Ilusão de Ópera
E se ria.
E se ia.
A cena figurava uma comédia mal escrita.
E se bebia.
E se comia.
O ato de pecar era mais explícito que original.
O perceber não ocultava o saber,
e pelo aroma das almas,
o saber não escondia o ser.
E a platéia, entorpecida de neon e sofrimento,
não sentia o crepúsculo de seus dias.
Os ébrios, possuídos pelo carisma das poções,
travestiam palavras de sóbrias razões.
O sério deveria viver. O falso prevalecer.
A temporada viveria assim mesmo:
exalando fumaças de paixão,
ignorando as cinzas da razão.
Passaria aquela noite,
mas os vícios mostrariam outros caminhos.
As vozes e os brindes se calariam,
tornando o silêncio uma essência de gelo
derretido e tragado pelo prazer do ócio e sedução.
Passaria tantas noites,
como tantos sonhos desfeitos.
Ah... esses sonhos!
Essas crenças não morrem jamais.
Seguiriam juntos figurantes, figurinos.;
Atores e autores ainda se encontrariam
pra encantar a vida e celebrar a morte.
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