Dizem que durante a Revolução Constitucionalista de 1932 ocorreram episódios marcantes por sua singularidade no campo de batalha. Dois exemplos típicos são, do lado legalista, os aviões “vermelhinhos”, semeando o terror nas trincheiras paulistas, e do lado dos revolucionários, as famosas matracas, instrumentos de madeira que simulavam o ruído de metralhadoras, pondo as forças de Getúlio em pavorosa. Quem lê sobre o assunto com “espírito desarmado” não tem dificuldade para descobrir casos pitorescos, em que pese a gravidade que revestiu-se a revolução. Eis alguns exemplos:
Tendo uma patrulha legalista composta por mineiros sido presa por combatentes paulistas, um sargento aprisionado desabafa desconsolado: “É, eu tava dizeno. Esse negóço de brigá in casa istranha num dá certo. Tava me parpitano...”
Tendo que informar sobre à situação da tropa mineira na região, falou: “O capitão diz que nóis tem de chegá in Casa Branca de quarqué jeito. Mas tô veno que nóis num chega nem na metade do camin... Paulista é um causo sério pra brigá. Cada sordado fais um istrago que é uma barbaridade...”
O lado legalista também contava suas vantagens. Segue um diálogo de nordestinos em pleno combate:
—Raimundo! É o diabo qui tá fumano!
—Oh, gente da pexte; paulixta atira qui nem dexa a gente drumí.
—Será qui eles vem assaltar a gente?
—Tu tá é bexta! Tu já viu paulixta fazê assalto? E o medo da faca?
—Tá bon, tá bon... E se eles vié?
—Bem capais! Essa gente só sai do buraco a bala. Ô gente ruinzinha pra se defendê. Gruda na terra qui nem carrapato. E tome bala, tome bala. E eles sai? Eles sai, mais custa!
A contribuição do nordestino à revolução foi marcante para ambos os lados: 400 homens de um batalhalhão de nordestinos paulistas (porque todos que residiam em São Paulo eram obrigados a ser paulistas) se renderam às forças do governo. Amáveis e brincalhões que eram, festejaram a chegada de um batalhão inimigo composto por soldados pernambucanos que chegara como reforço. Juntando-se aos “conterrâneos”, lá se foram os felizes nordestinos a dar tiros, agora em seus ex-aliados paulistas. E ficaram na História como os vira-casacas.
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Consultar Glauco Carneiro em “História das Revoluções Brasileiras”- Record,1989,Segunda Edição.