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Cronicas-->Lugar de louco não é no hospital. -- 19/04/2000 - 15:30 (Narciso Busatto Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Vamos, Vó!
Eduardo, jovem de vinte e três anos, estudante de direito na universidade de Itapemira gritava pelo seu avó, o seu Alberto, um senhor de sessenta e dois anos, aposentado que tinha três filhos e sete netos.
Seu Alberto descia, desajeitado, pelas inúmeras escadas da casa.
- Vamos! A mamãe pediu que não atrasássemos para o médico e já estamos quase na hora.
- Mas isso é frescura dela, eu estou muito bem!
Seu Alberto não estava nada bem. Havia passado mal à noite inteira por causa de uma gripe e sobre nenhuma base poderia falar aquilo.
- Filho, eu nunca precisei ir, e não vai ser agora que vou precisar.
Saíram os dois rapidamente, aquela discussão tomara muito tempo. Apesar de nunca ter tido a necessidade de ir antes, agora era mais que necessário.
Ao chegar ficou impressionado com a altura e quantidade de andares do prédio (apesar de ter apenas cinco) e o tamanho do estacionamento que estava quase lotado.
Mal entraram no prédio e o vovó já enroscara-se na porta giratória. Entrou no elevador e calado escondia o frio na barriga.
O consultório estava vazio. A secretária pediu que entrassem após ter comunicado o médico. O velho quase morreu de taquicardia.
- Sentem-se, por favor! - disse o médico com uma imensa simplicidade.
- Estou bem em pé! - respondeu o vovó com uma cara rabugenta, a mesma que usou para entrar no prédio.
O médico começou a fazer inúmeras perguntas para o jovem que aceitou sentar.
Após as perguntas, o médico levantou-se e foi até o velhote que se acomodara-se bem na parede.
- Sente-se aqui! - disse o doutor apontando para o centro de uma cama posicionada quase no meio do consultório.
Pegou uma cadeira, puxou da mala um aparelho muito moderno para o velhote. Pediu que levanta-se a manga e pós o aparelho naquele fino braço.
- O quê é isso, doutor?
Ele permaneceu em silêncio. De repente ele começou a apertar uma pequena bombinha de ar e encher o aparelho naquele braço. Um frio tomou o velhote. Quanto mais enchia, mais ele ficava desesperado.
O doutor sorriu e disse:
- Pronto! Já tirei sua pressão!
O velhote, revoltado, tira o médico da cadeira com um enorme soco e murmurou:
- Ou você me devolve ou eu quebro a tua cara!
O jovem tentou acalmá-lo.
- Mas neto, já não basta o assalto da conta de uma consulta aqui e ainda quer me tirar essa tal de pressão.
O médico, calmamente, se levantou, tentando se recuperar e começou a explicar o que era pressão, o que era aquele aparelho, como funcionava e várias outras coisas.
- Ah! Mas, na próxima, vê se explica antes, senão...
- Tá! Chega! Vamos continuar! Deixa-me ver, vamos fazer mais alguns exames. Bem! Tire a roupa!
- O quê?
- Tire a roupa!
- Eu avisei.
Foi tão perfeito o cruzado de direita que quase acaba com a consulta.
O neto ajudou o médico a se levantar e o velho a se sentar. A consulta já estava ficando muito tensa.
- É para tirar a roupa para fazer outros exames!- disse o médico tentando se renovar.
O jovem ajudou o médico a se levantar e depois explicou ao velhote o que o médico ia fazer. O velho, ainda revoltado, tirou a roupa e pós uma bermuda que seu neto trouxe.
Analisou os olhos, a cabeça, os ouvidos, o nariz, a boca e o pescoço.
- Tá! Tá! Pode parar por aí!
- Você pegou uma gripe feia, hein? Vamos fazer um último exame para ver sua resistência pulmonar, você não tem colesterol ou outro problema que possa comprometê-lo.
Os três seguiram até o final do corredor e entraram numa sala onde tinha uma esteira. O doutor pós a tomada na parede e pediu que o vovó se colocasse no centro dela. Ele curioso até demais se assustou quando aquele começara a se mexer.
A cada cinco minutos o doutor anotava, às vezes aumentava a velocidade, mas não passava de uma simples caminhada. O neto dormia silenciosamente num sofá pois, além do cansaço, o sofá era bem aconchegante.
De repente, do alto falante, uma voz bem suave chamava o doutor para ver um paciente, era uma questão mais urgente. Acordou o jovem e passou todas as instruções sobre o aumento da velocidade, a marcação na planilha e saiu apressado pela porta.
O jovem fazia tudo perfeitamente. Aumentava a velocidade, anotava velocidade dos batimentos cardíacos, respiração e outros, mas a demora do doutor levou o jovem a dormir no sofá.
O velhote estava gostando da caminhada, mas queria correr pelo menos um pouquinho. Após o tempo demarcado olhou para o neto como se quisesse alguma coisa, mas percebeu que este estava dormindo.
- Neto, acorda! Tá na hora de aumentar a velocidade, de...
Mas o jovem nem se movia. O velhote olhou para aquele monte de botões no aparelho e disse:
- Então eu me viro.
Começou a apertar botão por botão, sem saber o que ia acontecer.
O doutor entrou na sala, o jovem dormia no sofá, mas o velhote estava correndo exageradamente.
- O que você esta fazendo?
- Pode deixar, doutor. Eu já sei mexer nessa geringonça. Isso sim que é um relaxamento corrido, mas dá pra aumentar, não dá?
Apertou mais um botão, a velocidade aumentou de vez, o que era bagunça virou confusão. O velhote não aguentou. Escorregou pela lona da esteira até o chão, gritando como uma criança. Enrolou-se nos fios de um aparelho que estava do lado, levantou-se, derrubou outros aparelhos que não estavam na história, pulou de volta no meio da esteira para voltar a brincadeira e começou a apertar novamente os botões.
- Acho que pifou!
- Saiam daqui!
A sala estava uma bagunça, o grito deixara os pacientes incomodados. Levou o velho e o jovem para o consultório inicial, pegou um bloco de onde tirou uma folha e começou a escrever.
- Aqui está a medicação e a conta da bagunça eu mando depois.
Eduardo tirou seu Alberto do consultório rapidamente e colocou-o no elevador.
- Que isso? Já acabou? Nem me diverti direito. Semana que vem tem mais? Por que você não me disse que esse negócio de consulta era super legal? E mais uma série de perguntas feitas pelo vovó tomou a descida do elevador, mas ele percebeu que o jovem não se divertiu nem um pouco.
- Posso ver a receita?
O jovem mostrou a receita para ele. O velho rodou o papel tentando lê-lo e disse:
- Acho que os meus socos foram muito forte, pelo jeito desparafusei ele. Olha como a letra tá mal sintonizada!
O jovem riu.
Foram até uma farmácia no próprio prédio e passou a medicação para o farmacêutico. Ele a pegou, leu rapidamente e entrou por uma porta. Quando voltou pós uma seringa descartável sobre a mesa. O velho viu aquilo e saiu correndo pela porta e abraçou um poste que situava-se próximo a pista.
- Essa consulta tá indo longe demais! - gritava o velhote como uma criança desesperada.
O jovem tentou acalmá-lo, mas ele não ia soltar. Então o jovem tomou uma firme decisão:
- Se não for por bem, vai por mal!
Mas o velho não soltou. Então o jovem pegou-o pelas duas pernas e começou a puxá-lo, mas ele não soltou.
Um carro aproximou-se
- O que se passa por aqui? - perguntou o motorista do carro.
- Ele não quer tomar uma pequena injeção.
motorista saiu do carro, pegou numa das pernas e ajudou o jovem a puxar.
- Dois não vale! Dois não vale! - gritava o velhote.
Pelo mal estacionar do motorista, aquela avenida tornou-se em sinónimo de congestionamento, os vizinhos se encontravam na rua por causa dos gritos do velho, as crianças incentivavam o velhinho para segurar mais um pouco, as apostas de que o velho não aguentaria por mais dez minutos aumentava até que veio, da farmácia, o farmacêutico com uma seringa na mão. Olhou para o velho esticado pelos dois e aplicou, com rapidez, a seringa sobre o calção do velhote.
O jovem e o motorista soltaram-no; ele, aliviado, saiu mancando com a mão sobre a região da aplicação e o farmacêutico saiu vaiado por não ter esperado mais dois minutos e meio.
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