Mal Dona Zinha acabara de grafar "assucar" no quadro-negro, não hesitei um tiquinho:
enchi-me de uma coragem que não imaginava ter e fui logo objetando ao escrito da
Mestra:
"Mas açúcar não é com c cedilha, e acento no u?"
No átimo, não pude atinar se os colegas de classe me olhavam com espanto ou
compaixão, pois contestar uma professora era coisa muito séria, mais ainda quando se
tratava de uma explosiva Dona Zinha. E o ano era 1959.
E Dona Zinha estrilou, fazendo jus à fama - e ao meu drama: "Pode ser sim, com
cedilha, mas a forma antiga ainda vale e eu confio mais na forma antiga". E inobstante
a explosão, ela `adossou` o que havia escrito, sem contudo, dar sinal de `endoçar`
minha modesta - e indigesta - contribuição ao bem escrever.
Dali pra frente, contudo, nem tudo foi diferente, ou menos deferente: nossas relações
não padeceram de estremecimento, numa indicação de que o calor do incidente fora
absorvido - e absolvido, pra cair no bom olvido.
Dona Zinha ainda me deu o prazer de ter uma composição premiada, uma folha de
teste reabilitada - que um desafeto de instante havia jogado ao lixo, durante o recreio
- e, para temperar as bonanças, me reprimido duramente quando me pegou no ato,
desferindo um cruzado no nariz de um colega. A intenção fora um golpe brincadeira,
mas a ação foi por demais certeira - além da sangueira. Tive que limpar, com um trapo
e lágrimas em farrapo, piso e carteira. |