A INEFICIÊNCIA DA SAÚDE PÚBLICA E OS ERROS MÉDICOS
Fernando Zocca
Compete aos poderes públicos assegurar aos cidadãos uma certa garantia da prestação de serviços na área da saúde pública. Hospitais e prontos-socorros devem servir à população nos casos a que se destinam.
Essa questão em Piracicaba, é bastante crítica. Não se obtém dos responsáveis pela saúde, a prestação dos serviços esperados. Sabe-se que a voracidade do sistema administrativo, revestida na forma de cobrança de impostos é imensa. Mas nem sempre o dinheiro recebido da população reverte em benefício dela.
Quando à essa ineficiência da prestação de serviços somam-se os erros médicos, pode então o cidadão comum dizer que está abandonado à própria sorte. De nada lhe adiantam as garantias constitucionais e muito menos o pagamento dos impostos que lhe impõe o poder público.
Quando a política provinciana, atrelando o conhecimento do pessoal especializado, impede o amplo exercício das garantias constitucionais, sabe o zé-povinho que a teoria, na prática é outra.
Na revista Istoé 1347 de 26/7/95, a reportagem ATÉ OS DEUSES ERRAM, trouxe um pouco da verdadeira realidade existente entre certos profissionais da medicina e os pacientes. Sabe-se que uma de cada dez famílias viveu um caso de erro médico.
O Conselho Federal de Medicina entre dezembro de 1989 a maio de 1985 aplicou aos médicos envolvidos em denúncias de erro as seguintes penas: Advertências confidenciais 40; Censura confidencial 90; Censura pública 133; Suspensão por 30 dias 33; cassação 15; Absolvição 78 e arquivamento 110.
Dentre os casos de pessoas ilustres vítimas dos erros médicos está Joana Fomm. Ela torceu o pé direito e procurou um ortopedista; foi atendida pela doutora Célia Rodrigues que lhe aplicou gesso. O pé ficou preto e apresentava pequenas feridas. A vítima parou de trabalhar para cuidar das conseqüências do erro médico. Joana denunciou o fato ao CFM, mas o caso foi arquivado.
Se o cidadão Tancredo de Almeida Neves fosse apenas mais um paciente a dar entrada na noite de 14 de março de 1985 no Hospital de Base, em Brasília, dificilmente ele teria morrido 38 dias depois. Ele foi vitima de uma infecção generalizada e tal convicção é da própria classe médica. Na tentativa de extração de um tumor no intestino, houve a aplicação de um procedimento econômico demais.
Clara Nunes em 1983 morreu durante uma cirurgia simples para retirada de varizes. Ela teve uma parada cardíaca e ficou 28 dias em coma. O cirurgião Antônio Vieira de Mello e o anestesista Américo Salgueiro Autran Filho receberam várias acusações.
Se pessoas famosas também recebem os malefícios dos maus atendimentos, o que não dizer do pobre e miserável dependente dos serviços médicos públicos? E o pior não é o mau atendimento. O pior é a ocultação que fazem dos casos.
Sabe-se que os servidores municipais receberam 4% de reajuste nos salários na atual gestão. Sabe-se também que o prefeito faz obras em detrimento do salário do funcionalismo.
Seria temerário dizer que por causa do menosprezo da administração aos funcionários da saúde, alguns profissionais da área agiriam com negligência. Mas nada é impossível.
Muitos médicos se transformaram em garotos-propaganda de luxo dos laboratórios, muitos deles recebem da indústria farmacêutica, convites para jantares, almoços e viagens. Mas dizer que isso acontece também aqui, seria um pouco de exagero. Mas nada é impossível.
