade do modo como é vista por nós. Ou seja: não podemos pensar em conceitos acreditando que cada um deles tenha uma correspondência na realidade”.



Para Tomás, o caráter universal dos conceitos é fruto do poder de abstração do intelecto.

Quis ele dizer, em outras palavras, que os conceitos são relativos, pois somente o indivíduo é real.



“b) o ente real. Toda realidade, tanto o mundo, como Deus, é ente, porque tanto o mundo, como Deus, existem. A diferença é que Deus é ser e o mundo tem ser”.



É por essas suas razões que ele coloca Deus como acima de tudo, pois é a essência de tudo. Em Deus o ser se identifica com sua essência, razão pela qual é chamado de “ato puro” e “ser subsistente”; já a criatura não é existência, mas tem existência.

Os conceitos de essência e ato de ser são as duas pilastras do ente real. A essência indica “o quê” é uma coisa, ou seja, conjunto dos dados fundamentais pelos quais os entes – Deus, o homem, o animal, o vegetal – se distinguem entre si.

Se as coisas existem, não existem necessariamente, podendo inclusive não ser – e existindo, podem perecer e não existirem mais: ou seja: o mundo é contingente, podendo ser ou não ser. Enquanto existe, não existe por sua virtude, mas em virtude de Deus.

Por isso, a metafísica de Tomás foi definida como "Metafísica do Ser" ou do "actus essendi" (ato da essência). Trata-se de uma filosofia do Ser, não uma filosofia das ou dos entes, mas do Ser que permite às essências realizarem-se e se transformarem em entes. Este Ser é Deus.

É claro que Tomás, embora tenha conservado suas teorias por muitos anos, as manteve no âmbito da fé, mais do que daqueles que se fundamentam na razão pura.

Estrutura fundamental da metafísica. Os transcendentais: uno, verdadeiro e bom.



“1) A noção de transcendental implica a identificação total de uno, verdadeiro e bom com o ser, no sentido em que são inseparáveis dele, a ponto de converterem-se totalmente entre si. De modo que dizer que o uno, o verdadeiro e o bom são os transcendentais do ser significa dizer que o ser é uno, verdadeiro e bom” ("História da Filosofia", V. I, p. 558).

2) A unidade do ente (omne ens est unum – todo ente é uno). Ente uno é não contraditório, mas a unidade depende do grau de ser, de modo que, quanto maior é o grau de ser que possui maior é a unidade. Exemplifica: a unidade de um monte de pedras é menor do que a unidade de Pedro ou de Paulo, porque o ser possuído por um e por outro é diferente.

A explicação desse ponto reside no fato de que a filosofia de Tomás é a do Ser, que varia de graus, até chegar na maior unidade, que é Deus.

3) A verdade do ente (omne ens est verum – todo ente é verdadeiro). Todo ente é inteligível, racional.

Sobre se a metafísica deve tratar da verdade, Aristóteles responde de forma negativa. Pare ele, a metafísica trata do ser real e não da verdade, que não está nas coisas, mas sim, na mente, ou melhor, no juízo do intelecto. O lugar para tratar da verdade é na lógica, já que a vê rdade está no pensamento e não na realidade.

Para Tomás, a metafísica também deve tratar da verdade, pois o mundo e as criaturas individualmente são as expressões do projeto divino; são frutos do pensamento de Deus.

c) a bondade do ser (omne ens est bonum – todo ser é bom). Tudo que existe, todo ente é bom, porque é fruto da bondade de Deus. As coisas são boas porque assim as queria Deus. Podemos chamar esse pensamento cristão, de filosofia da bondade, mas que não se ajusta à filosofia da realidade. Os homens não são naturalmente, ou necessariamente bons, de tal maneira que o mundo jamais viveu sem conflitos, estes gerados pela maldade e esta advinda da própria natureza humana”.



Essa bondade natural do homem é pura ilusão. Nem precisaria ser demonstrado, tantas provas temos.

Se o homem fosse naturalmente bom, como queria Tomás, não precisaria de leis a coibir-lhes os atos maus ou não bondosos. O próprio Estado não teria razão de ser. E tanto é assim que o próprio pensador acaba por admitir que "o mundo jamais viveu sem conflitos, estes gerados pela maldade e esta advinda da própria natureza humana". Uma contradição.

A antologia do Ser - Ao contrário de Aristóteles, que se interessa mais pela relação horizontal dos seres entre si, Tomás de Aquino se interessa mais pela relação entre Deus e o mundo, no sentido vertical; estabelece uma relação entre Deus e as criaturas, entre o finito e o infinito. Entre Deus e as criaturas existe uma relação de analogia, embora as referências de Deus e as criaturas são feitas de intensidade diversa.

São fundamentos místico-religiosos que não têm amparo no fundamento racional, dentro da concepção materialista.

Mas, se não há coisas metafísicas, o que seria a vida?

O ser humano passa por um estágio inicial – a concepção – e por um estágio final – a morte. No meio termo ele vive: pensa e pratica atos; tem vontades, sentimentos, anseios e tudo o mais que seus sentidos e faculdades permitem. Ele possui vida, essa coisa fenomenal, natural e não decifrada por ele mesmo. Essa vida seria material ou metafísica?

As hipóteses se baseiam em fatores contraditórios: de um lado estão as idéias filosóficas, o misticismo, as religiões que muitas vezes se conformam com a filosofia e sempre com o misticismo; de outro lado está a ciência, que encara a vida como uma matéria formada por células, órgãos, membros e sentidos. Mas, nenhuma dessas hipóteses conseguiu responder, até hoje, o que seja Vida, pois é fácil admitir que a vida é espírito ou a vida é matéria, desde que se refira aos seres. O que seja Vida em si ficou de fora. E eu, que também não encontrei resposta, a vejo, no entanto, como a única coisa que possa ser considerada racionalmente metafísica. Seria isto uma resposta? Ainda não.

William James definiu a metafísica como "apenas um esforço extraordinariamente obstinado para pensar com clareza", e explica:



“Excetuando algumas raras almas meditativas, os homens percorrem a vida aceitando como axiomas, simplesmente, aquelas questões da existência, propósito e significado que aos metafísicos parecem sumamente intrigantes. O que, sobretudo, exige a atenção de todas as criaturas, e de todos os homens, é a necessidade de sobreviver e, uma vez que isso fique razoavelmente assegurado, a necessidade de existir com toda a segurança possível. Todo pensamento começa aí, e a sua maior parte cessa aí. Sentimo-nos mais à vontade para pensar como fazer isto ou aquilo. Por isso a engenharia, a política e a indústria são muito naturais aos homens. Mas a Metafísica não se interessa, de modo algum, pelos "comos" da vida e sim apenas pelos "porquês", pelas questões que é perfeitamente fácil jamais formular durante uma vida inteira. (Taylor)”.



Evidente que não podemos fugir a essa realidade de sobrevivência, e ela exige prática, e não devaneios.

Toda filosofia é constituída de porquês, como, aliás, já afirmei e muitos já afirmaram. E a razão é muito simples: o homem precisa de explicações, e não as encontrando aqui, procura além daqui. E a metafísica, que nada mais era (no passado) do que o desenvolvimento do misticismo (ou um misticismo desenvolvido) parecia satisfazer aos homens. Mas não satisfez, pois o homem prosseguiu em suas pesquisas que o levaram a conceber uma outra metafísica que poderá, também, ser substituída no futuro com as novas pesquisas.

Nós pensamos que vivemos numa sociedade desenvolvida, e já encontramos respostas para muitos “porquês”. Mas, também, as sociedades antigas, nos primórdios da filosofia, pensavam que estavam vivendo em sociedades desenvolvidas. E as futuras gerações pensarão o mesmo, qualificando-nos como primitivos. Hoje, somos os primitivos do amanhã, e a nossa filosofia, e mesmo a nossa ciência, serão consideradas ultrapassadas. Mas não devemos nos inquietar por isso; esse fenômeno faz parte da história, em todos os sentidos. A história é um passo dado por cada civilização. Só que a meta, o objetivo de cada passo, não é chegar ao fim do caminho, mas abrir caminho para os passos seguintes, de tal sorte que vivemos eternamente num infinito, sem princípio nem fim.



“Pensar metafisicamente é pensar, sem arbitrariedade nem dogmatismo, nos mais básicos problemas da existência. Os problemas são básicos no sentido de que são fundamentais, de que muita coisa depende deles. A religião, por exemplo, não é Metafísica; e, entretanto, se a teoria metafísica do materialismo fosse verdadeira, e assim fosse um fato que os homens não têm alma, então grande parte da religião soçobraria diante desse fato. (Taylor)”.

Razão teria o Autor se toda a questão residisse no pensar. Pensar não tem nenhum significado na vida se o pensamento não se transformar em realidade. Pensar metafisicamente tem o mesmo valor do não pensar. Este valor só teria se o pensar metafisicamente atestasse a existência da metafísica, não parece uma coisa lógica? Não havendo como, de modo empírico, constatar a sua existência, como pensar metafisicamente?

Desde os filósofos gregos, a metafísica foi o amparo do pensamento sobre todas as coisas do Universo: a própria vida, o Ser, a Natureza como um todo. Porque, sem este pressuposto – a existência do algo além de nós mesmos – nada existiria. Engano. Tudo poderia existir sem o Ser, considerado o Ser pensante. E sem o Ser pensante, tudo existiria sem o tempo, sem o espaço, sem o pensamento, enfim.

Ledo engano é dizer que penso, logo existo, como ledo engano é dizer que o só pensamento pode levar alguém a desvendar os mistérios do mundo.

A vida sempre existiu independentemente da Metafísica, independentemente do homem e, evidentemente, do pensamento. Pensar metafisicamente não difere do pensar não metafisicamente.

Se eu estou pensando, ao escrever estas linhas, não significa a existência de algo metafísico. Significa apenas, e tão somente, que eu existo e tenho a faculdade de pensar. Por que eu tenho essa faculdade, aí sim, é um mistério ainda não desvendado do ponto de vista material; e não metafísico, e não religioso. Porque o pensamento é uma faculdade que me foi concedida por minha natureza, pela natureza humana, mas brotada de um ser material, que é o cérebro.

Falar em pensar metafisicamente é tolice. O pensamento é uma faculdade humana, não importando a metafísica.

As considerações de Taylor prosseguem ao dizer que “também a Filosofia Moral não é Metafísica e, entretanto, se a teoria metafísica do determinismo, ou se a teoria do fatalismo fosse verdadeira, então, muitos dos nossos pressupostos tradicionais seriam refutados por essas verdades. Similarmente, a Lógica não é Metafísica e, entretanto, se se apurasse que, em virtude da natureza do tempo, algumas asserções não são verdadeiras nem falsas, isso acarretaria sérias implicações para a Lógica tradicional”.

Não existe nenhuma teoria metafísica do determinismo ou do indeterminismo. A concepção de ambas transcende a teoria. Se eu achasse que tudo na vida está sujeito a determinadas regras deterministas seria por eu acreditar que nós somos levados a um destino que nos conduz e do qual não podemos nos livrar. E quando eu creio que é o destino que nos conduz, sem que possamos interferir com nossos atos, é porque acredito que não podemos determinar nossos atos, nem nossos pensamentos. Para tanto, preciso me livrar do indeterminismo. Um e outro pertencem ao nosso ponto de vista, nada mais.

Embora a filosofia, como forma e fins do pensamento, não seja metafísica, esta pode ser considerada estritamente filosófica. Não assim a Lógica ou a Moral. Estas, mencionadas pelo eminente Autor, transcendem a qualquer pensamento filosófico, e não é porque Aristóteles as mencionou, sendo ele um filósofo de primeira grandeza, que podemos, hoje, assim considerá-las.

A metafísica tem seu campo próprio, específico, só dela: a conceituação de alguns fenômenos naturais. Mas seu conceito tradicional, de ser o que esteja além da matéria, tem outros desdobramentos. Todos nós somos filósofos e temos, pois, opiniões filosóficas que não devem ser, absolutamente desprezadas. Ninguém tem “simples” opiniões, pois todas as opiniões têm importância e são elas, mesmo consideradas simples, que impulsionam as opiniões assim não consideradas, ou consideradas complexas.

O meu modo de ver a metafísica não pode ser o de qualquer outra pessoa e vice-versa. Os conceitos só servem de iniciação à exploração e desvendamento de determinado problema, ou de determinado fato, ou de determinado elemento. Não servem, porém, para decretar o fim das pesquisas e muito menos para decretar a verdade, de modo que eles tendem a evoluir de tal modo que se tornam ultrapassados, com o tempo, por outros conceitos que, por sua vez, não existiriam se não fossem os pensamentos anteriores.

Assim é o conceito de metafísica. Ora, conceituar metafísica é muito mais complexo do que dizer que é o que está além da matéria, pois tal conceito continuaria impreciso ou indefinido. Por exemplo: se eu digo que a energia é metafísica, não estou afirmando a existência da metafísica, mas da energia. Esta é que tem alguma função. A metafísica é apenas conceito, sem função alguma.

Eu posso, pois, dizer que metafísica é, apenas, um conceito, mas que, de fato, não existe. É uma afirmação pessoal, minha, por não crer que exista algo além da matéria, a não ser aquilo que nossos sentidos detêm e que não podemos tocá-los. No entanto, nem essas sensações poderiam, a rigor, serem consideradas metafísicas porque todas as sensações derivam da matéria. O pensamento, a dor, o amor, o olfato, o ódio, a energia, como exemplos, mas que provêm do cérebro, que é matéria, seriam metafísicos?

Certamente o estudo da metafísica, ou dos fenômenos metafísicos, parte do pressuposto da própria metafísica como uma realidade filosófica. Coisa alguma em filosofia pode ser considerada uma realidade, que deve ser lógica, a não ser que a lógica pudesse ser enquadrada como algo filosófico. Mas não pode sob pena de não mais haver motivo para discussões filosóficas; tudo seria lógico. E só a ciência pode ser lógica.

Outro grande problema com o qual nos enfrentamos, ao estudar qualquer ramo do saber, é considerar algo verdadeiro ou não. Nenhum filósofo que se preza pode se considerar dono da verdade. Mesmo eu que, longe de ser um filósofo, no sentido não vulgar, menos razão tenho de me considerar verdadeiro. Para existir a verdade, deveria existir o absoluto, de tal modo que poderíamos encontrar uma verdade não contestável. Nem o absoluto existe, nem a verdade absoluta existe, conseqüentemente. Se eu afirmo que a metafísica, no velho sentido, não existe, é porque assim creio, mas não posso afirmar, erga omnes, que esta minha opinião seja a verdadeira.

Mas a considerar o novo sentido de metafísica, creio que ela fugiria totalmente ao manto da filosofia, deslocando-se para a ciência. Não há metafísica moderna dentro da filosofia.

Todo pensamento, sobre qualquer coisa, não passa de opinião, de tal modo que tudo pode ser refutado. Isto quando me refiro às coisas filosóficas, das quais escapam aquelas que podem ser demonstradas.

A Matemática, que é considerada uma ciência exata, já sofreu contestações, demonstrando que a própria exatidão é relativa. Dou um exemplo: 2 + 2 = 4, certo? Mas, se o homem, que inventou os algarismos, chamasse 4 de 5, 2 + 2 seria igual a 5 e não a 4. Isso demonstra que nós é que criamos a certeza e que esta pode ser relativa e, portanto, contestada.

Imaginemos, então, os conceitos filosóficos. Jamais encontraremos um que não possa ser refutado, e com grande facilidade.

A metafísica ou o pensamento metafísico, pois, não fogem a essa observação.

Ao repassar a analise da filosofia analítica e metafísica, dos filósofos de Wiener Keis, alguns dos quais já nos referimos (“Filosofia da Linguagem”, "História da Filosofia", v. III, p. 679), Giovanni Reale e Dario Antiseri nos mostram que:

“1) É contra-senso afirmar que a metafísica é contra-senso. 2) A câibra mental aparece na reflexão sobre a metafísica quando nós pretendemnos que a metafísica seja informativa como as ciências empíricas. 3) A metafísica é um new way of seeing , uma visão que nos permite olhar o universo inteiro como se ele fosse a sua primeira aurora. Juntamente com o Wittgenstein das Pesquisas , podemos repetir ao metafísico: Antes de mais nada, tu descobriste novo modo de conceber as coisas. É como se houveesses encontrado novo modo de pintar ou então novo metro ou novo tipo de canções . 4) A metafísica é visão e, portanto, paradoxo. A sua veracidade está na sua falsidade . Os paradoxos, ou seja, as assertivas metafísicas, são terremotos do nosso establishment lingüistico-conceitual. As metafísicas são proibições contra a esclerose do pensamento. 5) As funções desenvolvidas pela metafísica são funções morais, políticas, de tranqüilização psicológica, de apoio ou de substituição dos fins da religião. 6) As assertivas metafísicas são ordens e convites a olhar o mundo de modo novo. Por isso, são herméticas ou ingenuamente infantis. 7) As metafísicas podem desenvolver a importante função de gerar hipóteses científicas”.

Parto de minha convicção que a metafísica é uma distração de espírito, um modo ideológico de tentar explicar ou justificar pseudos fatos não encontrados no mundo real. Sua validade reside nisto: satisfazer a idéia de cada um que não encontre resposta terrena. Se é um contra-senso (1) ou não essa postura filosófico-mística, cabe a cada um olhar para si mesmo e responder.

Não me coloco entre aqueles que têm "cãibra mental" (2) e nem por isso vejo algo metafísico dentro do pensamento filosófico. Se o visse, seria no sentido místico, como na metafísica platônica, ou científica, no atual conceito. No primeiro caso ela me foge da mente, após submetida, durante esses tantos anos vividos, a um trabalho de raciocínio quase ininterrupto, quando o sono era deixado de lado para dar lugar ao raciocínio claro e independente, não querendo dizer, com isso, que não maculado pela dúvida. A metafísica da filosofia grega jamais poderia ser informativa, simplesmente porque não existia a não ser em suas imaginações.

Para olhar o mundo sob novas perspectivas (3) não precisamos de irrealidades. O mundo está aqui, aos nossos sentidos.

Quem quer ver e sentir o mundo apenas com "visões", não quer ou tem medo de enxergar as realidades (4) só porque elas se lhe apresentam feias. Aí ficam pulando no ar como galinha atrás de uma saúva, mas com uma grande diferença: a saúva está ali, voando, ao alcance da galinha: a metafísica, não.

A metafísica não exerce função nenhuma (5) a não ser na imaginação. Seu apoio à religião, no entanto, é claro, pois que uma depende de outra. Ambas pertencem a um mundo irreal, ilusório.

Eis aí uma constatação (6): a metafísica é, realmente, infantil, tal como qualquer brincadeira de criança.

Considero absurda a proposição (7) por tudo que já disse.

Em 1929 foi formada, em Viena, Áustria, um movimento denominado neopositivista, integrado pelo físico e filósofo Moritz Schlick (1882-1936) ("História da Filosofia", p. 941).

Uma das proposições, das quais participaram outros diversos filósofos, era “a eliminação da metafísica", cuja fundamentação consistia em que "a metafísica, juntamente com a ética e a religião, não sendo constituídas por conceitos e proposições factualmente verificáveis, são um conjunto de questões aparentes (Scheinfragen) que se baseiam em pseudoconceitos (Scheinbegriffe) (p. 994)”.

De minha parte rejeito a metafísica (a que chamam de clássica) não por ser apenas uma proposição não verificável (pois entendo que a filosofia não trata, apenas, das coisas verificáveis), mas por estar fora das coisas intelectíveis.

Há filósofos contemporâneos, não obstante, que aceitam a metafísica, inclusive como "animadora" da ciência, como Karl Popper e outros. Como assinalam Reale e Antiseri, ao estudar a epistemologia e metafísica (pp. 1060-61):

“Com base no princípio de verificação, os neopositivistas vienenses sustentavam a insensatez de qualquer assertiva metafísica. Contrariamente aos neopositivistas, os filósofos analíticos, através do princípio de uso, mostraram os usos ou funções (morais, políticas, religiosas ou anti-religiosas) das teorias metafísicas. E, entre essas funções, acenaram para o fato de que aquilo que começa como metafísica pode acaber como ciência” .

Continuando:

“Como sabemos, com base no critério da demarcação (entre ciência e não ciência) constituído pela falseabilidade, Popper defende as seguintes teses: a) as metafísicas são sensatas; b) algumas delas constituíram historicamente programas de pesquisa e, com o crescimento do saber de fundo, se transformaram (como o caso do atomismo antigo) em teorias comprováveis; c) do ponto de vista psicológico, a pesquisa é impossível sem a fé em idéias de natureza metafísica; d) embora não sendo falseáveis, as metafísicas são criticáveis”.

Entendo que, segundo Popper, a metafísica (ou metafísicas) deu embasamento às pesquisas, inclusive chegando, por meio dela, à comprovação das teorias não metafísicas, como por ele citada (atomismo). No entanto, não creio, salvo engano, que o pesquisador tenha partido do irreal para chegar a uma realidade; o que houve foi o fato de que os filósofos atomistas do passado, por exemplo, "imaginaram" metafisicamente e chegaram, por esse modo, à ciência, mas não que a metafísica fosse absolutamente necessária. Sem ela, o atomismo terminaria em ciência, tal como aconteceu com a Matemática, com a Medicina, com a própria Filosofia científica como hoje se pratica, lembrando Kant.

Magno Matheus da Rocha







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