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cronicas-->A MIRABOLANTE AVENTURA DE RAFAEL, O COVARDE - GRAN FINALE -- 14/01/2002 - 10:59 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Efim! Hoje é o último capítulo da nossa pequena aventura. Depois de alguns atrasos, devido à dificuldade de reunir um elenco tão notável, a aventura de Rafael, o não tão covarde, chega ao fim. Se você não leu os capítulos anteriores, pode encontra-los no www.usinadeletras.com.br , é só digitar "cambraia" na busca por autor. Até semana que vem, se Alá assim o permitir.

A MIRABOLANTE AVENTURA DE RAFAEL, O COVARDE - GRAN FINALE

- Quem é você? - pergunta o gordo diante de um Rafael acuado, mais acovardado do que o normal.
- Sou amante da tua mulher.
Rafael não sabe como essas palavras lhe saem da boca. Descobre ali que não tem vocação nenhuma para covarde: faltam-lhe pernas ligeiras e lábia de escroque, e um covarde sem esses atributos não passa de otário.
Amante da tua mulher.
O gordo fica sem reação por alguns momentos. De repente, abre um sorriso:
- Amante da Pepita? Um pirralho como você amante da Pepita? Não pode ser. Não é possível.
Rafael fala a verdade:
- Peralá, sou um amante diferente. Nunca toquei nela! Aliás, nem sabia que o nome dela era...
- Perla Rúbia, que respeito é bom e todo mundo gosta. Pepita só eu chamo. Quero respeito com a minha mulher.
- Seja lá como for, garanto que nunca toquei nela. Eu a possuí uma única vez, e só com os olhos. Só com os olhos!
O gordo não aceita a desculpa:
- Isso pouco importa. Pensar em pecar já é pecar. Olhou pra minha mulher, comprou confusão. São quatro mil reais.
- Quatro mil reais o quê? - pergunta Rafael, não entendendo mais nada.
- Quatro mil reais, o preço da Pepita. Não foi você que gostou dela? Que até a possuiu com os olhos e tal e coisa? Pois então. Ficou, vai ter que levar. Não sou homem de mulher usada, não. São quatro contos. E em dinheiro vivo, que não aceito cheque.
- Eu devo estar sonhando. Que história é essa de colocar preço em mulher?
- Olha aqui, pirralho, toda mulher tem um preço. Pepita é mulher. Pepita tem um preço. Se não pagar, morre aqui mesmo - disse o gordo, alisando calmamente o cano do 38 que tirou da jaqueta.
Perla Rúbia continua imóvel no banco dianteiro do Maverick. No rosto, os olhos fechados, a baba parada que já não escorre.
Rafael procura ganhar tempo. Entra na do gordo:
- Tudo bem, não vou discutir se toda mulher tem um preço ou não. Mas ao que parece Perla está morta. Veja só, ela nem se mexe! Como é que fica o negócio, então?
O Gordo franze as sobrancelhas diante da audaciosa desconfiança daquele moleque. Afinal, "aquele fedelho" estava desconfiado da ocorrência de um assassinato, o que, para o Gordo, não é nada interessante, uma vez que ainda está sob liberdade condicional. Por isso, num movimento brusco, vira-se para trás e com o cano do três-oitão cutuca gentilmente a barriga nua de Pepita. Rafael, que está tenso, aproveitou o momento para reparar que a barriga de Pepita é bem durinha.
- Que morta o quê! Ela tá é num porre danado!
Rafael olha para Pepita, que agora volta a babar. Começa a se sentir meio zonzo no meio daquela história absurda - assassinato, armas, venda de mulheres, sua própria vida em risco. Já perdera a noção da realidade, já não raciocinava como um moleque de 17 anos. O Gordo aponta a arma para ele e ri, balançando a enorme barriga oleosa com seus pêlos longos e esparsos. Rafael olha de novo para a barriga de Pepita.
- Eu compro então! - diz, num impulso incontrolável.
- Olha lá moleque... cadê o dinheiro?
Rafael e o Gordo descem do carro para negociar. Entram na casa, que está inesperadamente limpa e arrumada. O índio está sentado no chão, na frente da televisão, com o controle remoto numa mão e um charuto na outra. Nem olha para os dois. Assiste "Os Simpsons". O episódio é "O Homem Radioativo".
- Senta aqui - diz o Gordo, apontando para uma mesa de carteado disposta no canto da sala - O que você tem para mim?
-----------///////-----------
O negócio rolou fácil. O obeso corinthiano era um "roleiro" viciado, aceitava qualquer tipo de coisa como dinheiro. Enquanto conversavam, preparou dois copos enormes de campari, com bastante gelo. Rafael, em sua inocência, nem achou estranho um homem daquele tipo trazer um copo de groselha para tomarem numa mesa de carteado enquanto negociam a venda de uma mulher. Deu o primeiro gole e teve que cuspir de volta ao copo. Aquilo tinha gosto de cinzeiro. Sujo.
Naquela tarde ficou decidido. Rafael, o outrora covarde adolescente, adquiriu a formosa morena da propaganda de cerveja, agora Pepita, em troca de uma moto Honda Biz (que ganhara há menos de um mês), um avião "Coyote" de rádio controle, um videogame Playstation com quase cem CDs piratas, uma raquete de tênis Wilson, um relógio Casio digital Data-Bank, um capacete azul, R$13,40 (que estavam no seu bolso) e uma coleção de times de futebol de botão. Depois do aperto de mão que selou a negociação, Rafael perguntou ao Gordo:
- Olha, eu só queria saber uma coisa: por que a Pep.. digo, a Perla gritou daquele jeito ontem?
- Ontem?... Ah, você ouviu... o grito? He he.. não foi ela, não... humm.. bem, aquele grito foi meu.... uma barata, sabe? - o Gordo estava visivelmente desconcertado.
-----------///////-----------
Rafael fugiu naquela mesma tarde com Pepita. Casaram-se um mês depois, no Rio de Janeiro, onde hoje são os felizes proprietários do badalado bar "Pepita de Ouro", que serve um incomparável bolinho de bacalhau acompanhado de um chope perfeito. Ah, e você pode ainda jogar sinuca olhando para o mar, filosofando sobre a incrível imponderabilidade das coisas da vida e a inexorabilidade do tempo.

Nana Moiato, Dick, Velho* e Lúcio
*in memoriam
Thanks to: Marinho, Fernando, Bruno, Marcelo, Maysa, André Tito e todo mundo que leu.
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