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Contos-->Infelicidade -- 25/03/2002 - 22:35 (Guilherme Laurito Summa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Depois da trágica morte da esposa, Leonel dedicara o resto de sua vida inteiramente à suas batatas, uma pequena plantação que ocupava alguns acres de terra. Desfrutava de toda a riqueza e poder de um verdadeiro rei, porém, era muito solitário e infeliz.
Há alguns anos atrás, sua mulher Alice acordava para mais um dia de trabalho. A plantação de batatas ainda não existia, mas havia outras tarefas a serem cumpridas; coisas simples como extrair leite das quinze vacas, e alimentar os porcos, galinhas e até os gansos residentes a um quilometro da chácara. E tudo isso era feito com muita boa vontade.
A grande fazenda era cercada por alguns de hectares de árvores, porém, isso não rompia a comunicação do casal com o resto do mundo, porque a estradinha de terra, que ligava a chácara à cidade local, além de fornecer uma bela paisagem de animais silvestres e plantas exóticas, era perfeitamente acessível.
Na região coberta de verde, mais conhecida como Floresta Pintada, havia apenas um animal que se diferenciava dos outros: onças. Eram conhecidas por atacar vacas, porcos, gansos, patos e até cavalos. Quando surgia algum animal doméstico mortalmente mutilado, a culpa era de alguma onça que circulava pelas redondezas. Mas nesse meio, onças não eram as únicas caçadoras.
O turismo iniciava-se na cidade e com isso diversas lojas rústicas lucravam muito vendendo bugigangas e lembrançinhas aos turistas. Aos poucos a cidade crescia e ficava cada vez mais conhecida por todo o país, principalmente pela descoberta de uma pequena gruta apelidada de “Gruta dos Peixes Claros”, devido à abundância de água limpa e transparente. Muito conhecida ficou também a Floresta Pintada e suas onças.
As empresas de turismo especializadas levavam milhares de pessoas anualmente à Floresta e à Gruta. Gente de todo o tipo invadia os domínios naturais: homens, mulheres e crianças; presidentes, embaixadores e rainhas; ecologistas, empresários, cientistas, freelancers e muitas outros. Mas muito além dos curiosos e cientistas, havia também implacáveis caçadores de peles, que, há pouco tempo, tinham percebido o valor real de toda essa beleza.
As onças começaram a ser caçadas impiedosamente, atingindo, muitas vezes, uma cota de mais de 50 bichos mortos ao ano. As espingardas geralmente faziam todo o serviço, mas havia quem usasse técnicas de armadilha; metros de buraco escavado disfarçado por folhagens e armadilhas para doninhas eram alguns exemplos de armadilhas.
Muitas atitudes foram tomadas para acabar com a caça, mas os caçadores agiam furtivamente e era praticamente impossível detê-los. O prefeito tentou fazer campanha a favor das onças, mas só conseguiu publicidade para si mesmo.
Oito anos depois de iniciado o turismo, a cidade havia se transformado completamente. A situação estava extremamente caótica. Os locais de preservação florestal sofriam com lixo e agressão, sem contar, é claro, as excreções humanas espalhadas por todas as frestas da gruta (resultado dos pacotes de excursão que duravam mais de dez dias). A madeira da Floresta começou a desaparecer, conforme projetos de novas casas e edifícios iam surgindo. O número de onças, que antes ultrapassava 2 mil exemplares, chegava a um número de menos de 200.
Apesar de tantas mudanças, a vida continuava normalmente para o casal Leonel&Alice. Ela cuidando das novas gerações de galinhas e porcos e ele administrando campanhas contra a caça predatória de animais silvestres.
Numa bela manhã ensolarada de primavera, Alice acordou bem disposta para alimentar seus animais. Ficou surpresa quando notou que os grãos de milho que as galinhas comiam havia acabado, e resolveu ir à cidade para comprar mais grãos. O casal tinha um carro, mas ela não sabia dirigir e ele ainda não tinha acordado para levá-la até a cidade. Somente com uma boa disposição era possível caminhar alguns quilômetros por uma mata fechada repleta de animais selvagens.
Tudo estava silencioso demais para uma floresta habitada por diversas espécies de animais. Não havia berros de alguma arara ou de papagaios e nem micos sobre os galhos das árvores. Nem insetos zumbiam pelas redondezas das orelhas!
A caminhada duraria no máximo trinta minutos se não fosse por um imprevisto: um bramado fúnebre e curto que cortava o silencio. Alice se assustou, e ao mesmo tempo, lembrou o dia em que encontrou uma onça devorando o cadáver de sua mãe. Ela correu desesperada para uma árvore que achava conseguir subir e tentou subir; conseguiu, mas não imaginava que o bramar da onça vinha exatamente daquela árvore.
Assim Leonel ficou sozinho, apenas com a dor da perda de sua esposa em seu coração. Seus dias eram infelizes, mas o pior deles ainda estava por vir.
As batatas já estavam no ponto para serem colhidas no fim de outubro. A safra estava marcada para ser colhida numa sexta-feira por João, um sócio de Leonel, e estava maravilhosa, renderia milhões!
A previsão do tempo daquela quarta-feira prometia ser ensolarada e seca, ou seja, ideal para o fim de uma colheita. Leonel estava saindo de sua casa para as tarefas de rotina quando percebeu uma nuvem escura pairando no céu. Antes pensou que fosse uma nuvem passageira de chuva, mas a previsão de tempo era de sol e sem nuvens. Logo percebeu que aquilo seria o pior pesadelo de sua vida.
Gafanhotos!!! Milhares deles! Milhões! Migrando em busca de comida. Uma nuvem estendia-se por centenas de metros no céu. Leonel correu para seu aviãozinho particular e decolou vôo. Milhares de gafanhotos-migratórios desceram sobre a plantação e começaram a devorar tudo. No céu Leonel borrifava uma massa densa de inseticida para pragas, mas isso ajudaria muito pouco.
Leonel voava junto a alguns gafanhotos no céu: alguns eram dilacerados pela pá do avião, alguns eram esmagados contra o vidro da cabine e muitos entravam pelas partes motorizadas do avião. Danos fatais!
Na borrifada de volta, o aviãozinho começou a dar problemas no motor, que em poucos segundos começou a parar. O avião estatelou-se bem em cima da casa de Leonel, que por sinal havia pulado minutos antes com o pára-quedas do avião. A explosão foi tão grande que da casa não restou nada e todos os animais domésticos foram instantaneamente carbonizados.
A alguns metros do chão, Leonel via toda a destruição: gafanhotos destruindo a plantação e a casa em chamas. Sua sorte não mudou quando o pára-quedas o guiou para as chamas da casa. Ele morreu antes de chegar ao chão.
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