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Artigos-->Planetário do Ibirapuera -- 15/04/2002 - 11:57 (Francisco Antonio Pereira da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA

Entrevista concedida por Francisco Pereira (Chico Lobo)

á Revista São Paulo VIP,

jornalista Renata Froes em 21.01.2002





Querida Renata.



Você me pede para falar de uma coisa que marcou muito em minha vida e que ninguem, mas ninguem mesmo me perguntou,. Por isso vou te responder com muita energia e vontade.



Por outro lado, faço questão mesmo que voce me emvie exemplar de sua matéria. e gostaria muito que essa fosse uma grande reportagem e que com ela você realmente consiga seus objetivos em absoluto.

Vamos responder por partes:



RF - Gostaria de saber sua opinião sobre o fechamento:



CL - Na minha opinião, o fechamento do Planetário Municipal do Ibirapuera representa uma grande perda para o desenvolvimento científico-astronômico em nosso Pais. Digo nosso país, porque o Planetário do Ibirapuera na época era o único que possuia a prática filosófica da difusão da informação científica ao público leigo.



Existem outros planetários no Brasil, mas quase todos são destinados a exibições artísticas e entretenimento. Os poucos que sobram para uso de informação científica se basearam no planetário do Ibirapuera. Por outro lado, o nosso planetário (o imóvel) é a maior casa desse tipo que comporta esse modelo de aparelho no Brasil. Os demais podem ser até mais modernos (os aparelhos), mas não tem a mesma magestosidade arquitetônica e consequentemente não abriga tantas pessoas (318) simultaneamente em uma única seção.



RF - tendo em vista a sua experiência no Planetário, qual a importância de um espaço como aquele para os estudantes e para o público?



CL - O Planetário do Ibirapuera foi historicamente (desde 1957) um ponto de convergência de amadores de astronomia, estudantes de ciclos convencionais e curiosos sobre o cosmo.



Suas seções eram apresentadas ao público com muita dramaticidade, mas ao mesmo tempo com muita veracidade de informação por expositores que mostravam a grandiosidade do cosmo, suas belezas, suas curiosidades, sua história, enfim tudo o que pudesse causar o despertar do interesse no cidadão espectador nas ciências do espaço, dando-lhes a real conciência da pequenez humana diante de uma obra evolutiva do espaço infinito, suas joias planetárias e intergaláticas.



O Planetário também possuia duas outras alas: Sendo um museu astronômico com equipamentos antigos (lunetas, telescópios, astrolábios...) e instrumentos de medição científica que poderiam ser manuseados por visitantes, bem com a escola que funcionava ao lado (ESCOLA MUNICIPAL DE ASTROFÍSICA) que ministrava cursos gratuitos sobre inúmeros temas cientificos-astronômicos desde astronomia para crianças, matemática para astronomia, até fundamentos da astrofísica quântica e Hipóteses cosmogônicas...



Esses cursos tinham duas finalidades:



A primeira é de cumprir o papel de auxílio pedagógico no ensino e na pesquisa astronômica para público leigo e estudantes.



A segunda, era de formar e reciclar o quadro de expositores e monitores do próprio Planetário.



Geralmente os mais apaixonados começavam com os cursos mais básicos e acabavam por integrar o grupo de funcionários professores e expositores da casa.



Havia também uma Associação de Amantes da Astrônomos (AAA) que se sediava naquela casa. Era uma entidade científica sem fins lucrativos, formada por pessoas com ou sem formação acadêmica, que se dedicavam viseralmente á pesquisa astronômica e geofísica. - Estes compunham um quadro voluntário a parte que orbitavam o planetário. Além de suas pesquisas e intercâmbios informativos com observatórios do mundo inteiro, também se prestavam a auxiliar os processos informativos e pedagógicos com o público em geral. Eram consultores públicos não remunerados sobre assuntos astronômicos na cidade de São Paulo. Seu trabalho foi diversas vezes homenageado, reconhecido e premiado por inúmeras universidades do mundo inteiro. Não saberia preciasar agora quais foram esses prêmios, mas existiram de fato. Devo lembrar ainda que foi a iniciativa dessa associação que provocou a prefeitura paulistana em instalar esse planetário na cidade, graças ao intenso trabalho do prof. Aristóteles Orsini e sua equipe na Associação de Amadores de Astronomia.



RF - o que você acha que o cidadão paulistano está perdendo com com o fechamento do Planetário?



CL - A população perdeu chances ímpares de sair da ignorância sobre assuntos cósmicos, astronômicos e científicos, conhecimentos que se confinam em escolas superiores e especializadas e com isso mergulha na ignorância mística imposta pela mídia com seus interesses mercantilistas (dogmas astrológicos, falsos mitos, zodiacalísticos, ufologias de publicações de origem duvidosas...). enfim... Perde com a qualidade de conteúdo do ensino científico na cidade, perde a cultura científica e o conhecimento.



RF - E sobre o período em que você trabalhou lá:



CL - Pois bem... Eu fui, e ainda sou, um desses apaixonados que entrou lá ainda menino com 11 anos para fazer um curso de ASTRONOMIA PARA INICIANTES em 1964 e acabei ficando por lá durante muitos anos. Frequentei todos os sábados e domingos religiosamente e ininterruptamente. Fiz todos os cursos disponíveis e acabei sendo convidado pelo diretor Prof. Orsini para fazer parte do quadro de monitores do planetário e auxiliar os serviços das sessões do planetário, isso quando eu tinha 16 anos de idade. Nesse mesmo período ofereci-me para compor voluntariamente o quadro dos sonoplastas da casa. Foi nessa ocasião que aprendi com os demais colegas a arte de sonorizar arte. Comigo trabalhavam: José Augusto Suyama, Walter Augusto Sevo, Irineu Gomes Varela (último diretor do planetário) José Luiz Riberi (filho do professor Acácio Riberi veterano da escola Municipal de Astrofísica ),... este professor de astronomia, acredite, era completamente cego. entre outros que no momento não recordo seus nomes, mas estão marcados na minha lembrança.



Trabalhei na sonoplastia durante 3 anos, de 1969 a 1972, mas nesse período também realizei algumas substituições na exposição das seções.



O aprendizado sobre as narrativas das seções, para mimfoi de fácil assimilação, pois mensalmente eu eu "obrigado" a ouvir mais de 24 vezes, por conta de trabalhar na mesa de som, colocando músicas certas (ao meu gosto) durante as seções. A arte operacional do aparelho projetor (planetário) foi só questão de tempo e auxílio de meus colegas. - Os expositores tinham obrigatóriamente de conhecer com profundidade os temas alí desenvolvidos durante a sessão, porém seguiam um roteiro básico que mudava a cada mes, mas podiam ilustrar e criar textos dentro do tema a seu bel prazer e criatividade - porquanto isso existiam verdadeiras competições sadias entre expositores em apresentar seu melhor trabalho, dando assim oportunidade á criatividade e ao dinamismo entre os expositores.



Naquela época não havia tanto desenvolvimento em comunicações com hoje, internet, celular computadores. Nesse sentido o Planetário também dispunha de uma equipe de radio-amadores, pois estes atraves de seus rádios comunicavam e trocavam suas pesquisas e resultados de descobertas com observatórios e universidades de todo mundo em tempo quase real. Foi lá que também adiquiri o gosto pelo rádio. Tínhamos uma sala no sub-solo da Escola com diversos transmissores e antenas que emitiam e recebiam ondas de rádio e tambem sinais radioastronômicos (radares de radio-astronomia), onde alem da comunicação, analizávamos rádio-emissões de galáxias distantes, que posteriormente foram bases de pesquisa até do Instituto Astronômico e Geofísico da USP.



A Carl Zeiss alemã, fabricante do aparelho, concede anualmente um prêmio ao melhor planetário do ano no mundo. Pois de 1961 a 1973 (por doze anos consecutivos) o Planetário do Ibirapuera galgou esse prêmio. Por aí dá pra se perceber a importância e a consistência de nosso trabalho naquela época. Depois disso, nunca mais.



RF - alguma parte em especial das apresentações lhe chamava a atenção?



CL - Os temas das seções mudavam a cada mes, mas sempre obedeciam uma regra básica: Começava com o por do sol, passando pelo anoitecer, a exposição do ceu sem poluentes e ilumimnações artificiais, o desenvolvimento do tema do mes e encerrava com o amanhecer.



É claro que sempre íamos encontrar o momento certo de causar emoção no espectador. Quase todos os colegas de equipe, inclusive eu, gostávamos de "comover" os espectadores em dois momentos distintos:

Primeiro, no início da seção com o "por do sol". Essa tarefa era de maior responsabilidade e criatividade do expositor, com dramaturgia própria para a ocasião, suas palavras angelicais e melancólicas, com o tom certo de luzes e cores no horizonte, mas também com o perfeito sincronismo e música que jogávamos nos ares da sala naquele momento. Isso fazia provocar no espectador um preparo introdutivo na sua fantástica viagem astronômica, tirando-o da condição de mero espectador para ser um cosmonauta dentro daquele cosmo artificial.



Segundo momento imperdível, era quando o expositor simulava abruptamente o apagar das luzes da cidade, quando o ceu caia em estrelas sobre os espectadores. Nesse momento todos nos da equipe procurávamos caprichar ao máximo com a música, sincronismo, texto e interpretação. Nesse momento sentia-se a responsabilidade de termos criado uma grande carga emocional nos espectadores e então, já sabíamos que o público já estava completamente preparado para fazer a grande "viagem-aula" pelo cosmo... Essa era a hora que de fato sentíamos também sermos alem de cientistas, um pouco de artista.



Havia um terceiro momento que nos lustrava a vaidade, quando no fim da apresentação, o amanhecer trazido pela música "Alvorada" de Carlos Gomes provocava o cxaloroso aplauso final (em pé) dos espectadores, como num final de um majestoso espetáculo teatral, onde todos além de se divertirem, também saiam um bocado diferente de quando entraram na sala... mais conhecedores, mais conciêntes, e muito espantados da realidade que não conheciam sobre a natureza do cosmo.



RF - não sei se você tinha algum contato com o público (se podia ver as pessoas de onde estava); mas como era a reação das pessoas nos momentos mais fortes das apresentações, quando a música aumentava e o céu mostrava as estrelas, por exemplo?



CL - Não. Quem faz a sonoplastia trabalha numa saleta a parte. Dispara as músicas selecionadas monitorando a voz do expositor atraves de uma pequena caixa acústica ou fone de ouvido.



Sempre que podíamos assistíamos, em nossas folgas, as seções dos colegas de equipe . Claro que ficávamos torcendo pelo sucesso e por uma ótima apresentação, afinal, o planetário era uma casa onde nós éramos "donos do universo" artificial, e sempre queríamos, embora as competições internas, que o público nos avaliasse como sendo a oitava maravilha do mundo. Observávamos tanto o resultado da abóboda (tela semi-esférica) como a reação do público a cada situação daquela "viagem". Os vislumbres emocionados do público eram comuns.



Nosso museu de astronomia era consistente. Tinha acervo de desenas de artefatos históricos, geológicos, instrumentos, e até um METEORITO (Sta. Luzia) e era frequentado por pessoas que vinham de longe para prestigiá-lo.



A gestão do planetário teve apenas duas gestões produtivas: do prof.Orsini e a do prof. irineu. O Planetário do Ibirapuera, bem como a Escola Municipal de Astrofísica depois dessas grandes gestões foi abandonado e sucateado durante as gestões que se seguiram.



Eu me lembro, que os monitores eram estudantes da EMA que VOLUNTARIAMENTE ficavam na sala de espera e nos salões do museu de astronomia antes das sessões, uniformizados garbosamente com aventais brancos de professor, a responder todas e quaisquer perguntas sobre astronoimia feitas pelo público visitante. - Se alguma pergunta não estivesse ao alcanse de nosso conhecimento, recorríamos imediatamente aos nossos mestres e retornávamos com a resposta ao solicitante.



Nas noites claras, colocávamos telescópios na porta do planetário, onde se formava filas de pessoas que observavam algum corpo celeste sob nossa orientação de monitor.



Essas tarefas eram realizadas de forma voluntária e militante por nos,... coisa que nos dava calor ás nossas vocações de astrônomos amadores e que hoje não vemos mais nessas casas.



Falar da história do Planetário é falar da vida científica dessa cidade, que ao lado do observatório da Água funda (também sucateado), traz lembranças de um tempo em que os poderes públicos se preocupavam com a educação de nosso povo.



Com saudade

*Francisco Pereira (Chico Lobo)

astronomo amador

Sonoplasta, produtor cultural e radialista.

(11) 2157-8182

(11) 9613-1986





Observações atuais em junho de 2008

por Chico Lobo



Ser expositor de um Planetário, requer além de um profundo conhecimento em astronomia, tambem conhecimentos sobre a arte dramática, locução, sonoplastia e produção de espetáculo cênico e radiofônico.



Alem de outras funções óbvias, o planetário em si tem por incumbência APAIXONAR o público leigo para o estudo da astronomia, e para isso é preciso trabalhá-lo com arte, e com muita informação consistente, feitas de forma acesivel ao público e com a estética da majestosidade do próprio cosmo.



Para isso, o expositor precisa ser absolutamente VOCACIONADO para essa tarefa, ter conhecimento das ciencias e das artes da comunicação ao mesmo tempo.



Infelizmente isso não anda acontecendo nos planetários municipais de São Paulo. Seus expositores estão sendo contratados por meros concursos frios de solicitações técnicas e tão somente. Não se está levando a VOCAÇÃO de seus concursantes, nem mesmo está havendo o preparo necessário dos mesmos.



O preenchimento de cargos hoje se dá apenas pela necessidade formal administrativa de preenchê-los com funcionários contratados pela prefeitura e mais nada.



O trabalho dos planetários hoje se resumem em meramente "funcionar" administrativamente, sem nenhum compromisso vocacionado.



Quem não conheceu o trabalho do planetário do ibirapuera nas décadas de 60, 70 e 80, até pode "engolir" o que está sendo feito hoje, mas quem o conheceu naquelas décadas sabe do desnivel que ele passa hoje, apesar de termos agora equipamento muitíssimo mais sofisticado daquele que dispunhamos naquela época.



Nesse sentido, comento que no passado não dispunhamos de nenhum equipamento mais sofisticado alem daquele projetor ZEISS(bastante ultrapassado) para realizar nosso trabalho, tinhamos que improvisar tecnicas de iluminação e projeções para criarmos os efeitos desejados para tudo o que queriamos mostrar: por do sol, alvorada, ciclorama 360°, enfim era tudo criado "na unha" com a mais absoluta criatividade de seus tecnicos e operadores.



Hoje, os equipamentos projetores ZEISS que dispõem os planetários paulistanos são todos noderníssimos com controles digitais em periféricos de computadores, softwears sofisticadíssimo, projeções laser, e uma série enorme de recursos técnicos MUITO MAL APROVEITADOS. - Não há mais a criatividade expontãnea de seus operadores, foi suprimida a função do sonoplasta e do próprio expositor. As narrações são friamente pré-gravadas sem nenhum calor dramático e consequentemente sem nenhuma preocupação de fazer o público se apaixonar pela matéria, tudo feito sem nenhuma vocação ou uso de princípios que outrora presamos.



Aproveito a oportunidade de lembrar nomes de pioneiros que realmente merecem ser citados nesse texto pelo magnifico trabalho e dedicação que tiveram no planetário do ibirapuera:



Professor Aristóteles Orsini (já falecido) foi o idealizador do projeto que causou a instalação do planetário em São Paulo, foi tambem seu primeiro diretor e quem deu as bases sólidas do modus-operandi daquela casa.



Professor Irineu Gomes Varela - sucessor do prof orsini na direção da casa nos anos que se seguiram, grande colega, atuante, que fez de sua vida, desde a tenra idade um elo efetivo com o planetário



Professor Elias, outro grande militante que muito colaborou na consistencia e na manutenção da qualidade do trabalho do planetário



Professor Acácio Riberi - que apesar de ser cego, foi um dos melhores professores de cosmologia que já tive, dotado de dom e vocação para o ensino da astronomia, fazia seu sacerdócio com competencia e conteúdo.



Walter Augusto Sevo - (já falecido) foi o expositor que mais trouxe contribuição á forma de fazê-la, na dramaticidade de sua interpretação, aliada ao grande conhecimento que possuia sobre o tema. Era nosso espelho, alguem que nos causava orgulho em tê-lo como membro da casa.



Enfim, não dá para citar todos, eu me perderia,,, mas há uma grande lista de colegas que formavam a elite da astronomia amadora em nossa cidade e que devem ser lembrados com carinho por cada cidadão que frequentou o planetário do Ibirapuera.



Chico Lobo



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