Por uma outra e distinta via, autêntica,
Gloso Frederico de Brito,
O Poeta-Autor de "Gaivota do Tejo" = Prostituta (*).
"Se deixaste de ser minha,
Não deixei de ser quem era;
Por morrer uma (A)ndorinha
Não acaba a Primavera!"
De tão bonito que era
O meu sonho sem razão
Já não tinha dimensão
Nem real atmosfera
Onde planasse à espera
De acesso à gavinha
Para pousar à noitinha
E enfim realizar-se...
Porém não vai consumar-se
Se deixaste de ser minha.
Meu sonho agora definha
Tal e qual como um corpo
Que em derradeiro sopro
Parece que adivinha
Que ao perder a luz que tinha
Já nem a própria quimera
Lhe ilumina a brava hera
Como eu agora ao partir
Para um novo porvir
Não deixei de ser quem era.
No meio da selva fera
Da velha civilização
A decrépita geração
Envelhece e desespera
A derreter como cera
Que ao pé da vela se aninha
Entre a palavra escarninha
Dos símios intelectuais
Que se comprazem legais
Por morrer uma Andorinha.
Morre o sonho... Oh raínha,
Se és tu que vais tomá-lo
Por fantasma, vou matá-lo
Para que seja só minha
A Ilusão tão daninha
Aos párias que nesta esfera
Rodopiam na galera
Em gaudiante festejo...
Mas no mundo que desejo
Não acaba a Primavera!
(*) - "Gaivota do Tejo", que é de facto um belíssimo poema que Carlos do Carmo elevou e enlevou pleno de portugalidade, subjectiva com beleza ímpar uma prostituta dos becos e vielas à beira-Tejo. Os versos são uma delícia auditiva.