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Contos-->Assobiar e chupar cana -- 05/04/2002 - 19:09 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E Bill Gates vai rachar a empresa ao meio. O homem mais rico do mundo vai empobrecer. Wall Street entra em pânico. Vai cair o "share" da empresa.
O dinheiro vaza pelos bolsos. A luz quase foi cortada. Já comentam à boca pequena: - É a inadimplência chegando. Vai rolar ladeira abaixo. Não vai restar pedra sobre pedra.

A fortuna construiu uma imensa casa eletrônica. Até a descarga do lavabo é dada em intervalos semelhantes a um descanso de tela. Tudo relembra os jardins babilônicos. Mármores de Carrara imperam solenes até no piso da lavanderia.

Cuecas jogadas pela casa. Tudo indica a ruína total. A pasta de dente já foi tão espremida, que mais parece uma navalha. A escova assemelha-se a um porco-espinho.

As Ferraris na garagem mostram o estilo de vida do novo pobre. Dois jatos particulares, um helicóptero em forma de "W" e 150 televisões espalhadas pelos quartos e salas, além de um home-theater - o chamado telão. Uma coleção de mouses feitos de cristal baccarat e uma clínica ortopédica particular, para absorver os tropeços da vida.

Na geladeira, o pote de manteiga já foi tão raspado que grudou na prateleira. Um ponto de bolor indica o local que abrigou o último tomate. A luz, puxada clandestinamente da casa vizinha, pisca de vez em quando. Nada indica que ali vive um ser humano.

A quantidade de serviçais é tal, que precisou construir um flat", no terreno adjacente à casa, para abrigá-los. Todos passam por um exame médico semanal, um teste antivírus, feito à queima-roupa com uma picada na ponta do fura-bolo.

O par de sapatos, já furados, amparados por uma palmilha feita com uma embalagem de Big Mac, mostra a milhagem percorrida a cada dia. O pulmão cansado respira em soluços mal-empregados. A depressão inunda tudo, como um ralo entupido.

A mesa da copa é tão longa, que todos jantam munidos de binóculos. Há fogões no ponto central da távola, caso contrário a ceia chegaria fria à segunda metade.

Come cachorros-quentes há três meses. Os lábios amarelaram com a mostarda, como os dedos dos fumantes. Sabe que está sendo marcado pela vida, como um ícone. Mas já aceitou a sina caprichosa. Não mais reluta. Sabe que, mais dia, menos dia, poderá descansar em paz.

Acorda muito cedo. A agenda é tão grande que a recebe zipada. Não pode permanecer mais que sete minutos e 33 segundos em cada reunião. Caso contrário, os jornais logo anunciariam que está fraquejando e a pressão dos acionistas seria insuportável.

Às vezes sente que não suporta mais o fardo. Perambula pelos becos como um gato pardo. Já pensou em revirar latas de lixo em busca de algo melhor. Vomitou o que não comeu.

Bill é um homem tranqüilo, embora mais empobrecido. No alto do império que construiu, sente-se um novo Messias.

João nunca mais viu os filhos. Fugiram com a mãe agarrada no braço de um mecânico. Às vezes toma uma sopa numa igreja evangélica. Perdeu o emprego há seis meses. Foi substituído por uma versão do Windows XP e acha que computador é coisa do demo. Assobia "Smile" com um sotaque de Chaplin e chupa cana na banguela..."




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