(ao sempre presente Manuel Carneiro Mendes-Sá)
Hoje sinto-me rodeado por trevas. Tudo à minha volta é escuridão. O mundo está opaco e tenebroso. Há uma semana não bispo o Sol, sinto-me sem forças sem sua luz.
Nestes dias acercam-se dúvidas de mim, necessito de respostas, sei que não existem, mas, se os tolos enganam a si, por que não eu? Não posso conceber a idéia de que acordarei amanhã e terei de existir novamente. As melhores horas de minha imutável existência pousam enquanto durmo, é quando não me sinto, não existo, não sou...
De tempos em tempos sinto tais necessidades e dúvidas. Não que noutros dias não existam, mas é que as suporto com um pouco de ironia e bom humor. Toda a minha existência é obscuridade, o pouco de luz que raras vezes iluminam-me tratam-se de embustes: nada além de bezerros de ouro.
Somente sinto a inevitável necessidade de dar um fim a tudo. Nesses dias, obscuros, possuo a inevitável presença da morte. Fica como que a sussurrar aos meus ouvidos: "Só existe uma saída, abra esta janela, verá como é fácil. É melhor a morte à vida, garanto-lhe". Mas há outra voz (que não presumam ser de outro além de mim mesmo) aconselhando-me a aguardar; um dia, de qualquer modo, ela virá. Por que não esperá-la? Mas confesso ser este um sentimento auto-destruidor, pertence à natureza humana mesma - se é que existe - o fato de desejar o próprio sofrimento. Quanto maior a dor - se é que se pode pór em termos quantitativos - maior o prazer.
Mais dia menos dia terei de resolver-me, não creio que tal atitude nasça da razão, mas da explosão. Se quiser atentar contra minha existência, será de forma abrupta, sem raciocínio e atrabiliariamente.
Sei que estas nuvens logo dissiparão, que voltarei com as ironias, as cores, o Sol. Mas, enquanto não se vão, sinto-me desorientado. Morto!
* Lembre-se de que vai morrer.
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