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Contos-->CASTRO ALVES -- 04/04/2002 - 12:51 (Clarissa Feder) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Stamos em pleno mar"... assim começava a poesia que Antônio escrevia ... Era o ano de 1862 e o garoto pálido e cheio de tristeza retratava o que via ao seu redor. Era ainda uma criança. Tinha quinze anos, mas maturidade suficiente para saber lutar por seus ideais, com democracia, justiça e liberdade...

Seu pai o observava... via o olhar enfeitiçado do filho pela primeira visão que tinha do oceano... o menino, apenas escrevia. Era uma poesia para a mãe, tinha certeza, já que esta ficara na Bahia. Ele pode ler um pequeno trecho. Dizia mais ou menos assim: "Ah, mãe...quem dera ter eu o dom de escrever um carta perfeita, onde pudesse expressar com palavras difíceis, versos, rimas, licenças poéticas, metáforas... tudo aquilo que eu sinto, que eu trago no peito, na alma, no coração...”

Nascera poeta. Era jovem, impulsivo e já sabia exaltar, em palavras ardentes, o valor e a grandeza da liberdade do homem. Tinha aparência elegante e distinta, aliada à grande sensibilidade. Sofria com a situação de inferioridade em que viviam os escravos.

Era noite...só era possível se ver luzes tênues espalhadas pelo céu, bem distantes... eram estrelas...também chovia....chuva leve de primavera.... marcava o último encontro com o pai, pessoa que tanto amava....uma lágrima desceu-lhe o rosto... olhos fixos para um velho livro surrado sobre a mesa. Ganhara-o da mãe, em branco mesmo, para que pudesse assim escrever...

Antônio tinha sonhos. Seu pai sabia que não poderia dizer a uma criança que seus sonhos eram bobagens...sabia que o filho era forte...sabia que era capaz de suportar qualquer coisa. Por isso estava levando-o para o Recife... queria que pudesse terminar de cursar uma boa escola para matriculá-lo depois na Faculdade de Direito. Sofria... era tão triste separar-se do tão amado companheiro... sabia que era necessário. Assim que o navio chegasse ao destino e o filho desembarcasse, ele tomaria um navio de volta à Bahia.

Clareava... já era possível ver uma ponte de pedra, não muito distante, de arcos delicados. Um pouco mais longe ainda, minúsculos pontos coloridos: eram casas à distância... Pronto ! Estavam quase chegando... e mais umas estrofe da poesia para mãe havia sido concluída. Esta dizia assim: "Porém que vejo aí...Que quadro de amarguras ! / Que canto funeral ! / Que tétricas figuras ! / Que cena infame e vil !... Meu Deus ! Meu Deus ! Que horror!..."

Chegaram... pode ainda escrever em seu livro, antes que o pai retornasse: "Senhor Deus dos desgraçados ! / Dizei-me vós, Senhor Deus ! / Se é loucura... se é verdade / tanto horror perante os céus..." Assinou (pela primeira vez, numa poesia, seu nome completo): Antônio Frederico de Castro Alves. Entregou-o ao pai, para que a mãe pudesse ler...

Reconstruiu a sua vida, lutou por seus ideais... Após algum tempo, feriu-se gravemente numa caçada, adoeceu. Embora com a saúde comprometida, ainda defendeu intensamente as idéias abolicionistas. Teve tuberculose.

Triste e abatido, tentou voltar para Salvador. Não conseguiu chegar a tempo de rever sua tão amada família. Morreu. Ao seu lado, um pedaço de papel escrito em letras garrafais: "E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito um mal terrível me devora a vida... É que até minha sombra é inexorável. Morrer! Morrer! Soluça-me implacável... Adeus, vida ! Adeus, glória ! Amor! Anelos !... Adeus !... Arrasta-me uma voz sombria, já me foge razão na noite fria !... E morro, ó Deus ! Na aurora da existência..."
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