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cronicas-->RELATO DE UMA VIAGEM MARAVILHOSA DE GENTE ESPERTA -- 10/01/2002 - 11:57 (Giusto Io) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



RELATO DE UMA VIAGEM MARAVILHOSA DE GENTE ESPERTA

Giusto Io


Resolvi fazer uma viagem e sair livre por esse Brasil numas férias que tive no fim do ano de 1991. Levei o Tibonga comigo. Ele me pediu se a tia dele, Dona Remédios, podia nos acompanhar também. Achei que não havia inconveniente.
Escolhemos, como transporte, o ónibus. E fomos por essas estradas fora, Brasil aberto. Do Paraná até ao Centro-Oeste e do Centro-Oeste até ao Piauí, Ceará, Maranhão, até ao Norte. Estivemos em São Luís, depois visitamos Belém e Manaus. Pegamos as gaiolas dos rios amazónicos, conhecemos os barrancos da região, as matas das seringueiras e dos castanheiros, o açaí e o palmito, os peixes gigantes, o pirarucu, o peixe-boi, o boto, e também o tambaqui e o tucunaré. Vimos fauna e flora específica, visitamos comunidades indígenas, filmamos casas palafitas, tartarugas desovando, praias fluviais lindíssimas. Descansamos nossos olhos em paisagens de sonho, na natureza intacta, e imensidões de terra indescritíveis. Provamos o tacacá. Quisemos saber como se cozinhava o pato no tucupi. Interessamo-nos por curiosidades gastronómicas, ditos de sabedoria popular, analfabetismo, vida social. De tudo um pouco. Demos importància à observação dos costumes e às formas de viver do povo Juntamos tudo, tudo e fizemos nossa memória para trazer para nossa cidade. Menos como turistas e mais como brasileiros, descemos até Porto Velho por Humaitá, por estradas esburacadas, enlameadas, vimos o povo, fomos povo e regressamos com um bom arquivo, com nossas malas recheadas de coisas, para podermos lembrar por muito tempo essa aventura. Foi quase uma viagem à Mário de Andrade que antes de escrever o Macunaíma recolheu muitos dados sobre o folclore brasileiro.Uma viagem de trinta dias. Não cansamos porque éramos aventureiros e tudo o que se abria a nossos olhos era objeto de observação, e de comentário. Vimos um mundo maravilhoso. Pegamos muito barro em nossos sapatos e tênis e sandálias. Pegamos muita chuva direta surpreendidos no mato ou na rua, sem guarda-chuva. Paramos para participar de festas, observamos formas de vestir, o olhar das pessoas. Vimos muita coisa. Tipos populares e urbanos. O Brasil A, o Brasil B, o Brasil C, o Brasil D e os demais Brasis. Mas tudo muito, muito interessante, ao vivo.
Melhor presente eu não podia ter dado a mim mesmo. E o Tibonga que é um sobrinho meu, estudante do primeiro ano de Engenharia Florestal, adorou também. Ele vive com a tia dele, Dona Remédios. A viagem que lhe ofereci era um prêmio pela aplicação que tem dado aos seus estudos nos últimos anos de sua vida acadêmica. Paguei as despesas todas, dele e da tia. Levamos máquina de filmar, máquina de fotografia e gravador para registrar coisas e dar para esse jovem a oportunidade de ver um pouco da sua terra verdadeira, tirando-o do marasmo de uma rotina que a todos afeta e embota no dia a dia de trabalho e de sofrimento. Queria dar-lhe a oportunidade de que observasse com os próprios olhos a realidade brasileira. Também queria que com suas observações de viagem ele me ajudasse a ampliar meus conhecimentos e me desse sugestões de análise. O Tibonga é um bom menino. Sabe ver e analisar. E Dona Remédios, imaginem, é aquele tipo de mulher que vê sete imagens numa coisa só e faz sete críticas a cada acontecimento. Tínhamos conosco, portanto, a riqueza da viagem, a riqueza dos observadores e dos críticos. Depois de ouvir os dois, e de discutir com eles alguns aspectos interessantes, o que muitas vezes acontecia, eu ficava na minha e guardava tudo em meu diário de bordo e em meu arquivo de fotos. Um dia isso me seria proveitoso, pensava eu, para falar com meus amigos lá na cidade natal. Tinha uma idéia de dar uma conferência na chegada e mostrar todo nosso arquivo e o relato de nossas emoções à população da cidade. Esperava que ao comparecerem à palestra, os escritores, os jornalistas, os poetas, os cronistas, os autores de ficção e a própria juventude da terra, iriam reagir e querer fazer alguma coisa importante.Foi isso que fizemos, exatamente. Reunimos os intelectuais da cidade e e toda a gente interessada e fizemos um relato de nossa viagem. Esta palestra deu-nos a convicção de que o que nossos olhos viram e nossas càmeras registraram, passaram a produzir outros olhos, outras imagens, outras vontades e outras fantasias. Foi interessantíssimo. Tibonga foi o mais animado. E eu pude perceber como se pode prover um ciclo dinàmico da cultura numa região. Os estudantes universitários da cidade criaram uma consciência de interesse e se organizaram em associações por área e dentro dos centros acadêmicos. Tibonga era já um líder cultural. Falava do Brasil que ninguém conhecia ali. O Brasil da paisagem, da gente boa, da gente em regime de miséria, da gente trabalhadora, da gente festiva e da gente inteligente. O caso ali era conhecer, entender. Depois partir para a redenção do povo. Mais cultura, mais consciência, mais dignidade. E depois organizar essa gente, dar-lhes comida, condições de vida decente. Um projeto acessível que os políticos ainda não acertaram globalmente.
Dona Remédios, por sua vez, organizou seu chá das cinco. Convidou as amigas. O chá estava melhorado, com biscoitos especiais, torradas e canapés. Ela havia trazido uns chás especiais quando passou por S.Luís. E dizia. Tome, que é de S. Luís. Estive lá. A mulherada olhava para ela com espanto. Parecia uma mulher diferente. Ressuscitada. Com outra vida. Ela se entusiasmava. Falava e falava. Tinha discurso. Tinha mensagem. Talvez não fosse modelo de nada. Mas era mulher viajada. Sabia coisas. Soube ver e agora relatava. Vamos, amigas, vamos mudar isto tudo.. Vamos deixar de ser escravas da rotina e da basbaquice. Por que não? dizia. E servia mais anapés. E passava slides e filmes. Relatava. Comentava. O Brasil estava ali. E dentro do Brasil, brasileiras diferentes querendo entender e partir para a dinàmica de uma outra vida que era acessível.
Tibonga fora convidado pela tia. Gostava de relatar as maravilhas dessa viagem. E com seu entusiasmo ajudou a tia a fazer a Associação das mulheres espertas.Me emocionei com os quadros que vi. E a partir daí, meu entusiasmo por um Brasil melhor estava nesta Associação das Mulheres Espertas. Com Tibonga comecei a trabalhar para organizar na cidade e estender pelo Brasil, também, a Associação dos Homens Espertos. Já viram? Homens vivos e espertos trabalhando por um Brasil vivo e esperto???

Giusto Io
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