UMA PALAVRA EM BUSCA DE GLÓRIA
Moça que cadastra gente,
sobe/desce o praticável
desse Banco oficial.
Cadastre minha palavra,
meu sentimento recôndito,
minha imune incerteza.
Recadastre minha sorte,
recupere em seus arquivos
a penúltima esperança
de viver do seu encanto
aplacar um inerte espanto
que a vida perpetrou...
Venha e salve neste “file”
o que resta de poesia
pois sei que ainda, vestígios
se acumulam, se propagam
pelas vísceras e neurônios
fundo e forma requeridos.
Expulse a burocracia, atravancando
este tempo, meu espaço soberano
minha gana, meu cacife
debele meu vão desejo
antiga autofagia e revista
meu poema, revise minha poesia.
Se lhe sobra tempo, ausculte
ouvido colado à terra
os nomes de meus amigos
seu peito repositório
de guardar irreplicáveis
as longas horas que jazem...
Ao lhe concederem ordem
ordene não mais me submeta
a estórias ditas de história
em quaisquer sociologias,
em paços, vãos, tristes vias
que me dei por optar.
E finalmente que seja
deferido em nome da vida
tampouco longa ou cumprida
ao menos que seja fluida
no ventre da eterna glória
e dela sobreviver.
Walter Silva
Aldeia, ago. 1997.
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