O sujeito era super desconfiado, achava sempre que tudo e todos estavam conspirando contra ele. Bastava que alguém o olhasse para que a desconfiança se instalasse em seu perfil nervoso e angustiado. Certa vez, andando por um parque ele vê um pirralho se divertindo andando num velocípede, como era de se esperar ele ficou "encucado" com o jeito que o moleque ria e olhava pra ele. Decidiu tomar uma iniciativa:
-Escuta aqui garoto! Você está tramando alguma coisa...
-O quê? - responde o garoto como quem não entendeu nada.
-Eu percebo sua mente maquiavélica. Conheço esse tipo de gente, se finge de santinho pra ninguém desconfiar...
-Pára moço! Ta me assustando - o pivete responde com os olhos já cheios de lágrimas.
-Como é frio! Suas lágrimas não me comovem. Anda, some daqui!
O moleque sai chorando e gritando atraindo a atenção das muitas pessoas que costumam frequentar o lugar, logo depois se pode ver o garoto acompanhado de um homem que não aparentava estar nos seus melhores dias...
-Ó imprestável, que idéia é essa de importunar o meu filho? Não vês que ele não passa de uma criancinha! - diz o homem enfezado.
-Eu sabia! Eu sabia! tem mais gente por trás disso. Quer dizer então que vocês fazem uma duplinha? Cafajestes!
Ouvindo isso o pai do garoto se joga em cima do sujeito, começava uma verdadeira confusão. Já podia se perceber um aglomerado em volta, estava armado o barraco. Com demonstrações super fajutas de artes marciais os dois rolavam na grama do parque enquanto a multidão agitada torcia. Mas... o tumulto chamou a atenção de policiais que estavam a paisana, logo a confusão foi atenuada e depois de tudo explicado os policiais resolveram levar o sujeito pra delegacia. Enfiaram o indivíduo no carro enquanto as pessoas aplaudiam. Na delegacia...
-Me solta! Me solta! Até a polícia tá envolvida nisso! É uma verdadeira teia de corrupção...
-Fecha o bico rapaz... respeita a autoridade do delegado!
-Esse delegado é da conspiração!!! Ele ta tramando contra mim...
-Cala a boca! - disse o delegado já furioso. Eu quero esse sujeito na minha sala, a gente precisa ter uma conversinha...
-Eu não tenho nada pra falar com você! Sujeito imundo.
Os policiais conseguem arrastar o elemento pra sala do delegado depois de muita resistência. Algemado ele se senta na cadeira enquanto o delegado manda os policiais deixarem a sala. Como num gesto mecànico a autoridade puxa do bolso um isqueiro, acende um cigarro e fita os olhos no sujeito tentando intimida-lo:
-Você me chamou de conspirador não foi?
-É, chamei sim! Isso é muita sacanagem...
-Escuta, quem te contou?
-Quem me contou o quê? - Responde com expressão de dúvida.
-Foi o pessoal da rocinha? Da periferia? Do beco do rato? Desembucha! Quem te contou?
O coitado já não tava entendendo mais nada. O delegado provavelmente o confundira com alguém que sabia demais, mas o pobre mal sabia de nada.
-Escuta filho, esse tráfico vem sustentando a polícia durante anos. Não vai ser agora que um verme como você vai mudar a situação. Eu vou te soltar, mas tu vai ficar de bico fechado senão... - o delegado aponta o 38 na cintura.
-Entendi! Entendi doutor! Vossa excelência me desculpe a confusão que causei, isso não vai se repetir.
O sujeito foi despachado. Andava tão distraído depois de tanta confusão que mal póde notar um carro que vinha a toda velocidade em sua direção. O impacto da batida arremessou o coitado pra longe da pista. Omitindo socorro o motorista foge. Dentro do carro...
-A gente tinha que fazer isso!
-É papai, esse sujeito sabia demais... - responde um moleque segurando um velocípede.
