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cronicas-->De Menina... -- 07/01/2002 - 11:59 (JANE DE PAULA CARVALHO SANTOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquela bela tarde de primavera, pensava Lúcia em escrever um diário. Uma idéia perfeita, para uma tarde perfeita - ops! Tinha esquecido de lavar a roupa do cesto... A roupa do inquilino.
- Vó, o seu Valdo deixou sabão com a senhora?
- Não! Mas vai lavando com o resto do tanque, que depois eu cobro dele.
A avó remexia no quintal um tacho enorme sobre o fogo, com gordura velha, soda cáustica e sebo de animal, para fazer sabão de bola. Só quem já teve o desprazer de presenciar esta alquimia (e, posteriormente, utilizar desse produto artesanal finalizado) conhece o mal cheiro que paira e permanece no ambiente . O ranço azedo da gordura fervendo, parece se solidificar no ar e untar o pulmão de quem respira - mesmo à distància.
Nestes dias de ferver gordura no tacho, quem podia fugir, fugia - tios e primos, vizinhos, cachorros... Ninguém suportava o suplício, mas ninguém tinha coragem de enfrentar a vó. Lúcia pensava que a avó bem que podia comprar sabão - como todo mundo - não iria alterar tanto assim o orçamento, e não mais se incomodariam os outros. Mas a avó não estava muito preocupada com os outros.
Já estava com a cesta na mão, quando o inquilino apareceu. Parou diante de Lúcia, acenou com um pacote e disse:
- Olha o que eu trouxe pra você...
Não dava para ver o que era, a figura estava contra a luz do sol e ela via apenas a silhueta.
Lúcia perguntou se era sabão, duvidando que fosse, pois era uma caixa pequena.
O inquilino soltou uma gargalhada forte, curvando o corpo para trás, em verdadeiro gozo. Lúcia não compreendia e não se importava, voltou a pensar na cesta. Mas o inquilino insistiu, desta vez jogando o pacote em cima das roupas por lavar.
- É para você fazer uma coisa para mim.
Lúcia olhou o pacote. Era um conjunto de canetas hidrocores, de doze lindas cores, com ponta porosa! Só tinha visto destas na vitrine do armarinho, mas eram muito caras... Nem ela, nem as colegas da escola jamais poderiam ter daquelas. Rapidamente, o inquilino pegou de volta a caixa de canetinhas e se dirigiu para a porta de seu cómodo, aguardando que Lúcia o acompanhasse.
Lúcia não desgrudava os olhos do pacote e, assim hipnotizada, seguiu o inquilino.
O homem fechou a porta com chave, baixou a cortina da janela e Lúcia se sentou na beira da cama. Não havia muito no cómodo - que era bem apertado - uma cama, uma guarda roupa velho e sem portas, uma cadeira - e não caberia mais nada.
Lúcia quis fugir, mas o homem balançava a caixa de hidrocores roçando o seu nariz e Lúcia não se movia.
O homem, com a mão livre que restara, abriu a camisa de Lúcia e amassou o que, tempos depois, veio a ser um seio (Lúcia tinha apenas dez anos!). O membro do homem se avolumou nas calças, forçando-o a abrir o zíper. A mão livre do homem agora entrava na calcinha de Lúcia e a tocava asquerosamente, se contorcendo de prazer.
Lúcia era então não mais que uma estátua, os olhos não viam mais que a caixa dançando e as cores se entrelaçando, visão turva de lágrimas que - não entendia por que - insistiam em cair.
Aquilo durou uma eternidade, a mão subindo aos seios e descendo à vagina, a velocidade aumentando gradativamente, o homem sussurrando obscenidades e Lúcia estática.
Então, o homem acabou e desabou sobre a cama, deixando a caixa cair e as canetas se espalharem pelo chão.
Num gesto rápido, Lúcia fechou a camisa e apanhou as canetas. Tateou a fechadura da porta, tentou em vão visualizar a chave e, por fim, pulou a janela.
Lá fora, Lúcia se atirou no cesto de roupas, abriu a torneira e encharcou a si e às roupas. O cheiro do homem havia empesteado suas roupas, estava em seu corpo, estava dentro de si. A água jorrava, mas Lúcia procurava ardentemente com as narinas o ranço da gordura fervendo - precisava dele. E o cheiro estava lá denso e acolhedor - cheiro conhecido e amado. Aspirou o mais que pode - com a boca aberta, como se fosse aos goles - e imergiu na sensação de estar ela própria fervendo no caldeirão purificador.
- Tá estragando água, menina! - era a vó, preocupada por estar escutando o jorrar da torneira ininterruptamente, há no mínimo dez minutos. Êta povo esbanjador!
Lúcia desligou a água, apanhou o sabão e começou sua rotina - lavar, ensaboar, bater, enxaguar, torcer, estender...
Sentiu o calor do sol nas costas e as moscas pousando em sua pele molhada. De longe ouvia os resmungos da vizinha que acabava de chegar e dera de frente com a baforada morna do caldeirão - o seu cheiro redentor.
Pensou que o dia estava tão lindo - era uma bela tarde de primavera - como seria bom escrever um diário! Começaria assim: "Hoje, quinta-feira, fez um sol maravilhoso. Se minha vó não tivesse inventado de apurar gordura velha, poderia sentir o perfume das roseiras de D. Gervásia - todas em flor!"
Que belo começo! Pena que não havia mais nada na cabeça para escrever... "Hoje não aconteceu nada... Mas depois eu invento um fuxico qualquer. Aí, vou pintar tudo de canetinha, por uns corações e mostrar às meninas ".
- Elas vão morrer de inveja!

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