Folia, direis?
Eu acordei num berreiro só. Mas ninguém me deu bola, ou tampouco me escutou.
Tava todo mundo na sala, de pé, pra dar todo espaço, em volta os tiradores de
Reis, cuja cantoria tudo abafava e ensurdecia.
Do baixo de meu pijaminha, que sobraçava todos os meus cinco anos e meio,
muni-me de coragem, dei quatro ou cinco passos a partir de minha cama e,
vencendo o escuro e o muro, fui, soluçando e galgando, por aquela floresta de
pernas até chegar à clareira onde corria solta a festança.
Fui saudado, celebrado, consolado com toda efusão, mas não achei graça não.
Achava aquilo uma invasão - ainda que ninguém me desse razão.
E aqueles cantadores, com seus guisos e chocalhos, chumbados na fé e na cachaça,
querendo que eu achasse graça quando, cantando na minha cara, diziam e
repetiam, que só pra eu ver, e crer, iriam dançar na ponta da vara.
Se os olhos estatalei, foi porque muito chorara, e não porque dança na ponta
da vara fosse coisa assim tão rara. E maior foi minha ojeriza quando todo
exibidos, deitaram ao piso - ainda de tijolinhos - as suas varas dandos os seus
pulinhos...para um e outro lado, e eu triste, a lamentar, sem compensar, meu sono
roubado. |