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Contos-->Retrato Sem Reflexo(capitulo 2) -- 17/03/2002 - 21:51 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Capitulo 2


Sem perceber eles passaram a noite ali festejando a conquista de um homem, que conseguiu vencer seus medos e frustrações. E antes do dia amanhecer Maurício pegou Elisa pelo braço e a puxou em direção a janela e se despediu de Tato com um abraço bem carinhoso.


O dia nem amanheceu e Elisa entrou pela janela e encontrou Maurício sentado na cama olhando para o teto


Enquanto ela o olhava de forma tão graciosa, um sorriso de plenitude lhe cobria a face e lhe enchia de ternura e esperança em continuar a acreditar que tudo pode ser possível . E sem pensar, se jogou ao seu lado e beijou-lhe a boca. Maurício levantou a sobrancelha direita e a encarou tanto encantado quanto desconfiado , já que Elisa nunca havia se ajustado nesse termo, de ser a primeira a dar o passo e ele sabia que ela evitava sentir qualquer emoção.

__ “Desculpe-me, eu não sei ser assim, e esse não é o meu comportamento normal, mas desde que você surgiu, eu vivo em conflito com o que sinto”, justificou.
__ “Sim, eu percebi isso”, pondo a mão direita em seu ombro, “mas você sabia que não daria para continuar assim o tempo todo, na sua idade, o que poderiam ter acontecido ou ter sido dito, para que a fizessem viver em seu próprio mundo? É uma conseqüência natural, olhar para tudo de forma analisadora e cruel ou até assustadoramente romântica. Tenho certeza que você tem um cérebro lindo e que deve florescer sempre, mas que algo lhe faz sentir no inverno e que alguma coisa lhe congela a alma e também a sua confiança”.
__ “Não é possível que você consiga ver tanto de mim assim, ninguém consegue e sei perfeitamente que eu deveria me soltar mais e estou dizendo isso em verdade, mas essa fatalidade que você falou, é que me faz afastar do mundo e das pessoas reais. Isso me faz sentir diferente em relação à outras pessoas e se passar pôr feia, estúpida e boba, tem sido o melhor papel que represento. Todos vivem sem o gosto das vitorias o tempo todo e isso enfim não me traz conhecimento e nem tão pouco novidades. Mas, não consigo evitar de sentir a indiferença”, disse ajeitando o vestido azul que lhe deixava o colo e as costas à mostra, “e associar a ruína do que sinto ao que me fazem ou do modo que me tratam, é algo difícil de se lidar e assim me sinto um patinho feio”.

__ “ Não tenho nenhuma intenção de encoraja-la a ser uma outra pessoa, e também sei que você deu passo maior que as suas pernas lhe permitem, vindo aqui e tentando mostrar o que sentes, mas, gostaria que você viesse de vez para o mundo real, onde as pessoas choram, riem, se emocionam, se entristecem, se alegram, sentem medo, sentem coragem e vivem a vida. Você precisa sentir tudo de forma imensa, e não há como querer ter controle da situação, você poderá se machucar, mas poderá ser feliz também, tem que deixar acontecer e se vais sentir dor, que sintas toda a imensidão da dor, e se vais sorrir que seja uma gargalhada e que assim nunca perca o sentido e o prazer. Ouso até a dizer que isso é o que de certa forma, o que nos traz um grande equilíbrio e ideal de vida e não me julgues um completo romântico e sonhador pôr isso”.
__ “De jeito nenhum”, respondeu Elisa, “absolutamente, mas, você não sabe é que eu já tentei antes e a decepção absolutamente desnecessária sorriu para mim”.
__ “você é extraordinariamente uma ótima pessoa, sei que lhe conheço há pouco tempo, mas todas as suas qualidades estão naquele diário, e ler sobre você me faz conhece-la há bastante tempo. Se algumas pessoas se afastaram de ti, foram elas que perderam, mas não podemos tocar no que não vemos e não é pôr isso que você deve se manter sempre em seu casulo e, essa sua pose critica de nunca agir errado e ainda de ter vergonha de suas virtudes, lhe trazem apenas mais dor em sua vida”, depois de uma longa pausa, Maurício olhava-a, “desculpe-me pôr insistir em detalha-la, não é a minha intenção em trazer-lhe mais conflito”
__ “Conflito!”, disse mantendo os olhos ao chão, “você sabe o que é isso?”
__ “Muito bem!”, disse ele olhando direto em seus olhos, “cada parte de nós sente a vida pulsando de uma maneira diferente, e o medo de se mostrar e dar a cara a tapa, e o mesmo medo de revelar os segredos da própria alma”.
__ “talvez!”, mais uma expressão de perplexidade veio a tona , “Eu não sou toda expectativa”.
__ “Sei que não compreenderás tudo o que tento lhe dizer, talvez, você precise de tempo para começar a acreditar, talvez, com mais tempo”.
__ “Posso tentar digerir isso”, disse encarando o chão, “posso acreditar em qualquer coisa”.
__ “Não seja tão horrível e injusta com você”, segurando-a pelos ombros, ele sacudir todo o corpo de Elisa e olhando-a através de sua mascara, tentando ver revelado sob a sua pele clara, um pouco ambição e realidade, “sim, injusta com você”.
__ “Eu nunca pude deixar de escapar de qualquer situação, que envolvesse outras pessoas, eu acreditava que se de alguma forma, eu me afastasse das pessoas que eu gostasse, eu poderia me proteger e proteger essa pessoa de mim”, murmurou sacudindo a cabeça negativamente.
__ “Pobre menina, você não consegue entender o que é viver, tudo enquanto estamos vivos, vale a pena e todas as emoções são lembranças para nos trazer a vida”.
__ “Emoção! Eu pus toda emoção que nunca senti em mim e nem em minha vida, para me trazer até aqui e beija-lo e o que aconteceu? Só tive Tato e Isabel como amigos de verdade, e veja o que sobrou”, disse chorando, “Eu continuo a esquisita em todos os lugares em que vou, escola, parque, cinema, praia e tudo mais”.
__ “Você nunca desconfiou que Tato lhe tem amor? Vocês perdem tanto tempo sentindo pena de si mesmos e acabaram fugindo de um sentimento forte entre vocês”.
__ “Como você pode saber sobre isso, você chegou aqui ontem e já nos conhece tanto assim....”
__ “Posso sentir isso e não sei lhe explicar, mas não fuja da vida e não se esconda de você. Seria muito cômodo para mim, deixar me levar e lhe ter aqui, mas seria uma desonestidade muito grande de minha parte, vê-la se esforçar para se entregar a mim e depois descarta-la, quando encontrar Isabel, pois, ela é a minha outra metade.
__ “Vou para casa antes que a minha mãe me chame, nem nas férias ele me dá um desconto e pode ficar tranqüilo, em suma, estou bem. Sei que estava precipitando as coisas entre nós e você já entrou na minha vida atrás de um outro amor. Eu só pensei que talvez eu devesse tentar, algo em você me trás paz e não sei explicar o que sinto”.
__ “Não se explique! Pense no que lhe falei sobre Tato!”.
__ “Vou pensar e ver se tens razão!”.


Maurício passou a tarde inteira lendo o diário, e já quase às 02:00 da manha, as descoberta quase nulas começaram a sumir, depois de ter lido mais da metade daquele pequeno livro.

“Dona Diana Bezerra, uma jovem senhora que mora na rua de baixo, é a mais nova amiga que encontrei e com seu jeito doce, me conquistou. E de alguma forma, ela sabe usar as palavras e passei a buscar os seus sábios conselhos, já que ela consegue ver a minha alma, de um jeito que ninguém havia visto antes. A espiritualidade dessa mulher parece celestial e suas frases tem sempre coerência. E logo, no momento em que eu mais precisava de ouvir palavras que me confortasse e de ter alguém que eu pudesse m abrir. Num passe de mágica ou truque do destino, conheci Diana, e isso me fez mais forte para enfrentar o que certamente eu não poderei fugir. Mas, agora encontrei a paz de espirito que eu necessitava para seguir em frente”.

Depois de saber que Tato e Elisa já haviam ido em todas as casas do quarteirão, descobrir que tão perto dali, poderia encontrar alguém que pudesse lhe ajudar. Fazia com que tempo e esperança se unisse numa só emoção.

Maurício não se conteve e mesmo sendo de madrugada, ele foi até o quarto de Tato.

__ “Maurício! O que faz aqui a essa hora? Espero que seja importante, para você vir me acordar de madrugada”, a sua voz saia rouca e sonolenta, “você não dorme?”
__ “Tato, você e Elisa conhecem uma senhora chamada Diana?”
__ “Nunca ouvi falar! O que tens isso haver em estar aqui a essa hora?”
__ “Esse é o nome de uma senhora que Isabel conheceu há três semanas atrás”, disparou.
__ “Amiga de Isabel!”, disse saltando da cama.
__ “Sim, e mora aqui na rua de baixo, ao lado da padaria chamego”.
__ “Aquela padaria! Mas, nós não costumávamos ir lá, de forma nenhuma. Ela diz como a conheceu?”.
__ “Estava perdida andando naquela rua e essa senhora foi gentil com ela. Isabel diz que essa mulher é uma dessas pessoas iluminada. Vou até o quarto de Elisa contar-lhe a novidade. Quer vir ou vais ficar ai parado?”
__ “A essa hora Elisa deve estar dormindo e se entrarmos lá estaremos invadindo a sua privacidade. Não é mais aconselhável se esperarmos amanhecer?”
__ “Não posso esperar! Você está diante de mim de cuecas, e qual é o problema?”
__ “Meu Deus! Esqueci completamente...”
__ “Vamos de uma vez!”
__ “Se o pai dela nos pega, vamos ter problemas para explicar”
__ “Vamos!”, disse arrastando Tato pelo braço.

Elisa teve a mesma reação de Tato, ficou perplexa com a noticia, que mal podia raciocinar devido ao sono que sentia.

__ “Vocês são loucos! Quase morri de susto! Ainda estou com as pernas bambas. Mas, a noticia é maravilhosa, e essa é a melhor pista que temos para encontrar Isabel. E essa mulher deve saber o paradeiro De Isabel, você pensa em ir lá quando amanhecer?”, quis saber.
__ “Já estou indo para lá!”
__ “Você é louco?”, disse levantando-se da cama e exibindo o seu corpo através de uma camisola azul curtíssima e transparente.
__ “Elisa!”, disse Tato apontando para a camisola, “é melhor voltar para baixo da colcha”, orientou.
__ “Que vergonha! Viu o que você me fez fazer?”
__ “Bem, acho que vocês devem aproveitar a chance e ter uma longa conversa, sobre coisas que vocês querem há muito tempo. Eu voltarei com novidades, pombinhos!”, disse já com meio corpo para o lado de fora da janela.

O clima ficou tenso, com o que Maurício disse antes de sair, Tato não sabia onde enfiar a cara e Elisa desconcertada só sorria, um sorriso amarelo.


__ “Pombinhos! O que você acha que ele quis insinuar com isso?” Elisa, pare de rir e diga alguma coisa!”, suplicou.
__ “Bem, Tato, esse louco...acha que nós temos muito e que...podemos ficar juntos”, concluiu.
__ “Acho que ele pode ter razão. Eu sei que gosto muito de você e que em todos esses anos, em que estivemos pôr perto, sempre adorei a sua presença em minha vida. Daí, saber se isso é amor! Achei que você estava apaixonada pôr ele!”
__ “ Ele teve uma conversa franca comigo a respeito disso e me fez ver que eu também já gosto de você tanto assim, que gosto de desfrutar da sua presença. Que é com você que eu conto todas as minhas estórias e lhe sinto em falta, quando não estás comigo. E se tudo isso for apenas amizade?”
__ “Quer tentar?”
__ “Isso não é nada romântico, começar um namoro assim, você de shorts e eu de camisola. Venha cá e sente-se aqui na cama e olhe-me nos olhos e me digas o que vê!”, pediu gentilmente.

Pela primeira vez entre anos de isolamento e conflitos, os dois se preparavam para ter um tempo, um tempo para escrever a estória deles dois, a estória que falta a ser escrita em suas vidas.

Tato sentou-se ao lado de Elisa, e pôs o braço esquerdo na cama, buscando apoio para não se espatifar de vez, com o corpo todo tremulo, diante daquela garota que sempre lhe protegeu.

__ “Posso ver toda a delicadeza que lhe habita a alma e ainda posso acreditar que de onde vem essa doçura, que mora em teu coração, tem um espaço para mim. As mentiras que já usamos para fugir desse sentimento, agora parece tão pequena e sem importância. E vejo que as portas que antes fechávamos, agora se encontram totalmente escancaradas, esperando que entremos para nos manter aquecidos desse mundo frio. E só foi preciso que alguém nos indicasse o caminho”.
__ “também cheguei a essa conclusão, mas não sabia como lhe contar, pôr medo ou pôr defesa, mas, sei que com você eu sou eu mesma, sem disfarces e sei que nada em você pode vai me ferir”.
__ “Eu jamais faria algo que pudesse magoa-la e se o que sinto lhe causar dor e ferida, saibas que abnego tudo que estou reunindo nesse momento em relação, ao que tenho dentro do peito”.
__ “Você nunca me fará mal algum e nada em você me fere. Você é diferente dos outros e eu me acostumei em pensar que o destino me quer infeliz e sozinha. Sei que és honesto ao que sentes, a gente só se fere quando pensa que conhece uma pessoa e nem desconfia estar errado. Aí vem a decepção e a dor, mas você eu conheço o coração”, disse colocando a mão em sua testa e o acariciando, “não vais m beijar?”
__ “parece que tudo isso não passa de um sonho bom, e que a qualquer momento acordarei e levará tudo embora. Você é algo que sempre quis, mas, tenho certeza que nunca teria coragem pra contar-lhe”.
__ “Agora, não fale mais uma palavra, apenas me beije e depois conversaremos sobre isso. Está desconfortado pôr estar aqui no meu quarto?”
__ “Estranho, mas essa é primeira vez que sinto-me assim”, Tato inclinou-se e beijou-lhe a boca, num beijo longo, tenro e suave. Os dois começavam a perceber que o amor esteve ao lado deles o tempo todo, mas pôr medo e insegurança, eles mantiveram os olhos e corações fechados.

Maurício chegou a casa de Dona Diana e entrou pelo quintal adentro, indo direto a porta da frente e antes que pudesse bater à porta, Dona Diana surgiu em sua frente.

__ “O que faz aqui? O que quer aqui? Pôr que veio aqui?”, as perguntas saiam sem tempo para serem respondidas.
__ “Vim buscar algumas respostas...”
__ “estás perdido?”, perguntou cortando-lhe as palavras.
__ “Não! Bem, eu só queria saber como faço para encontrar Isabel, uma menina que morava aqui na rua de cima”.
__ “Sei quem é Isabel! Foi pôr ela que você veio?”
__ “Sim, desculpe me pôr assusta-la e pela hora. Mas, desde que me mudei para casa dela, sinto essa necessidade de encontra-la”.
__ “Você não precisa se desculpar, e também não me assustou! Vamos entre e sente-se ali”, disse apontando para o sofá.
__ “Vais me ajudar?”
__ “Toda a ajuda que precisa está em teu coração, e o que precisa fazer é acreditar no que não vê, mas, sim no que sentes”.
__ “não reclama desse frio?”
__ “Já me acostumei com ele! Vamos falar da menina!”.
__ “Sim, eu estou morando na mesma casa em que ela morava. Estou eu e minha mãe e meu pai. E estou no quarto que foi dela, e ela foi embora e deixou um retrato dela numa cômoda e desde então esse retrato me faz querer encontra-la, mas eles mudaram e ninguém tem o endereço”.
__ “Então é com Isabel que você está conectado? Vou ajuda-lo, mas não direi onde ela está sem antes pedir a ela o consentimento”.
__ “Acho que ela não irá querer me ver, já que ela não quis deixar o endereço para os seus dois amigos e só descobri a senhora antes deles pôr achar um diário que ela estava escrevendo”.
__ “Um diário?”.
__ “Sim!”.
__ “Ela vai querer vê-lo, pois, lhe deixou o diário para que pudesse encontra-la”.
__ “Como assim? Como ela sabia que eu iria morar lá?”
__ “Não exatamente você, mas alguém talvez”.
__ “Seria mais fácil que ela falasse com Tato e Elisa”, disse um pouco pensativo.
__ “É talvez! Agora vá para a sua casa e tranqüilize os seus pais e acalme-lhes o coração”.
__ “Não tenho os visto, sempre que acordo eles saíram e estou no quarto eles já foram dormir”, justificou.
__ “Eles também não o tem visto ultimamente?”.
__ “Temo que não! Desde que nos mudamos para aqui. Na mudança, eu só pude vir depois e agora é só correia o tempo todo, que não estou tendo tempo para nada”.
__ “Nós não podemos ficar apenas olhando para esse mundo, devemos abrir os olhos para enxergar o que não vemos e sentir que o que não queremos largar, não faz parte do plano que Ele tens para nós”, disse olhando dentro dos olhos de Maurício.
__ “Tudo que eu desejo é encontrar essa garota, e depois, as minhas férias estão apenas no inicio e só devo começar a me preocupar daqui há dois meses”. Hoje não, fujo dessa idéia louca, tudo o que me aproxima dessa menina me afasta do horror. Quero sentir apenas sensações, que me elevem e me faça querer estar aqui em tudo, e em todos lugares neste mundo”.
__ “Quando chegar a hora, vais me entender! Você é bem-vindo aqui, vá agora!”, emendou a frase quase lhe tocando a face, Dono Diana, apenas sorriu e o acompanhou até a porta.


Na madrugada, quando depois de despedir-se de Dona Diana, Maurício entrava para o quarto de Elisa, que ainda permanecia com Tato lá, concentrando o pensamento, refletindo sobre o seu estado de espírito, achava-se feliz, notava que tinha afetos brandos por tudo que o rodeava, que via a natureza por um prisma novo. Sentia, com uma ponta de remorso, que lhe ia esquecendo o pai. E parecia-lhe interminável o que restava da noite, o que ainda faltava para ver Isabel. Despediu-se dos dois e foi para casa. Deitava-se, aconchegava-se, procurava interromper os pensamentos constantes em seu cérebro, lutando contra as idéias que se apresentavam. Acordava e escovava os dentes cuidadosamente, sem presença de um espelho e sem muita luz e sem sentir o contato da escova aos dentes. Passava poucas horas na cama e pouco tempo dormindo. Deitava-se, procurava ler, a imagem de Isabel interpunha-se entre ele e o que havia no papel. Via-a junto de si, absorvia-se em contemplá-la nessa alucinação, e Isabel falava-lhe em voz alta, desesperava, depunha o diário, estendia-se, virava-se, revirava-se, até que amanhecia, até que chegava a hora de levantar-se. Maurício não sabia o que aquilo era, pensava ser alucinação, causada pela insônia ou por aparecimento da garota que tanto queria encontrar, por faculdades mentais inegavelmente falidas ou pela loucura das ilusões.
O caso era que não podia estar longe de Isabel, que só junto dela viveria, pensaria, estudaria, e seria um homem livre e feliz. Sentia-se preso, amofinado, sem ter para onde ir ou voltar.

Maurício sentiu um pouco diferente após conversar com aquela senhora, que lhe prevenia de coisas que não entendia perfeitamente



Impaciente e sem perspectiva, Maurício não percebia os dia passando, trancado em seu quarto, com os pensamentos sendo preenchidos, com a insegurança de ser ou não aceito, pôr Isabel, que não o conhecia. Ficava lhe incomodando essa dúvida, já que ela não queria ver os seus melhores amigos, pôr que o escolheria?

Sem perceber uma presença no seu quarto, Maurício olhava insistentemente para o retrato, buscando respostas para o que sentia. Até que uma voz suavemente lhe trouxe de volta.

__ “Você está me procurando?”, perguntou Isabel com uma voz cativante.
__ “Isabel!”, disse reconhecendo a garota do retrato.
__ “Pôr que me procuras?”
__ “Estou sem palavras e lhe explicar seria difícil nesse momento, mas posso lhe garantir, que ao chegar aqui e me deparar com esse seu retrato, eu senti que precisava de você. E acho que me apaixonei também”.
__ “Vim porque sei que precisas mesmo de mim e venho para acabar com essa angústia que lhe prende o coração”.
__ “Pôr que você mudou sem dar o endereço aos seus amigos, Tato e Elisa?”, quis saber.
__ “Eles não estão prontos para me ver! Seria complicado explicar todos os motivos que me fizeram sair daqui”.
__ “Mas, agora você está aqui de novo e o que sentes?”.
__ “Já não sinto mais medo e vejo que todas as coisas estão do mesmo modo que eu deixei, meus pais não tiraram nada”.
__ “Só as suas roupas é que não estão nas gavetas e armário”.
__ “Explique o que sentes pôr mim!”, pediu segurando uma de suas mãos.
__ “Quase não acreditei que nesse dia perfeito e tão simples você fosse chegar. É tão estranho quando me lembro de você como se já nos conhecêssemos antes, e mesmo agora
parece que falo da pessoa certa e que nossa estória foi vivida por nós. E eu continuo aqui me lembrando de você sorrindo e dizendo que gostavas de mim. E em dias assim é que sinto que só você poderá acabar com esse vazio... Continuo assim depois da descoberta da verdade vestida em palavras cruas e não aprendi a dizer que tudo ficará bem depois do dias que ainda teremos para passar juntos. Ficar com as mesmas desculpas seria como acreditar na pessoa errada, mas, vou colocar você em mim com tempo e mercúrio cromo...
Quando você não estava por perto eu não acreditava em nada porque já você era parte de mim. Mas para você saber eu vou colocar esse amor no meu peito e vou arrumar o meu mundo. Eu sempre soube que teu olhar escondia tanta lucidez e que as suas promessas eram feitas entre sonhos e mistério, gostaria de saber que será sempre assim e todo dia agora e nem sei o que fazer, apenas levar embora a falta que sobrou...
Todo dia assim já é mais que muito tempo e gostaria que as lembranças não maltratassem o meu coração e que você pudesse saber que eu vou vencer o que antes me dava vida e agora me aprisiona e mesmo sem lhe ver fico entre o que fomos e o que não podemos ser. Desejo que ames um amor pela totalidade e que não sofras também com a infelicidade de ser rejeitada e esquecida...
Quando quero sorrir tenho que lembrar que o sol está gostando de alguém, assim vou levando a minha felicidade para outros cantos como a poeira que insisti em ficar. Mas foi eu que fiquei aqui com raiva e desculpas, aprendendo a perder e perdoar para ter um motivo de viver a minha vida com dignidade e orgulho novamente. Só não sei como vou aprender a enxugar as lágrimas que agora moram em meu rosto e molham o meu espirito deixando encharcado os planos que fiz para ficarmos juntos e o tempo é tudo que temos mas fica indo e vindo, e conseguiu trazer você para perto de mim. Mas eu vou lhe fazer esquecer e aprender a ficar bem sem mentiras e passado...”, disse se esforçando para ser entendido.
__ “ Mais urgente que a vida é a falta que você me faz sentir do que pode ser nosso sem tempo e sempre belo era tudo que quis que fosse para sempre, mas quando aquela manha chegou em ventania eu sabia que seria em distancia. Você era o que eu mais queria por perto e era de ti que eu mais gostava e ainda sei que deixei o vento levar embora: “Sonhos e pensamentos”. Lembrar que às vezes tudo parecia ser o certo e tendo o mundo como meu refúgio, mas os cacos de vidros que eu tinha que pisar levava dor em meus olhos e não quis que tudo ficasse sem sentido e que você pudesse aparecer para mim e sorrir...
Se em alguma vez eu cheguei a pensar que poderia ir até o fim e poder perpetuar o que vivíamos, mas quando na verdade tudo que eu tinha era apenas o encanto pregado em alguma parte do meu coração e era nada além da dor e de promessas perdidas.
Nem mesmo cheguei a ver o futuro através das mãos que cobriam os meus olhos, só via o que podia ser visto e esquecia de tudo que não deveria ser esquecido...
Em algum lugar ficou guardado o meu medo e indiferença abrindo um enorme espaço Entre o que era especial e o que era tenebroso e escolhi o que nos causava mal mais de uma vez.
E distante fui me tornando estranho e doente como que por milagre sobrevivi ao que restava do amor e por um instante apenas isso me colocava lado a lado mais uma vez. Sem entregas nada podia me trazer de volta do local onde fiquei em separado... Mais de uma vez eu não ouvi o que tentavam me dizer e me prostrei ao que não desejei e por mais tempo não quis saber de quando eu sabia que eu não poderia estar sempre estava lá, com segredos, mistérios e insegurança tudo em medida exata.
Mas, eu me perdi quando precisa ir em outra direção e cega me distanciei de tudo e longe. Não conseguia ver nem mesmo lembrar de um sorriso, apenas da dor que isso me causava e da saudade de quando tudo era inteiro e belo. Quase nunca senti que quebrava em milhões de pedaços o que mais queria era me ver feliz e bem. Mais de uma vez sempre e novamente e tudo se partia em outros pedaços. E pensava que apenas eu é que deveria ser parte do mundo e ser para sempre...”, as lágrimas que caiam não chegavam a tocar no chão, simplesmente desapareciam.
__ “Eu desejo conseguir seguir em frente com o que melhor planejei na minha vida
Estou de braços para o ar esperando que esse dia acabe e que outro venha reconstruir o que ainda pode ser consertado... Me observe, gritando, chorando e apanhe daqui
Me veja, berrando, pedindo e me erga do chão...
Eu nem cheguei em pensar em lhe esquecer. E por isso insisto em que não se vá tão depressa assim. O que eu pensei que nada pudesse destruir se foi muito rápido. Coisas que pensei que fossem durar para sempre, coisas que pensei que eram para sempre...
Assim não quero ver você se distanciando de mim, rápido, difícil e certeiro levando embora o que pensei que para sempre fosse ficar entre nós e por isso não cheguei nem em tentar evitar esse confronto que poderia me trazer tanto sofrimento. Abro o peito para lhe mostrar que o que sinto ainda vive. Eu costumava acreditar fácil demais em tudo que vinha de fora e agora nem no meu peito aberto acreditará. Não consigo continuar se o que quero é ter você por perto o tempo todo, mas eu coloco toda a minha fé em seu alicerce. Enquanto a minha vida flutua entre o ontem, o hoje e o amanha. E no amanha, eu espero ter você aqui novamente”.
__ “Você não deixará de me ver, e não temas isso, estarei sempre contigo”
__ “Vais me amar?”, as mãos tensas esfregavam-lhe os olhos nervosamente.
__ “Já e pôr toda a eternidade que nos for permitido. E será um amor eterno, mas...”, deixou escapar a duvida que lhe incomodava.
__ “Mas...”, continuou.
__ “Ainda não estas pronto para entender e fique calmo, que não demorará que os seus olhos sejam abertos ao que não consegues ver”, emendou.
__ “Já escutei isso, sobre ‘abrir os olhos’, acho que vou acreditar que sou cego”.
__ “Sei que não és cego, e sei que às vezes fechamos os nossos olhos, pôr simples conveniência. No teu caso, apenas mais um pouco de tempo e entenderás, o que se passa diante dos teus olhos fechados”.
__ “Como será que o tempo me mostrará?”
__ “Não posso mais ficar aqui, tenho que voltar...”
__ “Deixe me leva-la para a sua casa!”, pediu, tentando ser gentil.
__ “Não, ainda não! Você será o amor da minha vida e ainda não podemos estar juntos.”
__ “Quando a vejo de novo?”
__ “Logo!”
__ “Posso contar ao Tato e Elisa que este aqui?”
__ “Ainda não! Espere que logo teremos essas respostas. Fique na Paz do Senhor!”
__ “Posso beija-la?”, perguntou contemplando os seus belos olhos.
__ “Não, temo que ainda não podes me tocar. Mas, se já estou aqui é que logo estaremos juntos de verdade. Procure Dona Diana e lhe diga que estive aqui e converse com ela, e algumas respostas chegará até o seu coração”.
__ “Vou contar as horas para lhe ver outra vez! Pode deixar que contarei a Dona Diana. Vá com Deus!”

Isabel saiu e Maurício parecia mais feliz do que pensou que poderia sentir, e não reagiu ao que ouviu, ficou parado, e passou a pensar apenas na imagem de Isabel, ali, encostada na parede, falando, olhando, calma e serena. Todavia, misteriosa e furtiva, como se estivesse jogando um jogo delicado e cheio de perigo. Maurício, pensava em tudo, mas pacientemente aceitou esperar, já que sentia que Isabel logo estaria de volta.


P.S: Aqui está o 2 capitulo...
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