A interpretação dos escritos ou das palavras sagradas dos Mensageiros de Deus criou o cisma e sempre foi um desastre para a unidade dos crentes. Aconteceu em quase todas as religiões, e com o Profeta Muhammad não foi diferente. Tudo começou após a Sua morte. Parte dos crentes, partidários de ‘Ali Ibn Abu Talib, ou xiitas, defendiam ser ele o sucessor natural do Profeta. Ali, além de ter se casado com Fátima, a filha mais nova do Profeta, permaneceu próximo a Muhammad por cerca de trinta anos. Além de genro, era também primo de Muhammad, portanto da mesma linhagem familiar. As referencias carinhosas que o Profeta fazia à sabedoria do seu genro, deixava subtendido para os seus companheiros que Ali seria o Seu sucessor. Humildade, austeridade, piedade e o profundo conhecimento do Alcorão Sagrado, e toda a sua sagacidade, deram a Ali grande distinção entre os seus conterrâneos e, portanto, maior razão para que os seus companheiros endossarem as subjacências do Profeta.
A ala Xiita, uma minoria no mundo islâmico, teve doze “Imámes”, (guia espiritual) e Ali foi o primeiro deles. Ele foi assassinado, e daí pra frente à sucessão dos Imámes passou a ser hereditária. Os seus restos mortais estão sepultados em uma linda mesquita, que leva o seu nome, na cidade santa de Najaf, local de peregrinação.
A outra ala dos crentes chamada de “Sunitas” é originada do nome “suna”, ou seja, das palavras e ações do Profeta Maomé. Ela não apoiou a criação do “Imanato” xiita e sim do “Califado”; o governante máximo, com poderes absoluto, temporais e espirituais. Os três primeiros Califas, Abu Bakr, Umar e Uthman fizeram história, mas o mais famoso deles foi o Califa de Bagdá, muito lembrado no Ocidente, nos antigos filmes em que ele figurava como herói e grande espadachim.
A recente destruição de parte da Mesquita Sagrada de Samarra (Iraque) pelos sunitas – um dos locais mais sagrados dos xiitas, além de Najaf e Karbelá – foi revidada pelos seus desafetos e esta beligerância absurda poderá desencadear uma guerra civil, colocando mais combustão na atual situação política do Iraque.
Este ódio milenar, de fundo político-religioso, tem ceifado milhares de vidas nas lutas sangrentas entre povos irmãos. Xiitas e Sunitas crêem no mesmo Deus, no mesmo Profeta e no mesmo Alcorão. Um paradoxo difícil de ser assimilado. A religião tem por objetivo unir os povos, e isto está muito claro na etimologia da sua própria palavra. Derivada do verbo “religare”, isto é, religar, unir, este é o propósito da religião. Como disse um sábio persa, “se a religião for motivo de guerras e sofrimento, a sua inexistência seria um ato meritorioso”.
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