----- As palavras de Hemingway, o seu retrato, onde posava de rosto emoldurado em barbado branco, os cheiros que se respiravam no fragor da liça, os corpos estirados e cobertos de sangue, o clamor das vozes aflitas, o pó, as ruínas do temporal humano vêm-me à mente, aos olhos, aos ouvidos, ao nariz e aos lábios, à pele.
----- Disto, que agora me perpassa pelo espírito, apenas li a poderosa escrita do meu dilecto Prémio Nobel, aquele que mais cativou a minha juventude ao correr da ascenção no tempo.
----- A mulher acabara de mandar abrir a cova ao seu 16º. amante. O cadáver de Gregório Fontes estava estendido no leito, pronto a ser metido na caixa fúnebre. O homenzinho, plenamente farto dos prazeres e das agruras da vida, finara-se breve, e ainda ninguém esperava, em 13 de Janeiro de 2002, com 101 anos.
----- Curiosamente, tinha sido a figura que inspirou Hemingway a escrever o "Velho e o Mar", o que lhe granjeara bons proveitos entre o desalento da reforma de pescador.
----- Nem a mais leve sensação de abatimento se revelava na cara da megera. Um sorriso fímbrio afinava-lhe os lábios como lânimas, face aos olhos curiosos que sondavam a atmosfera envolvente, à procura de indícios, de coisas que nunca se sabem aonde estão, mas estão.
----- Um dos presentes, inclinando-se sobre o ouvido dum vizinho lateral, segredou: - Como todos os outros, até este envenenou!
----- Ao colo duma jovem enlutada uma criança rompeu em choradeira intensa. Vindos na aragem exterior, a brincarem com a cortina duma janela semi-aberta, os sons dos sinos da aldeia entravam pesados e lentos na sala.
----- Por quem dobrariam?!
------------------ Torre da Guia ----------------- |