Evo Morales, um índio Aimará, elegeu-se presidente da Bolívia. Obteve uma votação jamais alcançada por outro candidato. Um resultado singular que está na mídia internacional e expõe grandes interesses.
Corajosamente o povo boliviano coloca como primeiro mandatário, um dos seus mais representativos cidadãos, um dos mais autênticos filhos dessa América. Por isso essa eleição seja tão emblemática, possivelmente mais significativa que a eleição de um metalúrgico presidente do Brasil. Quando Cristóvão Colombo aportou por essas bandas foi recepcionado pelos parentes de Evo. Os primos de Evo já habitavam esse “Continente americano coração gosto de sal”.
Evo Morales tomará posse no dia 22 de Janeiro com importantes compromissos, dentre eles, convocar uma Assembléia Nacional Constituinte e a nacionalização do gás natural.
Há algumas semelhanças nas agruras nos caminhos dos presidentes Evo e Lula. Ambos são oriundos das camadas mais humildes da população. Ambos nasceram em 27 de outubro. Entretanto, não consta que Evo tenha emitido uma “Carta ao povo boliviano” para desdizer o que havia dito. Seria muita coincidência, cara-pálida.
Os primos de Evo estão espalhados pelo continente e também estão presentes nessa Santa Maria cheia de graça, berço de Ymembuí e Morotin. São famílias que perambulam pelas vias e calçadas. Eles têm os olhos tristes e vestem roupas rotas. Maltrapilhos, são os farroupilhas do século 21. As crianças brincam com restos de lixo, com copos plásticos descartáveis e engatinham pelo calçadão. As mães amamentam seus bebês ao relento, vendem tralhas e colocam migalhas nas bocas dos pirralhos. Esses primos de Evo acampam em frente às lojas e dormem nos recantos camuflados pela penumbra dos corredores públicos. Comercializam cestas de vime no Natal e chá de marcela na Páscoa. Os primos de Evo são passageiros das datas significativas. Os primos de Evo são passantes em desatino.
Esses são os brasileiros primos de Evo e herdeiros de Sepé. Eles vivem nas praças. E são personagens de um retrato mal-emoldurado dos antigos donos desse continente.
