Vejo o tempo tal qual fonte
em que lanço meus desejos.
Que neste instante desponte
desse espelho um só lampejo
que me faça compreender
qual matéria o tempo é feito...
Como posso resolver
esse dilema perfeito?
Qual pedra filosofal
que só pode decifrar
quem a mirar como igual
e contra a fonte remar,
tento o tempo seduzir
e fazê-lo se lembrar
que nada o faz existir
se inexiste o meu pensar...
Mas o tempo é traiçoeiro
não me ouve, é tempestade.
E o relógio vai, ligeiro,
quando vejo, já é tarde...
Corre tempo, vá-se embora!
Leve consigo os meus medos
pra que logo chegue a hora
em que eu possa, com meus dedos
dar à água uma dura forma
de argila, areia ou metal
e pôr a pique essa norma
de que o tempo é meu rival.
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