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Artigos-->A maldição do Faraó e outros contos -- 16/11/2005 - 11:10 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A maldição do Faraó e outros contos



por João Nemo em 10 de novembro de 2005



© 2005 MidiaSemMascara.org



O mundo literário brasileiro está merecendo um talento capaz de retratar a nossa fantástica realidade como ela é, ou seja, mais rica em extravagâncias e alucinações do que qualquer ficção. Infelizmente, há algum tempo perdemos o velho Nelson Rodrigues, que conhecia a profundidade da nossa alma e tinha talento e coragem suficiente para retratá-la na sua intimidade e na sua dimensão política e social. Não é à toa que hoje é tão citado, inclusive pelos que o detestavam à época em que vergastava sem dó os ícones da esquerda brasileira nas suas crônicas jornalísticas.



A economia brasileira, agora travada na mais pétrea ortodoxia, amada por todos os que acreditam que não fazer marola no mercado financeiro é o máximo a que podemos aspirar, foi o teatro de horrores da insanidade no tempo dos “planos econômicos”. Vale, vez ou outra, fazer mentalmente um “flash back” e lembrar o tipo de maluquices com que já convivemos: empréstimos compulsórios e jamais pagos; inflação pré-fixada; congelamentos recorrentes; moedas diversas; imbecis auto-denominados “fiscais do Sarney”; caçada por helicóptero ao boi gordo; tablitas, que com esse nome sugestivo de confeito mexicano, aplicavam juros negativos nos depósitos; confisco geral na madrugada e sabe-se mais o quê. Se quisermos preencher várias laudas só citando absurdos, matéria prima é o que não falta. Basta enveredar por coisas do tipo Lei de Informática, juros fixados na Constituição, proibição de contratar professores estrangeiros, viagem ao exterior com limite de 500 dólares e por aí vai. No campo das sacadas econômicas tenho especial predileção pelo episódio, já posterior ao Plano Cruzado, da “Banda Hexagonal Exógena” sugerida para o câmbio. Não imagino o que seja isso, mas se eu fosse mais jovem e roqueiro teria aproveitado o nome.



Quando o Plano Real deu certo, achei que Deus era brasileiro mesmo e Fernando Henrique o seu profeta, já que o Presidente Itamar não entendeu nada, mas graças a Deus foi enrolado pelo então Ministro que, nesse caso, exerceu para o bem a sua principal virtude. O PT, claro, foi contra, pois o brilhante Aloízio Mercadante, após criteriosa análise, alertou a todos que seria mais um fracasso. Não foi, felizmente, e assim a macroeconomia brasileira, gradualmente, afastou-se dos delírios para cair na mediocridade. Não se pode ter tudo.



Como diria um amigo do Murphy: a situação nunca é tão ruim que não possa piorar. A área econômica, agora, parece isenta de qualquer resquício de imaginação, mas coisas ainda muito mais estranhas e, a meu ver, muito piores vêm acontecendo. Depois de vir à luz do dia um caminhão de informações e depoimentos sobre o mais extraordinário plano de parasitismo e dominação já elaborado por algum partido político, os principais protagonistas passaram a afirmar em uníssono que tudo não passou de invencionice barata a partir de um pecadilho de campanha que, afinal, todos cometem. Aquelas contas bancárias todas, as malas de dinheiro, os grandes saques num banco tão popular como o Rural, a presença constante do tesoureiro do Partido junto aos assuntos de Estado, os falsos empréstimos, tudo é pura fantasia. Até a gravação do senhor Waldomiro, numa conversa amena, tomando dinheiro de um empresário do jogo deve ser imaginação. O fato de que ele era o homem de confiança do Chefe da Casa Civil, intermediário na cooptação de parlamentares disponíveis no mercado, também não quer dizer nada. Mesmo as afirmações dos familiares do prefeito morto em Santo André merecem, ao que tudo indica, ser apenas ignoradas. Pouco importa se o caso se reveste de mistério em doses que suplantam a imaginação de qualquer Conan Doyle. Passamos a ter, no Brasil, uma versão própria do conhecido e misterioso caso da “maldição do Faraó”. Consta que já são sete pessoas ligadas ao caso, além da vítima inicial, que morrem[1], a maioria por tiros mesmo, mas o médico legista recentemente encontrado morto corresponde à mais estranha ocorrência de todas. Trata-se da primeira depressão suicida de que se tem notícia em que a vítima mantém intensa atividade profissional até a hora do desfecho e agenda cheia mesmo depois disso. Bem, matar a tiros qualquer malfeitor faz, mas “suicidar” alguém, se for o caso, já é uma arte sofisticada e que exige elevado profissionalismo.



Agora, com certeza, novas emoções nos esperam. Não faz muito tempo alguém alegou ter vindo dinheiro das FARC para o PT por ocasião das eleições, mas o assunto foi rapidamente esquecido. Houve, também, o episódio de farta quantidade de medicamento brasileiro para Leishmaniose encontrado com guerrilheiros colombianos. Finalmente, a revista Veja apresentou a reportagem sobre as caixas de uísque recheadas com dólares, encaminhados de Cuba para a campanha do apedeuta. É mais elegante que carregar em cuecas, sem dúvida, mas eu não estranharia se a mala diplomática cubana fosse apenas o veículo usado para internalizar recursos.



Mais uma vez ouvimos negativas indignadas. O refrão é a falta de provas e a explicação conspiratória para o turbilhão de denúncias. São exigidas provas materiais dos fatos, coisa que os petistas sempre consideraram perfeitamente dispensável, uma frescura e um tecnicismo diversionista, quando acusavam a tudo e a todos sem mesmo uma pequena fração dos abundantes indícios que têm surgido nos escândalos recentes. Mas, convenhamos, para quem se deu ao trabalho de ler as resoluções do Foro São Paulo (aquele que não existia), toda essa barafunda faz sentido. Lula está cada vez mais parecido com Chávez, mas, graças a Deus, não teve competência ou tempo suficiente para montar um “esmolário” nacional na proporção necessária para lhe dar suporte semelhante ao obtido, com esse método, pelo delirante companheiro andino. De qualquer forma, não se tenha a menor dúvida: mesmo dando um desconto por conta das bravatas que lhe são características, o apedeuta e seus asseclas preparam-se, realmente, para o confronto. Quem pensa que largam o osso apenas porque foram pilhados saqueando o país, não os conhece. Não se constrangem por tão pouco. Até agora, já foi possível saber quanto vale o caráter deste governo e do seu partido: nada. Agora, teremos a oportunidade de saber se a oposição vale alguma coisa.





[1] mortes de pessoas relacionadas ao caso Celso Daniel :





Dionísio Aquino Severo - Seqüestrador de Celso Daniel e uma das principais testemunhas no caso. Uma facção rival à dele o matou três meses após o crime.



Sergio ‘Orelha’ - Escondeu Dionísio em casa após o seqüestro. Fuzilado em novembro de 2002.



Otávio Mercier - Investigador da Polícia Civil. Telefonou para Dionisio na véspera da morte de Daniel. Morto a tiros em sua casa.



Antonio Palácio de Oliveira - O garçom que serviu o último jantar de Celso, pouco antes do seqüestro. Em fevereiro de 2003.



Paulo Henrique Brito - Testemunhou a morte do garçom. Levou um tiro, 20 dias depois.



Iran Moraes Redua - Agente funerário que reconheceu o corpo de Daniel em Juquitiba, morreu com 2 tiros em novembro de 2004.



Carlos Delmonte Printes - Legista que atestou marcas de tortura no cadáver de Celso Daniel, foi encontrado morto em seu escritório em São Paulo, em 12 de outubro de 2005.







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