Cena um. O homem acorda.
Olha para um teto que parece meio tonto
( deve ter bebido demais ).
O relógio cospe as horas: 16:07
Ao seu lado, a louca feiticeira ainda dorme,
Está se renovando da noite de luxúria e desejo.
Seu corpo é firme, seus cabelos tem cheiro doce.
Uma fêmea escolhida entre tantas outras perdidas na noite.
Subitamente, rasga-se o silêncio,
A guitarra de Jimy Ponder celebra o tributo a uma rosa.
O gosto acre da bebida adorna o céu da boca.
Garrafas nuas e pela metade ainda ardem no chão,
Ao lado dos cinzeiros cheios de restos de vaidades.
Sex, drugs and jazz. This is the style
For celebration of a rainy afternoon... ( Valeu, Marmota )
Sua cabeça estala quando ele tenta se levantar,
O quarto escuro ainda dorme.
Caminhando até a janela o homem vê
Um filme sem sentido passar em flashs na sua mente.
O quê aconteceu? A memória falha um pouco,
O sono de quem viu o sol nascer não revigora muito...
Cena dois. O homem pensa.
As pessoas lá embaixo continuam em seus rumos desconexos.
Para onde vão? O quê estarão falando?
Rostos sem face,
Que não dizem nada e não vão a lugar algum...
Os acordes continuam a eternizar o momento.
A chuva cai, fazendo um fundo exato para o calor da música.
Os olhos atravessam a penumbra em busca de beleza,
E ela está ainda dormindo no coração do homem...
Ele acende um cigarro, soltando lentamente a fumaça,
Seus últimos sonhos vão se desfazendo junto com a chama
Aprendeu a viver como um animal,
Apenas para satisfazer suas necessidades mais efêmeras.
A mulher se mexe na cama
Vira-se para o lado, a procura de calor.
Ao perceber-se sozinha, desperta.
Solta um sorriso de gata preguiçosa em direção ao seu alvo
Convidando-o com o olhar a juntar-se ao seu cio.
Sem dizer nenhuma palavra, ele percorre o caminho de volta,
Deixando a multidão solitária morrer na sua janela,
Esquecendo todo caos e desordem para trás dos seus ombros ( valeu, Jim... )
Pois a “vida normal” já foi deixada de lado há tempos.
No corpo da mulher são afogados os desejos,
A noite invade o dia com ares de rei,
Assiste, juntamente com o prazer, o toque úmido das almas,
Sedentas por promessas que não duram mais que horas.
Outro cigarro é aceso. Goles de whisky barato,
Engolidos por uma sede imensa.
A realidade nada mais é do que um belo sonho,
Vivido com intensidade pelos amantes satisfeitos.
A mulher vai embora. Já passa das oito.
O homem-mito volta para a janela.
As pessoas já se foram, a rua está deserta.
A lua contempla os olhos úmidos perdidos na noite.
Tudo é apenas um instante. A vida torna-se louca e absurda,
A situação está complicada, não há dinheiro
Para se comprar mais loucuras...
Cabelos negros dançam no asfalto lá embaixo,
A próxima vítima aguarda o ataque voraz do seu algoz...
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