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Contos-->O Boceta de Pandora -- 23/03/2002 - 10:51 (Guilherme Laurito Summa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Sol, mar e, principalmente, garotas de formas espetaculares com biquínis apertadinhos, são a receita de um bom fim de semana na praia. Pelo menos era isso que o estudante paulista de infectologia Luís Fonseca achava antes de sua pacata vida se transformar em um verdadeiro pandemônio.
Tudo começou em agosto de 1992 quando Luís, cansado de viver em plena monotonia junto à suas pesquisas sobre a vida dos pernilongos transmissores, resolveu se dar uma folga por tempo indeterminado. Imaginava ser um pouco aarônico, mas desta vez faria uma viagem diferente.
— Eu vou é fazer um tour por aí porque desse jeito não dá! — disse, arrumando sua mochila — É minha irmã gritando, meus pais brigando e meus avós reclamando de tudo! Como posso viver desse jeito? — completou.
Era maior de idade, mas sentiu necessidade de comentar com seus pais sobre a inesperada viagem. Sentou-se no sofá da sala de estar para fazer o comentário, mas teve que esperar seus pais acabarem de brigar. Brigavam pela antiga questão machista de que mulher não podia trabalhar.
Depois de uma maré de discussões tolas, o homem acabou por convencer sua mulher, grávida de sete meses de uma menina, de que não podia trabalhar como estivadora nos próximos meses.
Luís percebeu que a discussão havia terminado e com sua mochila de explorador nas costas e seu relógio no pulso, levantou-se triunfante do sofá e declarou:
— Vou sair de viagem!
— Tchau! — disse a mãe, apalpando a barriga.
— Tchau! — disse o pai, com a orelha na barriga.
Sentiu-se como um cão vira-lata molhado e sujo: meio rejeitado e ignorado, mas foi-se assim mesmo. Ao sair de casa, notou uma manifestação de pessoas do outro lado da rua. Foi averiguar e notou que um vira-lata, molhado e sujo, era acariciado por pelo menos quinze pessoas.
Partiu em direção à rodoviária, localizada a dois quilômetros dali. Chegando lá, comprou uma passagem de dez reais com destino à praia. Um verdadeiro paraíso de acordo com a estação climática em que se encontrava: o verão.
O ônibus, de viação Greyhound, valia cada nota que Luís havia gastado na passagem, pois os bancos eram todos acolchoados e forrados com exclusivos panos vermelhos. E o motorista era gentil; um fato que nem nas melhores viações ocorreria (a não ser por outro simples fato de que o motorista teria sido gentil com a morena de seios fartos e não com Luís).
O transporte da viagem parecia ser um sucesso para o garoto: excelente ônibus, fileira da esquerda, último assento, morena de seios fartos ao lado. É como se aquele cão vira-lata que Luís havia se sentido anteriormente, tivesse se transformado em um cão bretão de pedigree.
Duas horas depois de partido da rodoviária, o ônibus parou no acostamento e depois de alguns minutos voltou à estrada. Isso inquietou o passageiro 41, Luís, que foi obrigando a iniciar uma conversa com a morena do lado.
— O que será que aconteceu?
A morena tinha 21 anos, seios fartos e lábios tão carnudos que fariam um homem ir ao delírio ao primeiro beijo. As palavras saíram de sua boca exalando um perfume doce e quente com o mais incrível tom de voz que Luís já havia ouvido.
— Talvez ele tenha ido fazer um xixizinho... — disse ela.
O “xixizinho” parecia virar um líquido galvanizado saindo daquela boca esplêndida. Luís veio ao delírio no mesmo instante, parecia um lobo faminto por carne, e, meio enfeitiçado com a magia externa da garota, continuou com a conversa:
— A urina desceria tão devagar?
— Como assim? — disse ela, soltando uma risadinha.
— Demorou... pro motorista voltar pro ônibus...
A garota riu e emanou consigo seu perfume natural por todo o assento. Ela cheirava a sabonete, mas não um qualquer, era um odor forte, porém, delicado. Luís pôs-se a babar quando começou a notar não somente a face da fêmea, como no feixe involuntário que unia os sinuosos seios e nas coxas que estavam descobertas propositalmente para excitar homens.
Da conversa sobre o motorista, Luís passou a falar sobre a viagem à morena. Da viagem passou a falar sobre ele mesmo, obrigando a moça a falar dela. E assim se seguiu o resto da viagem.
Na rodoviária, já no litoral, Luís não teve coragem de se despedir da moça. Ela era tão gostosa que seria um desperdício para qualquer homem não convidá-la para ir almoçar, pedi-la em casamento e ter filhos ou uma mancada não transar uma vez, pensou. Ele convidou-a sem nenhuma timidez. Ela parou, hesitou, olhou para os lados, mas acabou aceitando.
Em vez de ir para um albergue, como de costume quando ia para as montanhas, Luís resolveu alugar um quarto em um hotel de classe por razões bem claras. Tinha dinheiro suficiente para isso e uma mulher incrível para fazer-lhe companhia.
Alugou um quarto simples, mas suficiente para viver orgias intermináveis a dois. Subiram ao quarto e lá se conheceram melhor do que nunca. Abriram a janela para abafar o clima quente, e conversaram sobre plantas, drogas, medicina, faculdade, corrupção e automóveis, até chegarem a um assunto que fez ambos se acanhar: sexo.
— Você tem namorado? — perguntou Luís, meio encabulado.
— Não... — disse a moça — Mas tive um namorado com quem fiquei por quatro anos — completou.
— E por que está solteira agora?
— Porque aconteceu um acidente...
— Gostaria de falar sobre isso? — disse ele, jogando-lhe um charme.
— Não! — respondeu a garota um tanto nervosa — Espere, meu braço está coçando...
— Deve ter sido o ar. Vamos! Fale! Desembuchar faz bem... — houve uma pausa nas palavras dele — Qual é mesmo seu nome? — questionou.
— Isso não importa agora... — disse ela, lacrimejando.
— Por que está chorando? Conte-me...
— Pode parecer gozado.... — ela hesitou e continuou — Há alguns anos conheci um outro rapaz... era homossexual e drogado. Um dia pegou AIDS, quando se drogava com outros caras... — a bela garota marejava em lágrimas transparentes e continuava a falar — Um dia, fomos viajar para o litoral, somente eu e ele, como amigos. Alugamos um quarto em hotel de duas estrelas e quando chegou a noite fomos dormir. Dormimos em camas separadas e com... a janela completamente aberta...
Seu depoimento é rompido por um prolongado choro juntamente com uma maré de lágrimas salgadas. Luís não entende nada daquilo, mas insiste para que a moça continue:
— Por favor, continue...
— De madrugada, quando dormíamos, o quarto foi infestado por pernilongos... talvez por causa do calor que fazia... e um deles picou e sugou o sangue do meu amigo... — sua compostura muda quando relembra tal fato — Sou mesmo uma estúpida! Como pude me envolver com aquele filho da puta!
— Transou com um aidético? — interrompeu ele.
— Não! É claro que não! — disse ela, apaziguando-o.
— Ufa... pensei que você...
— Fosse aidética? — interrompeu ela, desta vez — Acha que eu seria tola de transar com um maldito gay viciado em cocaína e aidético!? — disse, nervosa.
— Desculpe, não quis ofendê-la... — disse, calmo — Mas continue, o que aconteceu quando seu amigo foi picado pelo pernilongo?
— Depois de picá-lo o pernilongo voou diretamente para mim...
— E?
— Percebi seu zumbido perto do meu ouvido e dei um tapa nele. Acertei-o... bem em cima de uma ferida que eu tinha no pescoço...
— Vá direto ao assunto. Diga!
— Você não entende! A ferida estava aberta! Quando esmaguei o inseto em mim contrai HIV!!!
A linda garota fica histérica quando relembra de tudo aquilo, mas para Luís aquilo não passava de uma gozação. Ele interveio, meio rindo, e, acariciando o rosto da moça, disse:
— Isso é uma gozação?
— Os médicos falaram que a probabilidade disso acontecer é de uma em dez milhões, e isso quando o sangue aidético ingerido pelo mosquito entra em contato com outro tipo de sangue...
— Está querendo me dizer que pegou AIDS porque matou um mosquito no pescoço que tinha o vírus HIV?
— Claro...
— Só pode ser piada... — riu.
— Quer a prova!? Transe comigo e faça o teste depois!!!
— Talvez valha a pena pegar AIDS...
— Não quero envolvê-lo nisso... me desculpe...
Aquela bela morena de olhos verdes deixa o quarto e vai embora do hotel. O garoto não reage porque sabe que não vale a pena se matar por uma linda mulher.
— Tudo por causa de um mosquito! Um inseto de três centímetros me impediu de transar com uma puta garota gostosa! Não sei nem quem tem menos azar: se eu ou ela? — comentou consigo mesmo.
Era o primeiro dia de férias e ele já estava exausto às nove horas da noite. Acabou por dormir naquela hora mesmo, reservando energias para o dia seguinte que prometia ser muito agitado.
Na calada da noite, o sono de Luís fora interrompido por insistentes zumbidos que atordoaram o silêncio do quarto. Por mais que tenha tentado se esconder por debaixo das cobertas, os pernilongos perseguiam-no por toda a parte. Até com o turbulento ventilador do quarto era mais fácil dormir do que com aquelas pragas voadoras.
A luz se acendeu no quarto e uma caçada se iniciou. Enquanto abatia alguns na parede, era picado por outros no braço e pernas. Eram insaciáveis, pois alguns deles já estavam bem gordinhos quando começaram a atacá-lo. Luís matou cinco na parede, dois na cama e um na porta. Faltava um, era o confronto final.
Talvez a cólera em matar um pernilonguinho tenha levado o rapaz e descer com tudo a mão no ventilador. Imediatamente a mão fora decepada. O sangue correu para todos os lados do aposento, realizando um perfeito banquete para muitos outros pernilongos. Enquanto Luís gemia de dor, os mosquitos comemoravam com doce vinho a vitória.
Os chamados de socorro não foram ouvidos naquela madrugada, e sim, quatro horas depois do incidente, logo pela manhã por um empregado do hotel.
Luís foi levado urgentemente ao pronto-socorro da cidade, a quarenta quilômetros do hotel, com hemorragias externas gravíssimas. Ficou na UTI por vários dias, mas acabou sobrevivendo.
Diversos exames foram realizados durante sua recuperação, que não era das melhores. Os médicos, percebendo que seu sistema imunológico não estava normal, mandaram realizar um teste de HIV. O resultado foi um choque: positivo.
Luís apenas não compreendia como tinha pegado o vírus se nem mantivera relações sexuais com a morena.
Com o tempo, seus pais faliram de tanto gastar dinheiro em clínicas e remédios inúteis que prometiam uma maior longevidade ao garoto. Sua irmã acabou contraindo, em uma viagem que fez ao Zaire, um vírus letal que matava em poucas horas. Seus avós morreram num terrível acidente, em que o automóvel chocou-se com um caminhão de Off, famoso repelente contra pernilongos.
E seus amigos o haviam desprezado depois que ficaram sabendo que tinha pegado AIDS, porque imaginavam que ou Luís havia tido relações sexuais com homens ou havia se drogado com seringas de outras pessoas.
Deitado em uma cama de hospital, cercado de aidéticos, Luís torna-se um pensador quando está a pouco de morrer. Imagina como seria sua vida hoje se a viagem não tivesse ocorrido. Finalmente percebe o causador de toda a desgraça:
— Maldito mosquito... — diz.
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