O Construtor de Muralhas
(Ã amiga Fugência diCarmina)
Demorei muito para construir meu castelo. Demorei, mas construí. Sinto-me protegido. Meu castelo tem paredões intransponíveis, nada o penetra.
Mas há um porém: ninguém o divide comigo, estou só.
Será que o construí tão assustadoramente?! Talvez o achem feio, medonho. Mas seu interior é tão lindo! Por que ninguém se arrisca a entrar no castelo?
Não tenho coragem de sair. Quando reuno forças para espiar me jogam pedras, não consigo me defender; inerme que sou. Então volto para dentro, tetricamente.
Um sorriso me chamou a atenção, que linda! Feérica visão.
O que foi? "Olha lá sua felicidade, você não queria saber se ela existe?". Meu coração me estimula. Mas, e as pedras?
Uma oportunidade me surge. Lá está ela. Apenas alguns passos nos separam. Oh deuses! Só ela pra dar vida a uma poesia. Só ela pra fazer uma flor caminhar. A contemplação não me basta, preciso tocá-la, sentir o perfume desta tão suave rosa, ter as letras desta poesia em meus lábios.
Vou tentar sair, me parece seguro.
_ Por favor - supliquei - atravesse os portões.
Ela demonstra dúvida. Parece assustada com a visão de minha enxovia.
_ Venha - implorei.
Suas palavras foram doces, mas seus olhos não mentem, ouvi-los dizer: "Jamais entraria aí".