A 2ª Guerra Mundial foi, com certeza, uma das fases negras da história da humanidade. O ser humano dominado por uma ambição de ter todo o poder sobre tudo e todos, se transforma em um verdadeiro monstro. Um monstro que não vê valores morais, que não sente pena de outra pessoa que é igual a ele. Bem, mas vamos ao que interessa. É bem verdade que durante a 2ª Guerra, algumas tropas brasileiras foram enviadas ao combate (poucas, é claro) para desespero dos pais que ficavam ansiosos por notícias de seus filhos. Dona Marieta sentiu a dor de ter um de seus dois filhos enviado à guerra, desde que seu primogênito tinha partido, dona Marieta só chorava pelos cantos, não comia direito, não dava mais um sorriso. Já seu filho...
Hidelbrando, como eu já disse, era o filho mais velho de dona Marieta, mal terminou os estudos e entrou para fazer carreira no exército. Era um sonho que tinha desde criança, ser soldado! Embora muitos se entristeçam de serem convocados para uma guerra, ele se mostrou totalmente diferente. Quando soube que ia pra guerra ficou tão feliz que quase fez sua mãe ter um problema cardíaco. Enquanto outros choravam, ele sorria que nem louco, parecia até que ia desfilar na Mangueira! Sempre foi muito extrovertido, brincava com qualquer um e soltava piadinhas em horas impróprias, talvez seja por isso que não alcançou muita coisa no exército, o Major até se impressionou quando soube que o coitado ia partir para a dura batalha. Ninguém esperava que logo aquele peste ia ser merecedor dessa "honra", mas finalmente chegou a hora de embarcar, não sabia para onde ia, nem onde ia ficar, mas ia sorrindo mais do que uma hiena. Queria levar o cachorro de estimação com ele e causou a maior confusão com um de seus superiores bem na hora do embarque, quase que ele voltava para casa, o que provavelmente iria ser um alívio para todos. Enfim, partiu vendo sua mãe e seu irmão chorando e lampião latindo como louco.
Não é novidade que as tropas brasileiras não tiveram grande importància na guerra. Acho que se muito faziam, as principais funções das tropas eram fritar ovo pros generais grandões lá, carregar banquinho, levar remédios pros soldados feridos ou até entreter os oficiais estressados em virtude da guerra. Essa última tarefa, Hidelbrando cumpria com maestria. Fora até apelidado por soldados americanos, que o chamavam de "jester" (bobo da corte). Muito embora estivesse animado por nunca ter visto uma guerra ele se deparou com uma realidade que até então não havia notado, a realidade da guerra. O fato de como um ser humano pode ter um coração tão frio o deixou abismado, mas por outro lado se aliviou porá não estar entre os combatentes. Por enquanto...
Por uma bagunça que ele mesmo causou quando estava levando uma tulha de documentos para um oficial, seu nome foi parar na lista de combatentes em vez de ir para a lista dos soldados que iam cuidar do acampamento. Antes fosse um único combate, e era, só que ele tinha sido escalado para uma das missões mais importantes da guerra, aliás a missão que selou a vitória dos aliados: "O dia D". Quase morreu do coração quando soube, logo ele que era tido como um palhaço no acampamento. Tinha ensinado os gringos a jogar futebol, só que eles não curtiam muito a idéia de jogar em campo minado. Ajudava os soldados mais frios a estampar um sorriso no rosto mesmo em meio a toda dor e sofrimento que eles já estavam se acostumando a presenciar. Ele se tornou a "alma" do acampamento. Dava até conselhos sentimentais pros marmanjos que choravam por terem deixado suas namoradas. Quando estavam todos tristes, ele fazia batuque de escola de samba e os gringos caíam no passo.
Finalmente chegou o dia da famosa operação, ia partir pro combate. Os soldados ficaram muito entristecidos com a ida do "bobo da corte", até o General que mal demonstrava sentimentos enxugou os olhos com a manga do uniforme pra disfarçar as lágrimas. Puseram uma arma na sua mão, até então só tinha pegado em uma nos treinamentos do exército. Mal passava pela sua mente que ele tinha que usar aquilo para matar, porque senão podia morrer. A guerra era um inferno, só agora ele percebera a dura realidade. As tropas desembarcaram no litoral da França, recebidas com balas vindas de todas as direções. O desespero se instalava entre os soldados, já não se sabia quem venceria aquilo. O bobo da corte se escondeu embaixo do casco de uma lancha, e lá ficou até pegar no sono...
Quando acordou já via a desolação que tinha tomado a praia, corpos e mais corpos espalhados e mutilados. Ficou tão chocado que chorou. De longe ouviu uma voz:
-Soldado Pinto! Hidelbrando Afonso Pinto!?
-Sim, sou eu - disse ele um pouco assustado.
-Sorria filho! Você vai para casa, a participação de tropas brasileiras já encerrou faz muito tempo nesta guerra. Você foi convocado por engano - disse o comandante.
-Finalmente! Vou voltar para casa...
Embarcou 3 dias depois e foi recebido em casa com festa. Sua mãe havia preparado uma recepção das mais calorosas. Tinha até umas mulatas dançando com um batuque de escola de samba. Escreveu o nome dele no cachorro e ainda decorou o seu quarto com faixas de "Bem vindo!". Aqui se encerra a participação de um coitado de um brasileiro na 2ª Guerra Mundial. Com lembranças que provavelmente vai guardar pro resto da vida...
