SENHORES DE ENGENHO SE MOBILIZAM: COIVARA É MANTIDA
PIRACICABA - 22/11/2005
Técnica usada pelos indígenas há séculos é mantida no interior de S. Paulo
Pelo menos 100 pessoas, entre familiares e trabalhadores rurais, participaram do protesto ontem, em frente à Câmara de Vereadores de Piracicaba, contra o projeto de lei do vereador Capitão Gomes.
A pretensão do edil era a de impedir a queimada da palha da cana dentro do município. Essa ténica é defendida pelos usineiros pois facilita o trabalho de corte, bem como espanta os animais peçonhentos do canavial.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Piracicaba e Saltinho, Aparecida de Jesus Camargo, disse que a manifestação foi para conscientizar os vereadores.
Os manifestantes chegaram às 14h30 e pretendiam ficar até o final da votação. A doméstica Marli Teixeira Lares, 45, disse que os pais vieram de Belo Horizonte há 15 anos para trabalhar na lavoura. “Se eles perderem o emprego, a gente vai passar fome. Depois que as pessoas começam a roubar ninguém sabe o porquê”, disse Marli.
O cortador Sérgio Aparecido Moura, 45, disse que ele e a mulher trabalham na safra há um ano e meio e sustentam os quatro filhos. Antes, Moura era servente de pedreiro. “Gosto do meu trabalho e não acho que faz mal à saúde. Não quero ser servente de novo.”
Segundo o estudante Douglas Miqueas, 15, o pai trabalha no corte de cana e paga seus estudos com o dinheiro que recebe na safra. “Além dele gostar do que faz, não possui outra alternativa de trabalho porque tem pouco estudo”, declarou Douglas.
Cortador de cana há 16 anos Renato Matheus dos Santos, 56 disse que trabalhar na lavoura é uma questão de necessidade. “Acostumei com esse ramo de serviço e sobrevivo assim.”
O presidente do Sindicato Rural de Nova Granada, que participou da manifestação, Norberto Marques, disse que a proposta do vereador não prevê alternativas aos pequenos produtores e nem mede o desemprego.
Na cidade de Piracicaba existem mais de 300.000 pessoas. Quando ocorrem as queimadas toda a população sofre com os resíduos voláteis da queima. Quem ganha com isso é um pequeno grupo reduzido.
As crianças e pessoas idosas valem-se dos serviços públicos de saúde durante esses períodos e buscam tratamentos contra as doenças respiratórias, causadas pela fumaça.