IRMÃO RUDYARD KIPLING
Por Wilson Vilar Sampaio
Joseph Rudyard Kipling nasceu em 30.12.1865, na cidade de Bombaim-Índia e faleceu no dia 18 de janeiro de 1936, em Londres, Inglaterra.
Foi jornalista, autor de dezenas de contos e novelas, além de poeta e romancista, tendo sido o 1º inglês a receber o prêmio Nobel de literatura em 1907.
Kipling era filho de um professor da Escola de Belas Artes, John Lockwood Kipling e Alice Macdonald Kipling, uma das 4 irmãs Macdonald, muito conhecidas e sempre lembradas por terem casado ou sido mães de pessoas proeminentes na política, nas finanças e nas artes na Inglaterra. Alice foi mãe de Kipling; a irmã Louise, mãe de Stanley Baldwin, financista e futuro Ministro; Georgina, casada com o conhecido pintor inglês Edward Burne-Jones, e Agnes, casada com Edward Poynter, presidente da Real Academia de Artes.
Kipling casou com a americana Caroline Starr Balestian(Carrie), nascida em 1862 e falecida em 1939, e com ela teve três filhos: Josephine, falecida em 1899, John Kipling, que morreu em 1915 lutando pela Inglaterra na 1ª guerra mundial , e Elsie Bambridge, que faleceu em 1976 e organizou os milhares de papéis e documentos deixados por Kipling.
Era maçom atuante, tendo sido iniciado na Loja " Hope and Perseverance nº 782" , em Lahore, Punjab- Índia e, ao transferir-se para Londres, filiou-se à " Mother Lodge nº 3861, nela trabalhando como obreiro. Aliás, fez um belo poema para a sua 1ª Loja Maçônica, a Hope and Perseverance.
Entre dezenas de obras que deixou, destacamos:
Bee, bee, Ovelha Negra - História do período em que esteve em um internato na Inglaterra.
The Jungle Book(1894)- O livro da Selva, que veio a ser talvez o seu mais famoso livro, conta a história do menino lobo Mogli e foi transformado em filme pelos estúdios Walt Disney. 1 ano depois, em 1895, Kipling escreveu a continuação do Livro da Selva. No Brasil, o livro foi traduzido em 1942 pelo escritor Monteiro Lobato.
Kim( 1901)- Livro defendendo a colonização inglesa na Índia enquanto conta a história de Kimbal O`hara, órfão filho de um maçom inglês que vivia na Índia.
Just so Stories(1902)- Uma coletânea de histórias sobre animais
Meus Adorados Filhos- Reunindo cerca de 200 cartas que escreveu entre 1906 e 1915 aos filhos John e Elsie.
The Irish Guards in the Great War- Uma história sobre o regimento no qual serviu durante a 1ª guerra mundial, o seu filho que faleceu no conflito.
Cartas de Viagem (1920) - Narrativa dos lugares que visitou, notadamente África da Sul, Estados Unidos e Austrália, além - é claro - da Índia.
Something of Myself- Algo sobre mim- livro biográfico que foi publicado postumamente em 1937.
The Man Who Would be King ( O Homem que queria ser Rei)- Livro no qual utiliza diversos símbolos maçônicos e fala sobre dois militares ingleses que são Maçons e buscam lugares distantes para fazerem fortuna. Essa história foi transformada em filme de muito sucesso, estrelado por Sean Connery e Michael Caine, sob direção de John Huston
Capitão Coragem, Muitas Invenções, O Handicap da Vida e A luz que Falhou, quatro entre várias de suas novelas.
Os Sete Mares - livro de versos.
Stalky e Companhia - Inspirado quando esteve em um rígido e austero Centro Educativo para filhos de oficiais e funcionários ingleses.
Três Soldados e Contos da Colina - Obras que lhe trouxeram notoriedade.
Canções de Caserna - Obra que o tornou muito popular na Inglaterra.
Apesar de ter sido ridicularizado pelos intelectuais da época, que diziam ser ele um " mero contador de histórias " e um " autor de poemas que rimam" , chegando a ser demitido de um jornal sob a alegação " que não sabia escrever em inglês " , Kipling foi o 1º inglês a ganhar o prêmio Nobel de literatura e com certeza foi o maior contista da Inglaterra.
Como poeta, Kipling teve a inspiração de compor um dos mais lindos poemas da língua inglesa, que até hoje permanece atual na mensagem que quer transmitir e sempre será para quem o lê, uma verdadeira lição haurida dos princípios comportamentais e éticos defendidos secularmente pela maçonaria, acerca de como agir diante das várias situações que a vida nos apresenta pela frente. Eis o poema:
Se...
Se és capaz de manter a tua calma quando
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares
e não parecer bom demais nem pretensioso.
Se és capaz de pensar sem que só a isso te atires,
de sonhar sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a Desgraça e o Triunfo conseguires
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste.
E às coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo,
resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!
Se és capaz de entre a plebe não te corromperes,
e, entre reis, não perder a dignidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a terra com tudo que existe no mundo,
e, o que ainda é muito mais, és um homem, meu filho!
Outro ensinamento da Ordem maçônica foi utilizado pelo Ir:. Kipling, para compor uma pequena história, um conto quase mágico, no que diz respeito à profundidade filosófica de um princípio há muito propagado pela maçonaria como sendo um dos objetivos a ser alcançado pelos maçons: A humildade que vem com a prática constante do domínio das paixões e submissão da vontade:
Quando era Rei e Maçom - Mestre que já tinha feito suas provas - escolhi terreno conveniente para erguer um Palácio digno de um Rei.
Tendo disposto as minhas estacas sobre o chão desentulhado, apressei-me em cavar até o nível desejado. Apareceram então, debaixo do entulho, as ruínas de um Palácio construído há muito tempo por um Rei.
Faltava arte à construção e sutilezas ao plano. Desajeitadamente, cavalgando ao acaso, alinhavam-se grosseiros blocos, testemunhas de uma arquitetura inábil; porém sobre cada pedra estava gravado: "Depois de mim um Construtor virá. Dizei-lhe que também eu soube".
Do fundo de minhas trincheiras, rapidamente, elevaram-se as minhas fundações judiciosas. Apropriando-me dos materiais do meu antecessor, submeti-os a um sábio talhe, serrando os mármores, polindo-os, rejeitando ou retendo, segundo o meu gosto, os dons do humilde e morto.
Abstive-me, porém, de desprezar mesmo aquilo que não foi utilizado. O coração daquele construtor falava ao meu, linguagem de suas fundações arrasadas.
Como se estivesse erguido para discorrer, a forma de seu sonho para mim tornou-se clara a obra que tinha projetado, evocando-o diante de mim.
Quando era Rei Maçom - em pleno meio-dia de minha soberba, uma Mensagem chegou-me da escuridão - murmúrio afastado, dizendo: "O fim é proibido". Compreendi. "Teu objetivo está atingido. O teu propósito era marcar, como o do outro, o lugar em que um Rei há de querer construir".
Chamando os homens do meu canteiro de obras, das minhas pedreiras e dos meus transportes, abandonei todo empreendimento que entreguei à fé dos anos pérfidos.
Porém, talhado na madeira e gravado na pedra, transmiti: "Depois de mim, um Construtor virá. Dizei-lhe que também eu soube."
Kipling está enterrado na Abadia de Westminster, na " esquina dos Poetas " e no dia 18 de janeiro completou 70 anos de sua passagem para à luz eterna.
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