Terra rachada
Seca
Cactus
Fome!
Olhos com lágrimas
Dispersa esperança
Nuvens escassas
Poeira
Suor...
Crianças chorando
Nariz escorrendo
No cabo da enxada
Mãos calejadas
Mãos que trabalham
Mãos que balançam
O berço de palha
Mãos que constróem
O casebre de barro.
No céu
Um azul sem esperança
O azul de um Deus que abandonou o barco
Que abandonou o barco na seca
Que castrou a vontade dos filhos
Que matou o gado de fome
Que queimou a semente no chão.
Roupas rasgadas
Lamentos,
Orações
Velórios!
União analfabeta de corpos frágeis
Que esperam a vinda da chuva
E que morrem na esperança
E que se desesperam
E que não voltam atrás...
Mães desnutridas
Cães sem raça
Crianças encardidas
Jovens sem dentes!
Essa é a cena de um filme
De terror e de suspense
Próprio para menores,
Para todas as idades,
Para todos os gostos!
Mas o bilhete de entrada é escasso!
Os diretores do filme são poucos,
Estão de férias permanentes para o público!
“O CONGRESSO NACIONAL ESTÁ EM SESSÃO!!!”
(todos arrotam caviar com vinho branco)
estão maquinando um novo filme!
Será desta vez uma comédia!???
Noite silenciosa!
O chão não se umedece,
Não há brisa...
Os atores do filme em cartaz
Dormem unidos no chão,
Enroscados, em silêncio, suados,
Guardando a fome para o “show” do dia seguinte...