Estava no meio de uma praça,
andando normalmente,
como se anda quando se está pensando em nada,
quando me vi cercado, de repente,
por seres estranhíssimos.
Um frio percorreu a minha espinha
e senti ímpeto de correr.
Mas travaram-se as minhas pernas
e não rompiam as palavras, a minha boca.
Vontade louca de não ser, não estar,
não fumar mais,
não ouvir esmoleres queixando-se da vida, à minha volta,
não queixar-me da minha, sem razão.
Mas tudo em vão...
As palavras chegavam ao meu ouvido desconexas,
vinham de bocas diferentes.
Os odores também eram variados
e não conseguia separá-los para entendê-los.
Os seres, mal conseguia vê-los, tantos e tão variados eram.
Experiência da vida moderna,
todos ali, diferentes e absolutamente iguais.
Todos normais e completamente nus.
Todos despidos de caráter, de vontade própria,
todos amarrados, uns aos outros.
E me vi ali, sentindo-me único e
parte daquilo tudo.
E ali mesmo, imóvel e mudo,
percebi a única coisa que me fazia diferente
de toda aquela massa amorfa, mal cheirosa e barulhenta:
VOCÊ.
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