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Poesias-->A estátua -- 26/05/2002 - 17:25 (DENIS RAFAEL ALBACH) |
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A dança dos ventos
Dos ventos do horizonte
Ao centro do deserto
Aquém de todos os montes
Além de tudo o que é perto
Trouxe do longe a areia
Que com seus pedregulhos
Pedacinhos de areia
Os ventos do horizonte
Apagaram sua imagem feia.
E assim se formou
Bela, toda bela
Muit mais bela
Do que mais belo
Do que todo castelo.
Em suas partes frágeis
De mármore fizeram sua pele
Pelos pêlos foi posto
Pela pele um tesouro
Cobriram-na, majestosa, a estátua
Com pedrinhas de ouro.
E os povos a adoraram
Em mil cantos de louvor
Gentes de toda gente bradaram
Gritos a seu favor.
E os povos a adoraram
Na melodia do oriente
De joelhos e de tantos joelhos
Que nem se vê o que há
Na sua frente.
Junto dela o silêncio
Vem logo a escuridão
E as gentes de toda parte
Que antes gritavam agitados
Ouvem gemidos de adoração.
Das crianças, as mães loucas
Cortam em pedaços suas mãos
E bebem do seu sangue
Como louvor ao monumento
E vão e bebem e cada mãe canta
Ao pé daquela santa.
O resto de cada filho
Ao altar é entregue
Cortado em pedaços
E sem sangue
O corpo mórbido
Separados
Pés, pernas e braços
Em amor à estátua de areia
São queimados.
E assim são os tempos no deserto
Próximo à imagem que a rodeiam
Dos céus a ira em fogo cai
Como ira e fúria estrondosa.
O povo que antes cuidava de sua crença
Se viu apegado a uma doença
Que uma deusa bela de areia
Fugindo de uma figura feia
Ganhou louvor de criaturas
E lá de cima das alturas
Veio fogo e ira e desapego
A uma gente já sem sossego
Que bebe sangue inocente
De sua própria gente.
Firmes em sua crença
Prostrados aquela imagem
Suplicam desiludidas
Apegados a feridas.;
De trevas e pranto são seus dias
Clamam incessantes à estátua
Numa reza permanente
E murmuram em cada despedida
Em mil vozes dizem:
"Não há paz em nossa vida!" |
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