Uma das contribuições do governo Lula aos usos e costumes nacionais é a popularização da palavra "republicano", no sentido que o Estado deve agir, está certo, de maneira impessoal, "duela a quien duela".
Aqui o grande historiador José Murilo de Carvalho brinda aos leitores da coluna com as
raízes da expressão:
"O sentido clássico do termo república foi definido modernamente por Montesquieu no Espírito das Leis . Buscando inspiração na etimologia da palavra (coisa pública) e na experiência romana, ele caracterizou a
república como um regime em que predomina o interesse público, a virtude cívica, e não o interesse privado, a "res privata".
República é o bom governo. Outra dimensão do termo, ligada a primeira, é a igualdade dos
cidadãos perante a lei. Dentro deste espírito, a Revolução Francesa aboliu todos os títulos de nobreza e passou a usar só o tratamento de cidadão (aux armes,citoyens!).
Definindo o termo negativamente, república ou republicano é o oposto do que ainda não somos, após quase 120 anos de vigência do regime: privatistas, nepotistas, familistas, patrimonialistas, clientelistas, corporativistas, estatistas, hierarquizados, doidos por um título de doutor. Duas frases definem nossa incompatibilidade com a virtude
cívica e a igualdade: "farinha pouca, meu pirão primeiro" e "você sabe com quem está falando". Frei Vicente do Salvador escreveu, no século XVII:
"Nenhum homem nessa terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular". Deve ter sido maldição do frade.
Ancelmo Gois - O Globo - 10/06/2007
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